Jornalista ucraniano foi ‘executado a sangue frio’ por russos, aponta investigação
Uma investigação conduzida pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), cujo resultado foi divulgado na terça-feira (21), conclui que o fotojornalista e documentarista ucraniano Maks Levin, que trabalhava na cobertura da guerra na Ucrânia, foi “executado a sangue frio” por tropas russas junto do segurança dele, o soldado Oleksiy Chernyshov, no dia 13 de março.
O jornalista foi morto em uma floresta perto da cidade de Doshchun, onde buscava um drone que ele usava para registrar a invasão e que havia desaparecido por ali. “O terreno era hostil, mas Levin estava determinado a recuperar seu drone a todo custo, pois estava convencido de que as últimas imagens tiradas eram muito importantes”, diz o relatório.
Arnaud Froger, chefe do escritório de investigação da RSF, e Patrick Chauvel, um repórter fotográfico de guerra francês que havia trabalhado com Levin em Donbass, foram encarregados do caso. Na cena do crime, eles encontraram o carro do jornalista carbonizado e com 14 marcas de tiros. Também havia uma bala que possivelmente atingiu a vítima, bem como DNA que indica a presença de tropas russas no local.
“A análise das fotos do local do crime, as observações feitas no local e as provas materiais recuperadas apontam claramente para uma execução que pode ter sido precedida de interrogatório ou mesmo atos de tortura. No contexto de uma guerra fortemente marcada pela propaganda e pela censura do Kremlin, Maks Levin e seu amigo pagaram com a vida por sua luta por informações confiáveis”, disse Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.
O fotojornalista e documentarista ucraniano Maks Levin, morto durante a guerra da Ucrânia (Foto: Facebook/reprodução)
Em virtude do que descobriu, Froger foi formalmente entrevistado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), como testemunha na investigação formal conduzida pelo governo ucraniano que coleta evidências a fim de posteriormente acusar e julgar criminosos de guerra. Foram entregues às autoridades locais nove provas coletadas em campo e uma unidade USB contendo dezenas de fotos da cena do crime.
“Apesar dos riscos, Maks entrou nesta floresta para tentar recuperar seu drone, para recuperar provas em forma de imagens. Sua execução por soldados russos foi um crime contra a liberdade de expressão. Esta verdade não será ocultada, e a investigação da RSF será colocada a serviço dos seus valores, Maks”, afirmou Chauvel.
O massacre de Bucha
A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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