RÁDIO BPA

TV BPA

Por que os militares da Colômbia, tradicionalmente distantes da política, entraram em cena nas eleições presidenciais

Na Colômbia, os militares não podem votar e historicamente foram menos presentes na política do que em outros países da América do Sul. Policial na cidade de Suarez, na Colômbia, em 25 de maio de 2022
Raul Arboleda/ AFP
Na reta final das eleições na Colômbia, o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto, o esquerdista Gustavo Petro, recebeu críticas de um grupo que foi seu adversário histórico: os militares.
Carlos Alfonso Velasquez, um coronel reformado, fez críticas públicas a Petro. “Aqueles que ainda estão nas Forças Armadas entendem que a guerra (contra as guerrilhas) foi vencida no campo de batalha, mas está sendo perdida politicamente”, disse ele.
Leia também
Por que a Colômbia nunca teve um governo de esquerda? E por que isso pode mudar neste ano?
Eduardo Zapateiro, um general, exigiu respeito do candidato e fez um comentário sobre uma antiga denúncia contra Petro, da qual ele foi absolvido.
As críticas dos militares, na verdade, são uma resposta a um comentário do candidato.
Em abril, uma unidade de uma brigada do exército foi atacada por um grupo de traficantes. Como resultado, sete soldados morreram.
Petro afirmou que as mortes de alguns soldados vão ocorrer enquanto comandantes corruptos sobem no exército.
Material de propaganda de Gustavo Petro, o líder nas pesquisas de intenção de voto na Colômbia, em 26 de maio de 2022
Joaquin Sarmiento/ AFP
O alto escalão então se manifestou contra Petro e até fez tuítes com críticas. O exército abriu uma investigação, porque no país militares não podem intervir na política e nem fazer declarações sobre política.
É natural que nesse momento, com Petro ocupando o primeiro lugar em intenções de voto, os militares se sintam incomodados: o histórico dele é de ex-guerrilheiro, ele lutou contra os militares, explica Fernanda Nanci Gonçalves, professora da UFRJ e Unilasalle-RJ.
“Os militares sempre dizem ‘ele não gosta da gente’, e sentem que Petro poderia ir atrás desses militares para tirar alguns privilégios ou para buscar culpados por crimes que de fato aconteceram, especialmente durante o combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ou outros grupos guerrilheiros”, diz ela.
Quem é Gustavo Petro? Ex-guerrilheiro é favorito à presidência da Colômbia
As críticas públicas chamam a atenção porque a Colômbia tem uma diferença em relação à maioria dos outros países da América do Sul: os militares ficam nos quartéis, não intervêm na política. “Enquanto todos os países da região passavam por ditaduras militares, a Colômbia não passou. Houve golpes e governos militares, mas não se prolongaram, foram momentos de transição”, afirma Gonçalves.
No país, os militares nem mesmo votam. Isso não significa que eles não tenham ideologia ou preferências políticas. “Eles se sentem incomodados sabendo que um ex-guerrilheiro que é tudo que abominam e buscaram combater durante ao longo de toda a vida profissional possa ocupar um cargo de poder”, diz Gonçalves.
Quem é Fico Gutiérrez? Ex-prefeito de Medellín concorre à Presidência da Colômbia
A professora afirma que as coisas devem parar por aí. Ela diz que a imagem das Forças Armadas vem melhorando no país desde o começo dos anos 2000: inicialmente, com uma modernização e, em um segundo momento, com a proximidade dos governantes. Para ela, se os militares decidissem radicalizar na oposição a Petro, eles teriam uma piora na sua reputação, que é algo que querem evitar.
Veja os vídeos mais assistidos do g1g1 > MundoRead More

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *