Ex-mercenário do Grupo Wagner diz que tropas russas não aprenderam a lutar de verdade
Marat Gabidullin recusou o convite para lutar na Ucrânia, supondo que a missão poderia acabar em fracasso. O fracasso dos militares russos em tomar Kiev, a capital da Ucrânia, era inevitável, porque eles nunca tinham enfrentado diretamente um inimigo poderoso, disse Marat Gabidullin, 55 anos, ex-mercenário do Grupo Wagner, em uma entrevista à Reuters nesta segunda-feira (9).
Entenda o que é o Grupo Wagner
Quando foi convidado para participar da invasão da Ucrânia, ele respondeu: “não pessoal, vão sem mim, por favor”.
Gabidullin, de 55 anos, participou de missões em nome do Kremlin na Síria e em um conflito anterior na Ucrânia, antes de decidir contar sobre sua experiência dentro da empresa militar privada secreta. O ex-mercenário agora mora na França e lança um livro sobre suas experiências lutando com o Grupo Wagner.
Marat Gabidullin, ex-mercenário do Grupo Wagner, durante entrevista à Reuters na França no dia 9 de maio de 2022
Marat Gabidullin
Ele deixou o grupo Wagner em 2019, mas meses antes da Rússia começar a invasão em 24 de fevereiro, Gabidullin disse que recebeu uma ligação de um recrutador que o convidou para voltar a lutar como um mercenário na Ucrânia.
“A Ucrânia para mim é uma parte do país onde nasci e onde cresci, eles são meus compatriotas. Neste momento é um Estado soberano e seu direito de ser independente tem que ser respeitado. Não vejo nenhuma agressão nas ações deste estado em relação à Rússia”, disse Gabidullin.
Ele recusou também em parte porque ele disse que sabia que as forças russas não estavam à altura para o trabalho. Mesmo que eles se orgulhassem de seu arsenal de novas armas e dos sucessos na Síria, onde ajudaram o presidente Bashar al-Assad a derrotar uma rebelião.
“Eles foram pegos completamente de surpresa pelo exército ucraniano, que resistiu tão bravamente, e por enfrentarem um exército real”, falou Gabidullin sobre as dificuldades da Rússia na Ucrânia.
Ele disse que as pessoas com quem ele falou do lado russo lhe contaram que esperavam enfrentar milícias “de trapos”, sem recursos, quando invadissem a Ucrânia, não tropas bem treinadas.
“Eu disse a eles: ‘gente, isso é um erro'”, falou Gabidullin. “As forças militares, quando tinham que aprender a lutar, não aprenderam a lutar de verdade.”
Logo do Grupo Wagner em foto ilustrativa
Creative Commons
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse não saber quem é Gabidullin e não confirmou se ele já foi membro de empresas militares privadas. O Ministério da Defesa russo não respondeu à um pedido Reuters para comentar as declarações do ex-mercenário.
A Rússia, que chama a guerra na Ucrânia de “operação especial”, diz que a missão não foi projetada para ocupar territórios, mas para destruir as capacidades militares de seu vizinho e capturar o que considera como nacionalistas perigosos.
Tanque russo abandonado na cidade de Vablya, na região de Kiev
Gleb Garanich/Reuters
Gabidullin é parte de um pequeno, mas crescente grupo de pessoas na Rússia com antecedentes de segurança que apoiaram no passado as incursões estrangeiras do presidente Vladimir Putin, mas que agora dizem que a maneira como a guerra está sendo conduzida é incompetente.
O ex-mercenário participou de alguns dos mais sangrentos confrontos na Síria. Ele ficou gravemente ferido em 2016 quando uma granada explodiu atrás dele durante uma batalha. A Reuters verificou que ele estava no Grupo Wagner e estava em combate na Síria.
Combatentes do Grupo Wagner foram acusados por grupos de direitos humanos e pelo governo ucraniano de cometer crimes de guerra na Síria e no leste da Ucrânia a partir de 2014. Gabidullin disse que nunca se envolveu em tais abusos.g1 > MundoRead More