Cercada por russos, fábrica subterrânea em Mariupol abriga mais de mil civis entrincheirados
Os últimos resistentes ucranianos em Azovstal, do batalhão nacionalista Azov e da 36ª brigada de Infantaria Naval, se recusam a se render. Fumaça acima da siderúrgica Azovstal e os portões destruídos do estaleiro Azov, em imagens de 19 de abril
Câmara Municipal de Mariupol / via AFP Photo
O complexo siderúrgico e metalúrgico Azovstal em Mariupol (sudeste), às margens do Mar de Azov, é o último foco de resistência dos combatentes ucranianos contra o exército russo, que ataca e sitia a cidade ucraniana desde o início de março. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta quinta-feira (21) que o local fosse cercado, “para que nem uma mosca passasse” – mas desistiu, pelo menos por ora, de invadir o complexo industrial, que possui quilômetros de galerias subterrâneas.
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Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “cerca de mil civis, mulheres e crianças” e “centenas de feridos” se refugiaram na enorme fábrica, junto com os combatentes. Os últimos resistentes ucranianos em Azovstal, do batalhão nacionalista Azov e da 36ª brigada de Infantaria Naval, se recusam a se render e pedem “ajuda” da comunidade internacional para serem retirados, tendo os civis como prioridade.
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“É uma cidade dentro da cidade, e há vários níveis subterrâneos do período soviético. Não é possível bombardear de cima, você tem que limpar o subsolo. Vai levar tempo”, explicou no início de abril Edward Basurin, representante das forças separatistas russas em Donetsk.
O combate no local significa uma área de vários quilômetros quadrados pontuada por ferrovias, armazéns, fornos e chaminés, além de vários quilômetros de túneis. Em imagens de drones divulgadas domingo (17) pela agência estatal russa Ria Novosti, era possível ver um conjunto de prédios completamente destruídos, alguns ainda fumegantes.
Fábrica soviética da década de 1930
As origens do complexo remontam à década de 1930, segundo a história descrita no site do Azovstal. Em 2 de fevereiro de 1930, o Conselho Supremo de Economia Nacional, que administrava a política econômica da antiga União Soviética (URSS), decidiu construir uma nova siderúrgica em Mariupol.
Em 1933, começou a produção de ferro no local e, dois anos depois, a de aço. Em 7 de outubro de 1941, logo após a invasão da URSS pelo exército alemão, a produção foi interrompida. Os últimos funcionários presentes deixaram a indústria no dia seguinte.
Dois anos depois, em 7 de setembro de 1943, o exército da Alemanha nazista explodiu todas as instalações, deixando o local em ruínas. As siderúrgicas, no entanto, foram rapidamente reconstruídas após a partida dos alemães.
Uma das maiores siderúrgicas da Europa
Em 2006, o Azovstal foi comprado pelo grupo Metinvest, controlado pelo homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov. Anteriormente rotulado como pró-Rússia, o oligarca ucraniano denunciou em março “crimes contra a humanidade” perpetrados por Moscou e prometeu não deixar a Ucrânia.
Antes da invasão russa em 24 de fevereiro, o Azovstal produzia 5,7 milhões de toneladas de ferro, 6,2 milhões de toneladas de aço e 4,7 milhões de toneladas de laminados ao ano, conforme o próprio complexo informa, o que faz dele torna uma das maiores siderúrgicas da Europa.
Retirada de civis
Enquanto isso, três ônibus com civis procedentes de Mariupol, quase inteiramente controlada pela Rússia, chegaram a Zaporizhia nesta quinta-feira (21), uma grande cidade no sudeste da Ucrânia. Um jornalista da AFP acompanhou a viagem e viu mulheres e crianças nos veículos, conduzidos por um corredor humanitário acertado após vários dias de combates.
Pela manhã, quatro ônibus lotados de civis conseguiram sair da cidade portuária pela manhã, mas não se pode confirmar que os veículos que chegaram esta tarde fazem parte desse comboio. Percorrer os 200 quilômetros entre o porto e Zaporizhia pode levar vários dias, devido aos inúmeros postos de controle instalados ao longo do trajeto.
Esta manhã, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que Mariupol está agora sob controle russo. Mas o presidente americano, Joe Biden, considerou “questionável” a afirmação de que a Rússia assumiu a cidade.
“Ainda não há provas de que Mariupol caiu por completo”, alegou. “A Rússia nunca terá sucesso na ocupação da Ucrânia”, insistiu o presidente americano.
Nova ajuda militar americana à UcrâniaPara continuar oferecendo ajuda militar à Ucrânia, Biden disse que solicitará recursos adicionais ao Congresso dos Estados Unidos. O presidente anunciou uma ajuda militar adicional de US$ 800 milhões para a Ucrânia.
O pacote inclui “armas de artilharia pesada, dezenas de obuses, 144 mil munições e 121 drones táticos Phoenix Ghost”, informou a Casa Branca. Este novo tipo de drone assassino “foi desenvolvido rapidamente pela Força Aérea dos Estados Unidos para responder a solicitações específicas da Ucrânia”, disse um funcionário de alto escalão do Departamento da Defesa.
As primeiras armas deste novo pacote chegarão à Ucrânia até domingo, afirmou outra fonte do Pentágono, também sob anonimato. “Agora estamos em um período crítico em que vão preparar o terreno para a próxima fase desta guerra”, declarou Biden, a respeito da Rússia. O governo dos Estados Unidos e seus aliados estão atuando “o mais rápido possível” para seguir proporcionando à Ucrânia “as armas de que suas forças precisam”, completou.
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