Copom vê desaceleração da atividade econômica e juro maior para cumprir meta de inflação
As informações foram divulgadas nesta terça-feira por meio da ata da última reunião do Copom, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros subiu de 12,75% para 13,25% ao ano. BC também citou incertezas sobre as contas públicas. O Banco Central informou nesta terça-feira (21) que prevê uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada e acrescentou que, para conter a inflação, ainda elevada e disseminada, precisará subir mais os juros e mantê-los altos por um período maior de tempo.
As informações foram divulgadas por meio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi elevada de 12,75% ao ano para 13,25% ao ano – um aumento de 0,5 ponto percentual. Foi décimo primeiro aumento seguido na taxa Selic, que atingiu o maior patamar desde dezembro de 2016.
O Copom também citou a incerteza sobre o futuro do “arcabouço fiscal” do país, ou seja, sobre as regras para as contas públicas, e, também, o efeito de políticas que “sustentem a demanda agregada [estimulem a economia em ano eleitoral]”, que, em sua visão, podem trazer um “risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação”.
Atualmente, a principal regra fiscal do país é o teto de gastos, mecanismo pelo qual a maior parte das despesas não pode crescer acima da inflação do ano anterior. Entretanto, analistas têm apontado dificuldades em manter esse mecanismo diante do crescimento dos gastos obrigatórios — que está achatando o orçamento dos ministérios.
Taxa de juros alta
Para calibrar o nível dos juros, o sistema adotado é o de metas de inflação. Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para atingir a meta de inflação do ano que vem, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
No cenário de referência com o qual o BC trabalhava para a taxa de juros, tendo por base pesquisa feita com o mercado financeiro, os juros avançariam para 13,25% ao ano em 2022, recuariam para 10% em 2023 e para 7,5% ao ano em 2024.
Entretanto, a instituição avaliou que os juros terão de ser maiores, e permanecer altos por um período maior de tempo, para atingir a meta de inflação de 2024 — cujo teto é de 4,75%.
“O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4% [para 2023] para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista [juros altos] por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, informou.
Inflação elevada e disseminada
Sobre os preços, o Copom avaliou que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, se mostrando mais persistente que o antecipado.
“A inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta, e os recentes choques continuam levando a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis. As leituras [de inflação] recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto em componentes mais voláteis como naqueles mais associados à inflação subjacente [que busca ver as tendências'”, informou.
O Copom notou, ainda, que ocorreu “deterioração tanto na dinâmica inflacionária de curto prazo quanto em suas projeções mais longas, ainda que o cenário esteja cercado de incerteza e volatilidade acima do usual”.
O IPCA — a inflação oficial do país — ficou em 0,47% em maio, com desaceleração na comparação com o mês anterior. Mesmo assim, acumulou um aumento de 11,73% em doze meses.
O BC informou que, pela pesquisa realizada com o mercado financeiro, a inflação seria de de 8,5%, 4,7% e de 3,25%, respectivamente, em 2022, 2023 e 2024. Já o BC estimou um IPCA de 8,8% para 2022, de 4,0% para 2023 e de 2,7% para 2024.
Essas estimativas oficiais do Banco Central, porém, não incorporam, ainda, o impacto das medidas tributárias sobre preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, que reduzem “sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária [até o fim de 2023]”.
Atividade em desaceleração
Sobre o nível de atividade, o BC avaliou que o conjunto de indicadores aponta para um crescimento acima do que era esperado anteriormente. No primeiro trimestre, o PIB avançou 1%, impulsionado pelo setor de serviços.
“Indicadores relativos ao mercado de trabalho seguem em recuperação e a divulgação do PIB do primeiro trimestre apontou ritmo de atividade acima do esperado, elevando o carregamento estatístico para este ano. O consumo das famílias segue contribuindo positivamente, enquanto, no último trimestre, a formação bruta de capital fixo contribuiu negativamente”, informou.
Segundo a instituição, esses resultados recentes estão ligados, ainda, processo de normalização da economia após a pandemia, tanto no maior consumo de serviços quanto na utilização do excesso de poupança observado em relação ao nível histórico.
Quando olha para frente, entretanto o Copom vê desaceleração do nível de atividade no país. “O Comitê avalia que a atividade deve desacelerar nos próximos trimestres quando os impactos defasados da política monetária [de alta dos juros] se fizerem mais presentes”, informou.
O BC também estimou desaceleração no resto do mundo, na esteira da guerra na Ucrânia e alta da inflação, resultando em elevação dos juros em outras economias.
“O Comitê já antecipa uma desaceleração da atividade global nos próximos trimestres, em função das tensões geopolíticas e do aperto na política monetária [alta dos juros] e nas condições financeiras em curso em diversas economias centrais”, concluiu.g1 > EconomiaRead More