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Arthur do Val vai à Justiça para que Conselho de Ética faça perícia nos áudios vazados; ex-namorada confirmou veracidade à Alesp

Em depoimento na terça (5), Giulia Blagitz disse na Alesp que soube dos áudios pelo próprio deputado, que ligou para ela chorando e contando do vazamento das conversas. Defesa do deputado argumenta que perícia é necessária ‘para verificar se falas contém cortes e edições’. O deputado Arthur do Val (União Brasil) durante evento na Alesp.
Divulgação/Alesp
O deputado estadual Arthur do Val (União Brasil) ingressou nesta quarta-feira (6) na Justiça de São Paulo com um mandado de segurança solicitando que os áudios usados no processo que corre contra ele no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) sejam submetidos a uma perícia técnica que ateste possíveis edições ou alterações.
O mandado judicial foi protocolado pelo advogado do deputado, Paulo Henrique Franco Bueno, que argumenta que nenhuma das 21 representações ingressadas no colegiado “se lastreiam nas mensagens originais enviadas, sendo possível que as falas possam conter cortes e edições”.
“Somente uma perícia técnica poderia verificar se os áudios privados “vazados” de forma ilícita não foram ampliados, unidos, cortados, editados, reorganizados e/ou se não tiveram seu conteúdo alterado de qualquer forma e por qualquer meio”, disse o advogado.
Perícia negada pela Alesp
O pedido de perícia do material já tinha sido recusado por unanimidade pelos nove deputados que formam o Conselho de Ética da Alesp na última reunião do colegiado, na terça-feira (5), após o depoimento da ex-namorada de Arthur do Val.
No depoimento, a enfermeira Giulia Blagitz, que namorou o parlamentar por três anos, afirmou que o próprio Arthur do Val ligou para ela chorando, antes de sair da Europa, e contou do vazamento para a imprensa das conversas dele em um grupo de amigos.
“Ele, antes de entrar no avião [de volta ao Brasil após viagem à Ucrânia], me ligou chorando e disse que os áudios iriam pra imprensa. Explicou o que tinha nos áudios e me enviou os áudios”, afirmou Blagitz.
Arthur do Val durante discurso na Alesp, em São Paulo, e Giulia Passos Blagitz, ex-namorada do deputado, em depoimento
Divulgação/Alesp / Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
A ex-namorada também disse que, após a chegada do deputado ao Brasil, o casal se encontrou, e o parlamentar voltou a confirmou o conteúdo dos áudios vazados.
“Nós nos encontramos, e eu toquei os áudios na frente dele, a gente conversou sobre os áudios”, afirmou.
Os membros do Conselho de Ética entenderam, então, que não havia necessidade de perícia dos áudios, uma vez que, além da ex-namorada, o próprio Arthur do Val confirmou à imprensa que foi mesmo o autor das falas machistas e misóginas contras as mulheres ucranianas.
Para o advogado Paulo Henrique Franco Bueno, porém, “a prova oral [ os áudios] é necessária para dirimir todos os detalhes fáticos que envolvem o caso”.
“Ainda que o denunciado tenha reconhecido que enviou mensagens privadas a um grupo privado do Whatsapp – e que algumas passagens são mesmo vergonhosas, a despeito de não serem suficientemente graves para culminar com a cassação de seu mandato –, não há nos autos do processo administrativo/disciplinar qualquer prova técnica que ateste a integridade, exatidão e originalidade dos áudios”, argumenta Franco Bueno.
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Retomada do depoimento das testemunhas
No mandado de segurança, o advogado do deputado também pede que o Conselho de Ética retome os depoimentos das dez testemunhas de defesa que Arthur do Val havia arrolado no processo do colegiado. Na reunião da terça (5), apenas duas delas estiveram presentes na Alesp e foram ouvidas pelos deputados.
Após as duas oitivas, os parlamentares também decidiram por unanimidade que não havia necessidade de ouvir mais testemunhas. Eles consideraram que os dez nomes apresentados pela defesa eram apenas “uma manobra protelatória de Arthur do Val para atrasar a conclusão do processo”.
Para a defesa do deputado, contudo, ao ouvir apenas duas testemunhas do acusado, indeferir a oitiva das oito demais e indeferir a perícia dos áudios, o Conselho de Ética encerrou a instrução processual, em patente a afronta ao direito constitucional à ampla defesa”.
“Em nenhum momento foi conferida ao Impetrante a oportunidade de depor para se defender em depoimento pessoal quanto aos fatos ilícitos que lhe estão sendo imputados. (…) Portanto, pela narração dos fatos, fica evidente que houve cerceamento do direito de defesa do Impetrante, ofensa ao princípio do contraditório e desrespeito ao devido processo legal, o que tornam nulos todos os atos praticados após a reunião do Conselho realizada no dia 5 de abril”, disse o advogado do deputado.
O g1 procurou a presidente do Conselho de Ética, deputado Maria Lúcia Amary (PSDB), que afirmou por meio do gabinete de que soube do pedido de mandado de segurança apenas pela mídia e que ainda não foi notificada pela Justiça.
Nesta quinta-feira (7), o relator do processo com os 21 pedidos de cassação do mandato de Arthur do Val no Conselho de Ética, delegado Olim (PP), deve apresentar o relatório dele no caso, apontando a punição que considera mais adequada no caso.
O deputado delegado Olim (PP) ao lado de Arthur do Val (União Brasil) em evento na Alesp.
Divulgação/Alesp
É papel do relator decidir qual a pena mais adequada no caso ao parlamentar. A pena pode ir de simples advertência até a cassação definitiva do mandato.
Após a apresentação do parecer no conselho, os nove membros do colegiado votarão se aceitam ou não a punição estabelecida pelo relator.
Processo de cassação
O Conselho de Ética da Alesp aprovou, por unanimidade, em 18 de março, a abertura do processo contra o deputado Arthur do Val, que pode gerar a cassação do mandato do parlamentar.
Ele é alvo no colegiado de 21 representações pedindo a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar após dizer frases sexistas contra mulheres refugiadas ucranianas.
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O parlamentar entregou a defesa prévia ao conselho dizendo que não pode ser punido por áudios “vazados ilicitamente” de conversas privadas dele no aplicativo WhatsApp.
Nos áudios, o deputado diz, entre outras coisas, que as “ucranianas são fáceis porque são pobres”.
Ao pedir a inadmissibilidade das representações, o advogado do deputado também alegou que há “extraterritorialidade do ato supostamente ilícito praticado”, já que os áudios foram feitos na Ucrânia, o que “afasta a competência jurídica do Colegiado para processar e julgar o acusado com base nas leis brasileiras”.
Reunião do Conselho de Ética da Alesp
Pedro Santana/Alesp
“É juridicamente impossível o pedido de perda de mandato de parlamentar licenciado, uma vez que as normas regimentais preveem que a quebra de decoro parlamentar somente se dá ‘no desempenho do mandato’”, declarou a defesa.
Na época da viagem à Ucrânia, Do Val tinha pedido dois dias de licença não remunerada para a Mesa Diretora da Alesp.
Tramitação do processo
Os nove deputados que integram o Conselho de Ética da Alesp decidiram transformar as 21 representações recebidas em um único processo.
Após a entrega da defesa prévia, o Conselho voltou a se reunir na tarde desta terça-feira (5) para deliberar e abriu o processo de cassação e ouvir dez testemunhas dele no caso.
A presidente do Conselho de Ética, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), já formalizou que o deputado Delegado Olim (PP) é o relator do caso no colegiado.
Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, no g1, em 10 de março, Olim já tinha declarado que ‘ninguém vai passar a mão na cabeça’ de Arthur do Val no Conselho de Ética da Casa.
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Logo depois da aprovação pelos membros do Conselho de Ética do relatório do delegado Olim, o processo vai para votação no plenário da Casa em forma de projeto de lei.
Para que uma punição seja aplicada em Arthur do Val, pelo menos 48 deputados (maioria simples) precisam votar favorável ao projeto. 
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O que dizem os áudios?
Nos áudios, que circulam nas redes sociais desde a noite desta sexta (4) e teriam sido enviados para um grupo de amigos do parlamentar, há declarações machistas e misóginas.
“São fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade. Essas ‘minas’ em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara e aqui são super simpáticas”, diz o áudio
As declarações teriam sido feitas durante viagem à Ucrânia. Ele disse ter viajado para enviar doações para refugiados ucranianos após a invasão da Rússia ao país.
Nos áudios, o deputado estadual também teria comparado a fila de refugiadas à fila de uma balada.
“Acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Sem noção, inacreditável, é um bagulho fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui.”
Em outro trecho, o áudio diz: “Passei agora quatro barreiras alfandegárias, duas casinhas pra cada país. Eu contei, são doze policiais deusas. Que você casa e faz tudo que ela quiser. Eu estou mal cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram ‘minas’ que você se ela cagar você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá”.
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O que o deputado disse sobre os áudios?
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, na manhã deste sábado (5), o deputado estadual confirmou que são seus os áudios.
Inicialmente, ele disse que “houve um mal entendido” e que as “pessoas estão misturando os áudios com outro contexto”.
“Foi errado o que eu falei, não é isso que eu penso. O que eu falei foi um erro, em um momento de empolgação”, disse ele.
Depois, o deputado gravou um vídeo no qual declarou que suas frases foram “machistas” e “escrotas” e afirmou que se comportou “como um moleque” ao responder a perguntas de amigos em um grupo de conversas entre parceiros do futebol.
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“Eu só quero que as pessoas me julguem pelo que eu fiz, não pelo que eu não fiz”, disse o deputado.
Segundo Arthur do Val, os áudios não foram enviados a grupos “de política” e ele já estava na Eslováquia, quando teve acesso a internet, ao enviá-los.
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