Presidente do Paquistão dissolve o Parlamento e convoca eleições antecipadas
Ato foi pedido do primeiro-ministro, Imran Khan, que passaria por uma moção de censura no Legislativo do país. O primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, durante discurso na 74ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Premiê pediu que presidente dissolvesse Parlamento
Timothy A. Clary/AFP
O presidente do Paquistão, Arif Alvi, dissolveu o Congresso paquistanês, neste domingo (3), a pedido do primeiro-ministro, Imran Khan, que respirou aliviado depois de escapar de uma moção de censura.
O vice-presidente do Parlamento decidiu bloquear um voto de desconfiança com o objetivo de derrubar Imran Khan, que tinha boas chances de sucesso. Na abertura da sessão parlamentar, durante a qual a moção deveria ser examinada, o vice-presidente da Assembleia Nacional, Qasim Suri, um fiel de Khan, provocou surpresa ao anunciar que se recusava a submetê-la à votação, julgando-a “contrária à Constituição”.
A notícia foi recebida com raiva e espanto pelos deputados da oposição, muitos dos quais se recusaram a deixar a Câmara. “Esta data será lembrada como um dia sombrio na história constitucional do Paquistão”, disse Shehbaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N), o favorito para substituir Imran Khan no caso de sucesso da moção de censura.
Frente à uma oposição unida, Khan disse na televisão estatal que havia pedido ao presidente paquistanês que dissolvesse ambas as casas do parlamento para permitir eleições antecipadas. Em um discurso após salvar o seu posto, Imran Khan denunciou a “interferência estrangeira” por trás, segundo ele, das tentativas de derrubá-lo do poder.
Sem apresentar provas, o primeiro-ministro chegou a acusar os Estados Unidos de estarem por trás do processo para tirá-lo do cargo. A poucos dias, Khan acusou os EUA de interferirem nos assuntos paquistaneses. Segundo a mídia local, ele recebeu um relatório do embaixador paquistanês em Washington, que gravou as palavras de um alto funcionário americano dizendo que as relações entre os dois países seriam melhores se o primeiro-ministro deixasse o cargo. Washington negou o fato.
Neste domingo, Imran Khan, 69 anos, novamente acusou os EUA de quererem “mudar o regime” no Paquistão por causa de sua recusa em se alinhar com as posições americanas sobre a Rússia e a China. “Esta traição estava se desenrolando diante dos olhos de todo o país, os traidores estavam sentados lá planejando sua trama”, disse ele, em referência à oposição.
Crise econômica é fonte de descontentamento
Imran Khan havia perdido, há poucos dias, a maioria parlamentar necessária para superar a moção de censura apresentada pela oposição, que o acusa de má gestão econômica e falta de jeito na política externa.
A oposição culpa a antiga estrela da seleção nacional de críquete, que se tornou primeiro-ministro em 2018, por não conseguir recuperar a fragilizada economia do país, fortemente atingida após a pandemia do coronavírus, e por não cumprir as promessas de transparência da ação governamental.
A dissolução da Assembleia Nacional conduzirá à convocação de eleições legislativas antecipadas, no prazo de 90 dias.
A oposição e o governo apresentaram imediatamente uma série de petições e o Supremo Tribunal paquistanês anunciou que se reuniria, na segunda-feira (4) para ouvir os argumentos relativos à dissolução do Parlamento. “É de extrema importância que os partidos políticos e funcionários do Estado ajam de acordo com a lei e se abstenham de tomar ações inconstitucionais”, disse o juiz da Suprema Corte, Umar Ata Bandial.
Os dois principais partidos da oposição, o Partido Popular do Paquistão (PPP) e a Liga Muçulmana do Paquistão, dominaram a política nacional por décadas, com períodos de poder pontuados por golpes militares, até que Imran Khan conseguiu forjar uma coalizão, prometendo aos eleitores varrer décadas de corrupção.
Alguns analistas acreditavam que Imran Khan havia perdido o apoio crucial do Exército, a chave para o poder político paquistanês. Contudo, parece improvável que sua recuperação espetacular neste domingo pudesse ter acontecido sem que os militares soubessem disso, ou mesmo tivessem dado a sua bênção.
“A melhor opção nesta situação são novas eleições para permitir que o novo governo lide com problemas econômicos, políticos e externos”, disse Talat Masood, um ex-general que se tornou analista político.
Desde a sua independência, em 1947, o Paquistão viu quatro golpes militares bem-sucedidos e pelo menos o mesmo número de tentativas de golpe. O país passou mais de três décadas sob regime militar.g1 > MundoRead More