O governador que faz da Flórida um reduto para a direita conservadora dos EUA
Republicano Ron DeSantis ganha popularidade transformando controversas políticas em leis e prepara terreno para se tornar uma alternativa à candidatura de Trump à Casa Branca O governador da Flórida, Ron DeSantis, em foto de 8 de abril
Joe Raedle/Getty Images North America/AFP
O governador Ron DeSantis faz da Flórida um campo de experimentos que tem se mostrado eficaz para a direita conservadora dos EUA. Com isso, ele prepara terreno para que seja alçado a candidato republicano nas eleições presidenciais de 2024, como uma alternativa mais viável ao ex-presidente Donald Trump.
DeSantis atua como um guerreiro cultural e escolhe as escolas como campo de batalha. Assinou uma lei, apelidada de “Não diga gay”, proibindo discussões sobre orientação sexual e identidade de gênero no ensino fundamental. Baniu dezenas de livros de matemática do currículo porque tinham “tópicos proibidos”, considerados inadequados para as salas de aula, como a chamada teoria racial crítica.
Governador da Flórida, Ron DeSantis, em discurso após assinar lei apelidada pelos críticos de “Não diga gay”, em março de 2022
Há dez dias, promulgou uma lei, que visa a regular como escolas, universidades e empresas abordam raça e gênero. Em resumo, é proibido qualquer treinamento sobre diversidade – tachado de antemão como discriminatório – que possa deixar moradores da Flórida em situação desconfortável.
O governador enxergou na pandemia do novo coronavírus uma oportunidade para dar a guinada para a direita no estado. Foi um dos primeiros a liberar praias e a reabrir as escolas para aulas presenciais, no segundo semestre de 2020, apesar das 73 mil mortes no estado.
Ele invocou a liberdade para abolir os bloqueios, proibir passaportes de vacina e restringir a obrigatoriedade de máscaras. Elevou o índice de popularidade para 59%, tornando praticamente certa a reeleição em novembro.
Advogado e veterano da guerra do Iraque, DeSantis, de 43 anos, não cede aos críticos. A Disney o enfrentou, rechaçando a lei “Não diga gay”. Levou o troco: o governador sancionou uma lei para retirar o status especial que desde 1967 dava à empresa o direito de autogovernar-se no território do parque temático em Orlando, com poderes para cobrar impostos e controlar serviços públicos.
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Eleito com uma margem pequena de votos, o governador conseguiu o impensável no terceiro maior estado do país, que funciona como termômetro para seus vizinhos. Mostrou, como disse o colunista Marc Thiessen, do “Washington Post”, um caminho para o trumpismo seguir, mas sem Donald Trump.
São frequentes as comparações com o ex-presidente. DeSantis tem se firmado como o Trump 2.0, conforme foi recentemente chamado pelo colunista Charles Blow, do “New York Times”: ambos têm a mesma veia autoritária, mas o governador seduz a base moderna do Partido Republicano como um competente negociador legislativo, com habilidade para transformar suas controversas políticas em leis. Isso é tudo que o histriônico Trump não conseguiu em quatro anos de mandato.g1 > MundoRead More