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Entenda como falsos entregadores de aplicativo usam mochilas de entrega para cometer crimes em SP

Motoboys denunciam esquema de venda e aluguel de mochilas de entrega e também de contas nos principais aplicativos de delivery. Governo diz que vai anunciar estratégias de combate a esse tipo de crime até 4 de maio. Associação de restaurantes pede mochila com número de registro. Mulher é assaltada por quatro homens em duas motos
A região metropolitana de São Paulo registrou, nas últimas semanas, uma onda de crimes cometidos por falsos entregadores de delivery. Em uma rua no Jabaquara, na Zona Sul da capital, um assaltante com uma mochila de aplicativo de entrega atirou no jovem Renan Loureiro, que morreu no local na segunda-feira (25). Em Pinheiros, na Zona Oeste, câmeras de segurança flagraram na última sexta (22) dois roubos cometidos por falsos entregadores no mesmo local.
Após latrocínio, governador de SP diz que vai convidar aplicativos para debater
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Os criminosos usam as mochilas, obtidas muitas vezes em grupos nas redes sociais, para não chamar a atenção das vítimas. O aumento deste tipo de crime provocou reações entre associações de entregadores, que demandam que a atividade seja mais regulamentada, e entre donos de restaurantes, que pedem que os aplicativos tomem medidas contra a ação de criminosos.
Já o poder público afirma que vai convidar aplicativos para debater e, segundo o governador de São Paulo, desenvolver estratégias para “justamente prender bandido que se disfarça de operador de aplicativo”.
Entenda, abaixo, como funciona a ação dos falsos entregadores:
Como os falsos entregadores agem?
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Os criminosos usam mochilas de entrega para se disfarçar e não chamar a atenção das vítimas. O acessório também ajuda os assaltantes na fuga, já que eles se misturam com centenas de outros motoqueiros de mochila que circulam pelas ruas. Eles atuam, na maioria dos casos, abordando pedestres, e visam principalmente o roubo de celulares.
Além dos roubos, há ainda casos de latrocínio, que é o roubo seguido de morte. Foi o caso do falso entregador que matou o jovem Renan Loureiro em uma rua no Jabaquara.
Bag de entrega e revólver encontrados na casa de suspeito de matar jovem em assalto
Polícia Civil/divulgação
Além desses crimes, há relatos também de golpes durante a entrega dos pedidos. Nestes casos, os falsos entregadores muitas vezes alugam contas nos principais apps ou burlam os sistemas de verificação de identidade das empresas.
Em um dos golpes mais populares, criminosos usam maquininhas de cartão de crédito com o visor quebrado ou adulterado, e inserem valores maiores do que o do pedido. Com a tela quebrada, o cliente não consegue verificar quanto está pagando.
Como os entregadores obtêm as mochilas ou as contas nos aplicativos?
Mochilas de entregadores na calçada no interior do estado de São Paulo
Reprodução/EPTV
Motofretistas denunciam que existe um comércio de mochilas de entrega em grupos nas redes sociais. As empresas, no entanto, destacam que o uso das mochilas com o logo não é obrigatório e não é um critério para identificar os entregadores.
“É importante ressaltar que a despeito de ser necessária uma bag para fazer entregas com o aplicativo, não há a exigência de uso da bag com o logo. Portanto, o fato de uma pessoa estar utilizando uma bag com a marca do iFood não significa que esteja fazendo uma entrega pela plataforma ou ainda que possua cadastro nesta”, diz a empresa iFood, em nota.
Em algumas ações promocionais, o iFood distribui mochilas com o logotipo da empresa, além de jaquetas, mas apenas para entregadores que já fazem delivery pela plataforma, ou seja, que já começaram a fazer entregas com seu próprio equipamento.
O comércio de mochilas, portanto, não é ilegal, e pode ser uma alternativa para os entregadores sérios que querem iniciar na plataforma. No entanto, a compra das bags também pode ser feita por assaltantes que querem usar o acessório para se disfarçar.
Já os criminosos que aplicam golpes precisam obter, além da mochila, o acesso às plataformas de delivery. Para isso, eles alugam contas de terceiros ou burlam os sistemas de identificação dos apps, segundo denúncias de entregadores.
Até mesmo a verificação da identidade do entregador por reconhecimento facial, que é adotada por alguns apps, é burlada pelos falsos entregadores, segundo vídeos que circulam nas redes sociais. As imagens mostram pessoas usando fotos impressas de outros entregadores na frente de seus próprios rostos, de modo a “enganar” o sistema de reconhecimento facial.
O que querem as associações de entregadores e de restaurantes?
Rua do bairro de Pinheiros tem assaltos no mesmo dia e local
O aumento de crimes cometidos por falsos entregadores afeta também os trabalhadores que fazem entregas por aplicativo, que acabam sendo vítimas de preconceito e podem ser confundidos com assaltantes.
Para a Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), é preciso que a profissão seja mais bem regulamentada. A entidade defende que as entregas sejam feitas apenas pelos motociclistas que possuem cadastro na prefeitura.
“Toda essa onda de crimes poderia ser evitada se o poder público fizesse funcionar a lei 14.491/07, do motofrete, que exige o uso de um cadastro na prefeitura e um baú na moto com a identificação do número cadastro da prefeitura e placa da moto. A placa das motos dos motofretistas regularizados são vermelhas”, diz a entidade.
Já a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel – SP) tomou a iniciativa de pedir ao iFood que providencie uma forma de identificação nas mochilas térmicas que os entregadores carregam nas costas.
Para a associação, um número de registro na mochila poderia ajudar a identificar os verdadeiros entregadores e também rastrear quem vendeu, perdeu ou teve roubado o acessório.
A entidade também procurou a Secretaria Estadual de Segurança Pública em março para relatar o uso indevido das mochilas de aplicativo por criminosos disfarçados e pedir medidas para coibir este tipo de crime.
O que dizem a polícia e o governo?
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves.
Reprodução/GESP
Indicado pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), como novo delegado-geral da Polícia Civil do Estado, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves disse que um dos objetivos da sua gestão é combater os crimes cometidos por motociclistas em SP.
A razão principal da troca nos comandos da polícia, segundo Garcia, é frear o crescimento da violência no estado de São Paulo. Em março, o número de roubos, furtos e homicídios cresceu no estado em comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com os dados mensais da própria Secretaria da Segurança Pública (SSP). Os furtos em geral tiveram aumento de 52%, de 33.237 para 50.467, e roubos em geral subiram 22%: de 16.951 para 20.719.
Segundo o governador, o estado vai anunciar, em 4 de maio, estratégias para “justamente prender bandido que se disfarça de operador de aplicativo”.
Governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em evento no Poupatempo nesta terça feira, (24)
ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
“Estou convidando todos os aplicativos, iFood, Rappi, para que eles possam nos ajudar no combate à criminalidade. Não adianta nós termos um novo momento na sociedade e achar que a própria polícia vai resolver tudo. Eu quero, sim, o apoio desses aplicativos, pra juntos a gente entender e compreender como vivem os operadores desses aplicativos e também separar o joio do trigo nesse momento”, disse o governador.
“Tem várias ideias sendo colocadas na mesa, eu não quero apresentar aqui para não parecer precipitado, para que no dia 4 [de maio] a gente apresente essa estratégia, as operações que a gente vai começar justamente pra prender bandido que se disfarça de operador de aplicativo. Esse é o grande objetivo do estado de São Paulo”, completou Garcia.
O que dizem as empresas de aplicativo?
8 de setembro – Entregadores de aplicativos fazem protesto em frente à Câmara Municipal de São Paulo
Celso Tavares/G1
Em nota, as duas principais empresas de entrega de comida por aplicativo, o iFood e a Rappi, disseram que estão colaborando com as autoridades para coibir os crimes cometidos por falsos entregadores.
Veja abaixo as notas completas das empresas:
iFood
“O iFood entende que é importante a união de esforços e está sempre à disposição para colaborar com as autoridades de segurança pública. A empresa também tem avançado no processo de escuta ativa por meio de aproximações com associações de bairro.
Para se cadastrar na plataforma, é preciso ter mais de 18 anos e incluir os dados e documentos solicitados, que variam de acordo com o veículo de entrega escolhido: moto, bicicleta ou carro. Todos os dados e os documentos são verificados – incluindo a utilização de tecnologia OCR que permite verificar se a pessoa da foto é a mesma pessoa do documento apresentado. Também possuímos uma ferramenta de reconhecimento facial que é ativada periodicamente como uma medida de segurança para coibir o aluguel e empréstimo da conta.
Caso seja confirmado que o cadastro do entregador esteja sendo utilizado para prática de atividades ilícitas ou descumprindo o Termo de Uso da Plataforma, as providências cabíveis serão tomadas imediatamente.
É importante ressaltar que a despeito de ser necessário uma bag para fazer entregas com o aplicativo, não há a exigência de uso da bag com o logo. Portanto, o fato de uma pessoa estar utilizando uma bag com a marca do iFood não significa que esteja fazendo uma entrega pela plataforma ou ainda que possua cadastro nesta.
O iFood também mantém um time dedicado à investigação e prevenção a fraudes, visando minimizar e combater de forma preventiva qualquer tipo de golpe e demais prática de atividades ilícitas As denúncias recebidas contribuem para o trabalho de prevenção, que envolve o uso de dados para prever esse tipo de comportamento criminoso e promover ações para evitá-lo sempre que possível. Sempre que pertinente, o iFood encaminha as denúncias para apuração pelas autoridades competentes, bem como coopera sempre que requisitado.”
Rappi
“O Rappi condena os criminosos que se passam por entregadores para cometer delitos. A empresa já se reuniu com a Secretaria Estadual de Segurança Pública para cooperar na busca por soluções desse grave problema de segurança pública.
O Rappi ressalta que todos os entregadores independentes que atuam em sua plataforma passam por processo formal e rigoroso de cadastramento, o que inclui fotos, documentos pessoais e outros dados comprobatórios, além verificação de segurança a partir de fonte de dados públicos, para que todas as partes – o usuário, o próprio entregador e o Rappi – façam parte de um ecossistema seguro.”
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