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Presidente eleito da Colômbia, Petro promete fronteira aberta com Venezuela; veja o que esperar das relações dos dois países

Expectativa é de retomada de relações agora que colombianos elegeram um governo de esquerda. Especialistas, no entanto, que não se pode esperar alinhamento automático de Petro com Maduro. Multidão atravessa ponte rumo a Cucutá, na fronteira entre Venezuela e Colômbia, em foto de 2016
George Castellanos/AFP
Presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro disse nesta quarta-feira (22) por meio do Twitter que entrou em contato com o governo da Venezuela e vai reabrir a fronteira entre os dois países, que teve diversas fases de fechamento parcial e total nos últimos anos.
“Eu me comuniquei com o governo venezuelano para abrir as fronteiras e restabelecer o pleno exercício dos direitos humanos na área”, tuitou Petro.
Ao ganhar a eleição de domingo (19), Petro tornou-se o primeiro presidente de esquerda eleito na Colômbia. Ele não deixou claro se se comunicou diretamente com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro — que tinha enviado mensagem cumprimentando-o pela vitória. Mas o chanceler venezuelano, Carlos Faria, disse que Caracas espera “construir uma nova era” na relação entre as duas nações.
Gustavo Petro e Francia Marquez na comemoração da vitória, em 19 de junho de 2022
Daniel Munoz/AFP
A fronteira dos dois países foi fechada em 2015 pelo governo venezuelano após um confronto entre forças de segurança venezuelanas e civis, que Nicolás Maduro atribuiu ao “paramilitarismo” na Colômbia e pelo qual culpou o então presidente colombiano Álvaro Uribe, que negou as acusações.
Nos anos seguintes, a situação se normalizou gradativamente, mas em 2019, mais uma vez, a Venezuela fechou a fronteira, em meio a uma escalada de tensões entre os governos de Maduro e de Iván Duque.
A pandemia de 2020 fez com que a Colômbia fechasse suas fronteiras em março daquele ano, embora as tenha reaberto em junho de 2021.
As pontes internacionais Simón Bolívar, Santander e Unión entre o departamento de Norte de Santander (Colômbia) e o estado de Táchira (Venezuela) foram fechadas. Outras passagens, no entanto, como Maicao, no departamento de La Guajira (Colômbia) e Maracaibo, em Zulia (Venezuela), ficaram em sua maioria abertas.
As relações diplomáticas entre Caracas e Bogotá vinham bastante degradadas desde 2019, quando o governo colombiano reconheceu o opositor Juan Guaidó como “presidente legítimo” da Venezuela. Guaidó tentou derrubar o regime de Maduro com apoio internacional, mas não conseguiu, e o fato é que o poder continuou na mão dos chavistas, portanto é com eles que precisariam ser definidas medidas práticas como questões de fronteira.
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, durante entrevista coletiva no Palácio Miraflores, em Caracas, na segunda-feira (16)
Reuters/Leonardo Fernandez Viloria
Os dois países compartilham uma linha de mais de 2,2 mil quilômetros de fronteiras. Estima-se que mais de 2 milhões de venezuelanos buscaram refúgio no país vizinho nos últimos cinco anos.
Até o fechamento da passagem, milhares de venezuelanos e colombianos a atravessavam rotineiramente para atividades de natureza comercial, educacional e sanitária. Mas por serem bastante porosas, as fronteiras também favoreciam ações ilegais de narcotraficantes, contrabandistas e grupos guerrilheiros.
O presidente eleito Gustavo Petro afirmou que restabelecerá as relações com a Venezuela de Nicolás Maduro após três anos de ruptura e graves acusações trocadas entre Caracas e Bogotá.
Ideologia ou pragmatismo?
Petro, que assume a presidência em 7 de agosto, desperta temores entre muitos venezuelanos que o associam ao chavismo, embora o ex-guerrilheiro tenha mantido distância do governo de Maduro durante a campanha eleitoral, chegando a classificá-lo como “ditadura”.
Quem é Gustavo Petro? Ex-guerrilheiro se torna o 1º presidente de esquerda da Colômbia
A Venezuela, que acusou frequentemente o atual presidente da Colômbia, Iván Duque, de planos de golpe de Estado e até de assassinato contra Maduro, felicitou em um comunicado a vitória do líder de esquerda e expressou “a mais firme vontade de trabalhar na construção de uma renovada etapa de relações integrais”.
Caracas rompeu relações com Bogotá em 2019 depois que Duque reconheceu como presidente encarregado da Venezuela o líder opositor Juan Guaidó, que agora está em um limbo. Foi o pior momento entre esses países vizinhos, que sempre tiveram altos e baixos, especialmente nos últimos 20 anos com a entrada em cena de Hugo Chávez e Álvaro Uribe.
Não há consulados ou voos diretos e a fronteira permaneceu oficialmente fechada entre 2019 e outubro de 2021, o que colapsou o comércio bilateral.
“As relações diplomáticas não podem depender ou se concentrar no simples clientelismo ideológico”, disse à AFP o historiador Ángel Lombardi, professor da Universidade de Zulia (LUZ), região fronteiriça com a Colômbia.
“Se prevalecer o bom senso, eles terão uma relação baseada no pragmatismo e no interesse comum.”
“Novos tempos estão no horizonte”, comemorou Maduro no Twitter.
“Muda radicalmente a relação com a Venezuela com o simples fato de que a oligarquia deixa de governar” na Colômbia, disse Diosdado Cabello, número dois do chavismo, em entrevista coletiva na segunda-feira.
Migração, assunto-chave
Migração, segurança fronteiriça e comércio são pontos destacados na agenda. O tema migratório é crucial, já que milhares de pessoas cruzam diariamente a linha limítrofe.
A Colômbia acolhe dois milhões dos seis milhões de venezuelanos que migraram devido à crise de seu país, que Duque regularizou para que possam trabalhar e acessar os serviços públicos.
“A população migrante, hoje principalmente venezuelana, receberá um tratamento digno e respeitoso nos direitos humanos”, prometeu Petro em seu plano de governo.
A normalização das relações, por outro lado, impulsionaria o intercâmbio comercial, que estava próximo de US$ 7,2 bilhões em 2008, mas entrou em colapso com o fechamento parcial da fronteira em 2015 e total em 2019.
A Câmara Colombiana-Venezuelana administra projeções de US$ 800 milhões a US$ 1,2 bilhão em 2022, depois que no ano passado o valor foi de cerca de US$ 400 milhões.
“Uma nova cortina se levanta”, disse à AFP Wladimir Tovar, líder da associação patronal venezuelana Fedecamaras, no estado fronteiriço de Táchira. “Com a Colômbia sempre houve uma relação próxima”, acrescentou.
No entanto, a região é palco de confrontos entre grupos armados e forças públicas, em meio a denúncias de Bogotá de que Maduro abriga dissidentes das Farc, guerrilheiros do ELN e narcotraficantes. O presidente socialista nega e acusa Duque de enviar paramilitares para desestabilizar a Venezuela.
Foto de arquivo mostra integrantes da guerrilha (ELN) em um campo de treinamento às margens do rio San Juan, na Colômbia
Luis Robayo/AFP/Arquivo
Virada política
Duque liderava na região a pressão diplomática para retirar Maduro do poder, causa que vem perdendo adeptos. O resultado eleitoral de domingo se une ao retorno da esquerda à Argentina e, possivelmente, se as pesquisas de intenção de voto se confirmarem, ao Brasil nos próximos meses.
A situação deixa Guaidó em má posição, cada vez mais enfraquecido, embora mantenha o apoio de Washington.
A Colômbia foi um dos principais destinos de aliados de Guaidó que se exilaram por causa de processos criminais ou investigações na Venezuela, como seu antigo “ministro das Relações Exteriores”, Julio Borges.
No entanto, Jesús Esparza Bracho, professor de direito da Universidade Rafael Urdaneta de Maracaibo (Zulia, oeste), diz que o fato de Maduro e Petro serem de esquerda não implica uma aliança automática.
Militares da Venezuela iniciam treinamento próximo à fronteira com a Colômbia em foto de 2019
Schneyder Mendoza/AFP
“Maduro está mais alinhado com regimes menos democráticos e essa não é necessariamente a linha de Petro”, comentou o especialista, que acha que o próximo governante colombiano pode ser um “catalisador” no processo de negociações políticas entre Maduro e a oposição, paralisada desde o último outubro.
“A instabilidade na Venezuela é uma ameaça para Petro, como a instabilidade colombiana foi para a Venezuela por muitos anos”, acrescentou.g1 > MundoRead More

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