Com motivação pessoal, georgianos lutam ao lado da Ucrânia contra os russos
Mesmo com a postura cautelosa do governo da Geórgia em relação à guerra na Ucrânia, tentando impedir a ida de combatentes o front por temer a ira do Kremlin, muitos georgianos se engajaram no conflito por razões pessoais. Particularmente por conta de históricas disputas territoriais entre Tbilisi e Moscou. As informações são do site Eurasianet.
Até o momento, pelo menos nove deles perderam a vida. Mesmo assim, os soldados voluntários têm uma justificativa clara quanto à escolha de lado: a luta contínua com os russos, contra quem travam uma guerra desde os anos 1990 nos territórios da Abecásia e da Ossétia do Sul, disputados entre os dois países. A região representa cerca de um quinto do território da Geórgia.
O número de baixas georgianas é provavelmente o maior entre qualquer contingente estrangeiro pró-Kiev. Entre os combatentes, além de ex-soldados, estão poetas, blogueiros e até dois ex-ministros da Defesa.
Esquadrão georgiano na Ucrânia (Foto: Mamuka Mamulashvili/Arquivo pessoal Facebook)
Entre os combatentes na ativa está a franco-atiradora e oficial da reserva Darejan Maisuradze. Aos 63 anos, a veterana de guerra, presente no conflito de 2008, disse que partiu para o país vizinho disposta a pegar em armas antes mesmo de o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky clamar pela ajuda de estrangeiros em defesa da nação invadida.
“No momento em que soube que Kiev estava sendo bombardeada, fui me inscrever e estou aqui desde então”, disse ela em entrevista em 8 de março à Formula TV. “Devo me vingar dos russos pelo derramamento de sangue de nossos meninos e dos ucranianos que lutaram na Abecásia para nos apoiar”, declarou ao portal georgiano Queer.
Não há um número oficial do Ministério da Defesa da Ucrânia quanto à presença de homens e mulheres georgianos em combate em solo ucraniano, mas relatórios estimam um contingente entre dezenas e centenas.
“Os combatentes georgianos podem ser encontrados em todas as frentes ucranianas”, disse o jornalista e combatente voluntário Alexey Bobrovnikov à TV de língua russa baseada na República Tcheca Current Time, acrescentando que eles estão espalhados por várias brigadas e regimentos, lutando tanto nas forças armadas regulares da Ucrânia quanto em batalhões voluntários internacionais.
Outro personagem é o veterano georgiano Mamuka Mamulashvili, fundador da Legião Nacional da Geórgia, uma unidade paramilitar que reúne soldados experientes da antiga república soviética. O esquadrão inclui, além de georgianos, americanos com experiência em missões lideradas pelos EUA no Iraque e no Afeganistão. Ele costuma mostrar o cotidiano dos voluntários em sua página no Facebook.
Embora um número expressivo de georgianos tenha perdido a vida em meio aos ataques, o ingresso no front é visto como um ato de coragem no país – os funerais dos soldados tornaram-se grandes eventos públicos, porém, sem a presença de autoridades. Uma espécie de compensação pela posição moderada do governo local em relação à Ucrânia.
“Fiz tudo o que pude, desde trazer de volta seus restos mortais até organizar as honras fúnebres militares. Todo o resto é apenas uma especulação”, disse o primeiro-ministro Irakli Garibashvili em resposta às críticas por não comparecer a esses funerais.
Muitos georgianos sentem que possuem uma dívida histórica com os ucranianos e acreditam que precisam retribuir o favor pelo apoio na guerra na Abecásia no início dos anos 1990. “Temos uma dívida com os ucranianos. E nós, georgianos, sempre pagamos nossas dívidas”, disse a atiradora Maisuradze.
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