Ted Cruz, o senador que personifica o poderoso lobby das armas no Senado americano
Organização que rastreia fluxo de dinheiro aponta o político texano como o que mais recebeu financiamento de grupos de defesa de armas. Senador republicano Ted Cruz, ferrenho defensor das armas, fala a jornalistas em visita a Uvalde um dia após o massacre em um colégio da cidade, em 25 de maio de 2022.
Veronica G. Cardenas/ Reuters
Depois que um atirador abriu fogo em Uvalde, no Texas, matando 19 crianças e dois adultos, o senador republicano Ted Cruz agiu como o marido traído que tira o sofá da sala para evitar o adultério. Ferrenho opositor de leis mais rígidas para controlar a venda de armas nos EUA, o representante do Texas no Senado deu a sua solução para impedir futuras carnificinas: instalar portas e vidros à prova de balas e pôr mais policiais armados na entrada das escolas.
Cruz foi virtualmente massacrado nas redes sociais, personificando a resistência da bancada republicana no Senado ao debate de dois projetos de lei aprovados pela Câmara para a verificação de antecedentes aos compradores de armas. Ambos estão no limbo do Capitólio sem perspectivas de avanço.
Segundo a OpenSecrets, organização que rastreia o fluxo de dinheiro na política americana, Cruz recebeu US$ 749 mil (cerca de R$ 3,5 milhões) de grupos de defesa de armas para financiar a sua carreira legislativa – mais do que qualquer congressista.
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O senador consta da agenda de palestrantes da reunião anual da Associação Nacional do Rifle (NRA), a mais poderosa entidade pró-armas do país, neste fim de semana em Houston, juntamente com o ex-presidente Donald Trump e o governador do Texas, Greg Abbott. O estado é o que recebeu mais verbas da NRA, entre os 19 monitorados pela OpenSecrets – US$ 2,5 milhões entre 2015 e 20
Senador republicano Ted Cruz durante a Convenção de seu partido em Cleveland, Ohio
Brian Snyder / Reuters
A posição inabalável de Cruz durante a comoção deflagrada pelo massacre atraiu a revolta de quem ficou inconformado com a facilidade com que o atirador Salvador Ramos, de 18 anos, comprou dois fuzis semiautomáticos AR-15 e 370 cartuchos de munição.
Cruzes foram colocadas na entrada da escola Robb, em Uvalde, no Texas, onde houve o massacre com 21 mortos.
Marco Bello/REUTERS
A tragédia fez também emergir um vídeo grotesco de 2015, exibido durante a campanha do senador à Presidência, em que ele fritava tiras de bacon no cano de um fuzil AR-15, a mesma arma usada pelo jovem atirador, apenas com o calor dos tiros.
Sua proposta de fortalecer a lei armada nas escolas, em vez de restringir os direitos dos portadores de armas soou como ofensiva. O congressista democrata Ruben Gallego tuitou um palavrão para ele e chamou-o de assassino de bebês: “Você se preocupa com um feto e deixa nossos bebês serem abatidos.”
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O músico John Legend descreveu o senador como idiota e bajulador da NRA. “Não consigo imaginar por que qualquer texano iria querer esse covarde viscoso representando um estado tão orgulhoso”, completou.
Cruz, no entanto, manteve a fleuma de obstinado defensor do lobby das armas, ao participar de uma vigília na escola atacada. Preferiu culpar os democratas por politizar o massacre. Envolveu-se num intenso bate-boca com um jornalista da TV britânica Sky News, que o questionou se este não era o momento ideal para a reforma da lei de armas.
O senador descreveu o atirador como um psicopata violento e ouviu então do repórter a pergunta que representa a essência do debate: como então um psicopata violento tem acesso a armas com tanta facilidade? Ted Cruz o ignorou e abandonou a entrevista com a certeza de que conta com o respaldo de seus eleitores.
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