RÁDIO BPA

TV BPA

Guerra na Ucrânia: qual o potencial risco do uso de armas nucleares?

A Rússia tem muitas armas nucleares táticas. De acordo com o Boletim dos Cientistas Atômicos, há 1.588 ogivas nucleares russas, sendo 812 em mísseis terrestres, 576 em submarinos e 200 em bombardeiros. Aeronave Blackjack (Tu-160), da força nuclear estratégica da Rússia em foto sem data
Reprodução/Tupolev/Arquivo
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse nesta sexta-feira (15) que “o mundo inteiro” deveria estar “preocupado” com o risco de que Vladimir Putin, em resposta aos reveses militares na Ucrânia, possa recorrer a uma arma nuclear tática, reforçando o alerta já feito pelo diretor da Inteligência dos EUA (CIA). O precedente seria extremamente perigoso e quebraria um tabu existente desde 1945.
O chefe da CIA, William Burns, declarou nesta quinta-feira (14) que a ameaça representada pelo “uso potencial de armas nucleares táticas” ou de “baixa potência” pelo presidente russo, Putin, em caso de desespero diante dos fracassos de seu exército, deveria ser levada a sério.
LEIA TAMBÉM:
Qual é a chance de um desastre nuclear em meio à guerra na Ucrânia?
‘Botão nuclear’, academia e decoração neoclássica, como é por dentro o avião presidencial de Vladimir Putin
Mas Burns acrescenta que “nós realmente não vimos nenhum sinal concreto, como deslocamentos ou ações militares que possam aumentar nossas preocupações”.
Questionado pelo canal americano CNN se compartilhava dessa preocupação, o presidente Zelensky respondeu: “Não só eu, acho que o mundo inteiro, todos os países deveriam estar preocupados”.
Ele explicou que essa preocupação dizia respeito a “armas nucleares” ou “armas químicas”. “Eles podem fazer isso”, acrescentou, “para eles, a vida das pessoas não vale nada”, insistiu Zelensky na entrevista que será transmitida na íntegra, no domingo (17), mas que a CNN já publicou um trecho.
“Não fiquemos preocupados, estejamos preparados”, acrescentou o presidente ucraniano. “Mas esta não é uma questão da Ucrânia”, diz respeito “ao mundo inteiro”, insistiu. 
A hipótese foi levantada logo após o início das hostilidades, quando Vladimir Putin indicou que havia ordenado a seus generais para que “colocassem as forças de dissuasão do exército russo em alerta especial de combate”.
Arsenal
A Rússia tem muitas armas nucleares táticas, menos poderosas do que a bomba de Hiroshima, por exemplo. Menor em carga explosiva do que uma arma nuclear estratégica, a arma nuclear tática é teoricamente destinada ao campo de batalha, sendo transportada por um vetor com alcance inferior a 5.500 km.
A tática russa de “escalada-desescalada” consistiria em primeiro usar uma arma nuclear de baixa potência, para ganhar vantagem em caso de um conflito convencional com o Ocidente.
“Eles precisam desesperadamente conquistar vitórias militares para transformá-las em alavancagem política”, explicou à AFP Mathieu Boulègue, do instituto de análises britânico Chatham House, no final de março.
“As armas químicas não mudariam a guerra. Uma arma nuclear tática, que destruísse uma cidade ucraniana, sim. É improvável, mas não impossível. E seria o colapso de 70 anos da teoria da dissuasão nuclear”, ele acrescenta.
Míssil é lançando por tropas ucranianas perto de Luhansk, na região de Donbass neste domingo, 10
Anatolii Stepanov/AFP
Para Pavel Luzin, analista do Instituto Riddle, com sede em Moscou, a Rússia poderia usar uma arma nuclear tática “para desmoralizar um adversário, para impedir que o inimigo continue lutando”. O objetivo é antes de tudo “demonstrativo”, acrescenta o especialista à AFP. “Mas se o adversário ainda quiser lutar depois, a arma pode ser usada de forma mais direta.”
Tecnicamente, Moscou está equipada. De acordo com o respeitado Boletim dos Cientistas Atômicos, “1.588 ogivas nucleares russas estão implantadas”, sendo 812 em mísseis terrestres, 576 em submarinos e 200 em bombardeiros.
Outros observadores preferem acreditar que o tabu absoluto permanece. Se Vladimir Putin decidir destruir até mesmo uma aldeia ucraniana para mostrar sua determinação, a área seria potencialmente barrada à vida humana por décadas.
“O custo político seria monstruoso. Ele perderia o pouco apoio que lhe resta. Os indianos recuariam, os chineses também”, afirma à AFP William Alberque, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). “Eu não acho que Putin faça isso”, conclui.
Para os especialistas, a Rússia não desfrutaria da estatura militar que tem hoje sem o seu poderio nuclear. O país não constituiria uma ameaça de tal magnitude apenas com suas forças convencionais, que mostram uma imensa capacidade de destruição na Ucrânia, mas, também, fraquezas táticas, operacionais e logísticas.g1 > MundoRead More

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *