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Campanhas de financiamento coletivo em favor do exército expõem problemas da Rússia na Ucrânia

Cidadãos russos têm se mobilizado para ajudar a equipar as tropas do país na guerra em curso na Ucrânia. São civis que se unem, muitas vezes através de campanhas de financiamento coletivo, para comprar itens básicos, como medicamentos, uniformes, sacos de dormir e até absorventes internos, que são usados para estancar o sangramento em ferimentos a bala. Essa situação evidencia antigos problemas do governo russo, especialmente a corrupção, e compromete a manutenção das forças armadas após mais de sete meses de conflito. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

A Rússia teve o quinto maior orçamento militar do mundo em 2021, com US$ 65,9 bilhões investidos em suas forças armadas, de acordo com o site Statista. Fica atrás apenas de EUA (US$ 801 bilhões), China (US$ 293 bilhões), Índia (US$ 76,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 68,4 bilhões). Ainda assim, as forças russas têm se mostrado mal equipadas e despreparadas para enfrentar a Ucrânia, que no ano passado teve um orçamento militar de US$ 5,94 bilhões.

Na comparação com Kiev, pesa contra Moscou o suporte ocidental, fundamental para os ucranianos conseguirem resistir ao inimigo por tanto tempo, tendo inclusive realizado uma contraofensiva que levou à reconquista de milhares de quilômetros quadrados de território nas últimas semanas. Entretanto, especialistas apontam outras fontes para a falta de equipamentos dos russos. Com destaque para a corrupção endêmica no país.

Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)

“Há coisas como meias, equipamentos básicos que os soldados russos deveriam ter, mas não têm. E isso remete a uma cultura de corrupção que parece vir de cima”, afirma Sam Cranny-Evans, analista militar do think tank londrino Royal United Services Institute (RUSI), focado em defesa e segurança.

O RUSI já havia aletrado para o problema em um relatório publicado em maio: “Parece que a corrupção continua a ser um problema para as forças armadas russas. Ocorre de cima para baixo, levando à escassez de habilidades e equipamentos e, finalmente, à redução do desempenho em combate”. 

O relatório cita um caso envolvendo o colete à prova de balas modelo 6B45, item básico entre as forças terrestres da Rússia e que diz proteger contra tiros de um fuzil Kalashnikov disparados a até dez metros de distância. Embora seja parte do programa estatal Ratnik, que em 2012 foi projetado para introduzir equipamentos pessoais comuns em todas as forças terrestres russas, o colete jamais chegou aos militares. Mas podia ser comprada em um site russo por algo entre US$ 200 (R$ 1 mil) e US$ 250 (R$ 1,3 mil).

“A corrupção é endêmica na Rússia e é generalizada em seu setor industrial de defesa e forças armadas. Evidências da Ucrânia sugerem que está custando vidas russas”, afirma o relatório do RUSI.

Exército moderno?

Campanhas de financiamento coletivo direcionadas a exércitos não são incomuns, segundo Ben Hodges, ex-general que liderou as forças dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Mas, diferente do que ocorre com os militares da Rússia, habitualmente elas se destinam a obter itens não essenciais. “É inaceitável que um exército moderno não tenha drones, imagens térmicas e geradores”, disse ele. 

Um grupo civil que realiza campanha impulsionada pela rede social russa VK, versão local do Facebook, endossa o argumento de Hodges. “Os combatentes pediram uma estação meteorológica e barômetro, um drone, um gerador a diesel, coletes à prova de balas, dez [peças de] rede de camuflagem, uma cama de acampamento, 15 lotes de roupas de inverno e 200 sacos de polipropileno”, diz o texto.

A guerra tem se estendido por um prazo bem superior ao inicialmente projetado por Moscou, que esperava uma campanha rápida. Nesse cenário, também contribui para o desabastecimento o aumento nos preços de equipamentos militares, bem como as sanções lideradas pelos EUA e pela União Europeia (UE) que cortaram o acesso dos russos a fornecedores militares e à rede de comércio global, de modo geral.

O colete 6B45 vem sendo vendido na Rússia por 40 mil rublos, o equivalente a US$ 660 (R$ 3,4 mil). Na internet, é possível encontrá-lo por cerca de US$ 300 (R$ 1,6 mil), menos da metade do preço. Os russos, porém, não mais conseguem fazer compras online em sites estrangeiros, um efeito direto das sanções.

Alguns grupos, inclusive, relatam que determinados itens não estão mais disponíveis para a compra. “Devido à mobilização, tudo o que gostaríamos de comprar para os próximos carregamentos esgotou catastroficamente” disse nesta quinta-feira (6) o Help For Soldiers. “Decidimos comprar o maior número possível de roupas quentes enquanto ainda estão disponíveis”.

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Campanhas de financiamento coletivo em favor do exército expõem problemas da Rússia na Ucrânia

Cidadãos russos têm se mobilizado para ajudar a equipar as tropas do país na guerra em curso na Ucrânia. São civis que se unem, muitas vezes através de campanhas de financiamento coletivo, para comprar itens básicos, como medicamentos, uniformes, sacos de dormir e até absorventes internos, que são usados para estancar o sangramento em ferimentos a bala. Essa situação evidencia antigos problemas do governo russo, especialmente a corrupção, e compromete a manutenção das forças armadas após mais de sete meses de conflito. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

A Rússia teve o quinto maior orçamento militar do mundo em 2021, com US$ 65,9 bilhões investidos em suas forças armadas, de acordo com o site Statista. Fica atrás apenas de EUA (US$ 801 bilhões), China (US$ 293 bilhões), Índia (US$ 76,6 bilhões) e Reino Unido (US$ 68,4 bilhões). Ainda assim, as forças russas têm se mostrado mal equipadas e despreparadas para enfrentar a Ucrânia, que no ano passado teve um orçamento militar de US$ 5,94 bilhões.

Na comparação com Kiev, pesa contra Moscou o suporte ocidental, fundamental para os ucranianos conseguirem resistir ao inimigo por tanto tempo, tendo inclusive realizado uma contraofensiva que levou à reconquista de milhares de quilômetros quadrados de território nas últimas semanas. Entretanto, especialistas apontam outras fontes para a falta de equipamentos dos russos. Com destaque para a corrupção endêmica no país.

Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)

“Há coisas como meias, equipamentos básicos que os soldados russos deveriam ter, mas não têm. E isso remete a uma cultura de corrupção que parece vir de cima”, afirma Sam Cranny-Evans, analista militar do think tank londrino Royal United Services Institute (RUSI), focado em defesa e segurança.

O RUSI já havia aletrado para o problema em um relatório publicado em maio: “Parece que a corrupção continua a ser um problema para as forças armadas russas. Ocorre de cima para baixo, levando à escassez de habilidades e equipamentos e, finalmente, à redução do desempenho em combate”. 

O relatório cita um caso envolvendo o colete à prova de balas modelo 6B45, item básico entre as forças terrestres da Rússia e que diz proteger contra tiros de um fuzil Kalashnikov disparados a até dez metros de distância. Embora seja parte do programa estatal Ratnik, que em 2012 foi projetado para introduzir equipamentos pessoais comuns em todas as forças terrestres russas, o colete jamais chegou aos militares. Mas podia ser comprada em um site russo por algo entre US$ 200 (R$ 1 mil) e US$ 250 (R$ 1,3 mil).

“A corrupção é endêmica na Rússia e é generalizada em seu setor industrial de defesa e forças armadas. Evidências da Ucrânia sugerem que está custando vidas russas”, afirma o relatório do RUSI.

Exército moderno?

Campanhas de financiamento coletivo direcionadas a exércitos não são incomuns, segundo Ben Hodges, ex-general que liderou as forças dos EUA no Iraque e no Afeganistão. Mas, diferente do que ocorre com os militares da Rússia, habitualmente elas se destinam a obter itens não essenciais. “É inaceitável que um exército moderno não tenha drones, imagens térmicas e geradores”, disse ele. 

Um grupo civil que realiza campanha impulsionada pela rede social russa VK, versão local do Facebook, endossa o argumento de Hodges. “Os combatentes pediram uma estação meteorológica e barômetro, um drone, um gerador a diesel, coletes à prova de balas, dez [peças de] rede de camuflagem, uma cama de acampamento, 15 lotes de roupas de inverno e 200 sacos de polipropileno”, diz o texto.

A guerra tem se estendido por um prazo bem superior ao inicialmente projetado por Moscou, que esperava uma campanha rápida. Nesse cenário, também contribui para o desabastecimento o aumento nos preços de equipamentos militares, bem como as sanções lideradas pelos EUA e pela União Europeia (UE) que cortaram o acesso dos russos a fornecedores militares e à rede de comércio global, de modo geral.

O colete 6B45 vem sendo vendido na Rússia por 40 mil rublos, o equivalente a US$ 660 (R$ 3,4 mil). Na internet, é possível encontrá-lo por cerca de US$ 300 (R$ 1,6 mil), menos da metade do preço. Os russos, porém, não mais conseguem fazer compras online em sites estrangeiros, um efeito direto das sanções.

Alguns grupos, inclusive, relatam que determinados itens não estão mais disponíveis para a compra. “Devido à mobilização, tudo o que gostaríamos de comprar para os próximos carregamentos esgotou catastroficamente” disse nesta quinta-feira (6) o Help For Soldiers. “Decidimos comprar o maior número possível de roupas quentes enquanto ainda estão disponíveis”.

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