A desesperada busca por comida nas áreas sitiadas pela Rússia no leste da Ucrânia
Em Lysychansk, cidade da região, moradores estão sem água nem energia após constantes ataques da Rússia à cidade, dentro do último bolsão de resistência no leste que tropas de Moscou tentam conquistar esta semana. Moradora de Lysychansk, no leste da Ucrânia, cozinha com carvão do lado de fora da casa. Cidade ficou sem energia nem água após ataque russo
Aris Messinis/ AFP
Um mineiro no leste da Ucrânia pensou que poderia conter as forças russas bloqueando a última estrada restante em Lysychansk. Como resultado, quase perdeu a vida quando tentou dirigir para o sul para obter comida e remédios.
Artem Ivasenko vive em um porão com seu pai e outros familiares, sob bombardeio incessante.
Esta semana, tanques russos estão tentando reprimir o último bolsão de resistência em uma das duas posições ucranianas a leste e a contraofensiva de Kiev transformou a estrada de Lysychansk em um campo de batalha na guerra que dura mais de três meses.
Homem ajuda seu pai em porão de edifício em Lysychansk, onde se protegem dos bombardeios da Rússia, em 26 de maio de 2022.
Aris Messinis/ AFP
Mas Ivasenko não recebe as notícias sobre o andamento da ofensiva, já que Lysychansk e a vizinha Severodonetsk estão incomunicáveis e sem eletricidade há semanas.
“A única coisa que sei é o que vejo”, disse o homem de 34 anos, iluminado por uma lâmpada alimentada por um gerador, no porão onde mora.
Morteiro explode na beira da principal estrada que de acesso à cidade de Lysychansk, no leste da Ucrânia, em 26 de maio de 2022.
Aris Messinis/ AFP
“O que vi foram explosões a 10 ou 15 metros do meu carro na última vez que tentei dirigir por aquela estrada”, disse ele.
Ivasenko já aceita a possibilidade de ter que sair da cidade para encontrar mais comida, não importa quem controla a estrada.
“Se são os russos, vou dizer que estou procurando ajuda para pessoas que estão à beira da morte”, disse ele, dizendo que tem motivos legítimos para querer passar. “E se eles me matarem, me mataram”, disse ele.
‘Arriscar tudo por comida’
Nesta fase do conflito, a Rússia fez do cerco a Severodonetsk e Lysychansk um objetivo primordial. Com os combates, as tropas russas estão perto de seu objetivo e essas duas cidades industriais só estão ligadas ao resto da Ucrânia pela estrada esburacada e empoeirada, onde até tanques e veículos militares têm dificuldade em avançar.
Pedaço de míssil russo em rua de Lysychansk, cidade do leste da Ucrânia, em 26 de maio de 2022.
Aris Messinis/ AFP
Para Oleksandr Kozir esta rota é o centro de suas preocupações. Ele é o chefe do centro de distribuição de ajuda de Lysychansk e enfrenta diariamente a angústia de pessoas famintas que estão ficando sem suprimentos.
“As pessoas estão dispostas a arriscar tudo para ter comida e água”, disse o homem de 33 anos.
O centro de distribuição de alimentos administrado por Kozir é sustentado por sacos de areia e está quase em ruínas após um ataque de morteiros a prédios vizinhos.
Depois de atender uma mulher preocupada com o destino de sua mãe, que está doente, Kozir sentou-se para contar uma cena que o assombra.
“Alguns bombeiros estavam distribuindo água e foram bombardeados, então pularam para se proteger. Mas as pessoas que esperavam para pegar água não se importaram”, lembrou. “Eles precisavam desesperadamente da água”, disse ele.
Juntas, Severodonetsk e Lysychansk tinham uma população de 200.000 pessoas antes da guerra. Trabalhadores humanitários acreditam que ainda existam 20.000 pessoas escondidas nos porões de Lysychansk.
Poucos se atrevem a imaginar quantas pessoas podem ser atingidas na pesada ofensiva sobre Severodonetsk.
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