Pedro: ‘Passei três meses sem dormir pensando nas dívidas’
O g1 esteve em uma reunião dos Devedores Anônimos e conversou com quem chegou ao fundo do poço, mas conseguiu se reerguer. Leia as histórias. Pedro escondia dívidas da família
Wagner Magalhães/g1
Quando chegou à sala de Devedores Anônimos, em 2019, Pedro tinha quatro dívidas muito grandes: duas com bancos (cheque especial e empréstimo) e duas com cartões de crédito, sem que a família ou os amigos soubessem.
Técnico em informática, ele conheceu a irmandade na internet.
“Eu ficava entrando e saindo de dívida toda hora e, em algum momento, pensei que pudesse existir algum grupo para devedores. Quando cheguei, vi que todos tinham históricos parecidos com o meu”, diz.
Pedro é um pseudônimo. Ele e outros participantes dos Devedores Anônimos contaram suas histórias ao g1.
Por dentro de uma reunião de devedores anônimos
Rita: ‘Devia a 10 cartões e tremia de abstinência’
Dolores: ‘Era perseguida por 3 agiotas’
Maria: ‘Comprava cinco sapatos iguais de uma vez’
As dívidas de Pedro foram escalonando porque ele entrava em profundo nervosismo. Não suportava a pressão e renegociava com mais juros, mas não conseguia pagar as parcelas. Pagava as primeiras cinco, no máximo, e logo precisava abandoná-las de novo. Um tempo depois, caía na mesma armadilha.
“Eu ficava impaciente, alterado, comia muito e passava noites sem dormir pensando nas dívidas. Não via como sair disso. Todos nós somos muito ansiosos. Então se oferecem algo como sendo ‘uma solução ideal’, a pessoa doente vai aceitar.”
Ele passou a entrar em pânico cada vez que o telefone tocava, pois as cobranças estavam aumentando. No grupo, precisou tratar principalmente o controle emocional. “Aprendi a ter paciência e atender as ligações, conversar com as pessoas, até porque são atendentes que estão trabalhando também, e passava a explicar a situação mais claramente.”
Quando ele alcançou serenidade para enfrentar um telefonema e se mostrou disposto a pagar, conseguiu bons acordos. Num desses, Pedro viu uma dívida de quase R$ 40 mil se transformar em pouco mais de R$ 2 mil.
A esposa e os filhos não sabiam de nada. Quando ele finalmente se sentiu confortável, sentou com eles e abriu o jogo: “Olha, eu tou quebrado. Esse negócio de comer pizza no final de semana é fantasia.”
Aquela conversa foi um alívio enorme para as costas de Pedro. E foi da abertura que veio a ajuda. “Naquele momento crítico, alguém assumiu uma conta de luz, outra pessoa pagou a internet, recebi dinheiro para o mercado e isso me ajudou bastante”
De lá para cá, ele conseguiu quitar 3 das 4 dívidas e viu uma mudança significativa na sua vida.
“Meu comportamento e meu temperamento mudaram. A partir de 2019, quando cheguei na sala, comecei a dormir tranquilo”, conta. Hoje, Pedro não tem mais cartão de crédito e anota todos os seus gastos em uma planilha.g1 > EconomiaRead More