Manifestantes do Sri Lanka anunciam fim da ocupação dos prédios públicos
Desde o fim de semana, milhares de pessoas invadiram o palácio presidencial e outros prédios públicos. Presidente fugiu do país, que enfrenta a pior crise econômica desde que se tornou independente, há 70 anos. Manifestantes invadem palácio presidencial no Sri Lanka
Os manifestantes contrários ao governo do Sri Lanka anunciaram nesta quinta-feira (14) o fim da ocupação dos edifícios públicos, mas prometeram seguir pressionando para que o presidente – que fugiu do país renuncie diante da grave crise econômica e política.
“Saímos pacificamente do palácio presidencial, da secretaria da presidência e do gabinete do primeiro-ministro com efeito imediato, mas continuaremos com nossa luta”, disse uma porta-voz dos manifestantes.
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Entenda a crise que levou à invasão do palácio presidencial e à queda do governo
Uma multidão invadiu no fim de semana o palácio presidencial, e o chefe de Estado, Gotabaya Rajapaksa, a fugir para as Maldivas na quarta-feira, no momento em que os ativistas entravam no escritório do primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe.
Manifestantes invadiram a residência oficial do presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, em Colombo, no dia 9 de julho de 2022
Dinuka Liyanawatte/Reuters
Nesta quinta-feira, o presidente do Sri Lanka deixou as Maldivas em um avião de uma companhia aérea saudita com destino a Singapura.
Rajapaksa prometeu que renunciaria na quarta-feira (13), mas ainda não fez nenhum anúncio formal, no momento em que o Sri Lanka vive a crise econômica e política mais grave de sua história.
A população de quase 22 milhões de habitantes da ilha enfrenta escassez de produtos essenciais pela falta de divisas para as importações. Os manifestantes atribuem a crise à péssima gestão de Rajapaksa.
Manifestantes atearam fogo em casa que pertencia a ministro do Sri Lanka em Arachchikattuwa, em 9 de maio de 2022
Reuters
Após meses de protestos, os manifestantes invadiram no sábado a residência oficial do presidente e o obrigaram a fugir do país. Nos dias seguintes, o gabinete do primeiro-ministro, Ranil Wickremesinghe, também foi invadido.
O premiê, que foi nomeado pelo presidente como chefe de Estado interino em sua ausência, pediu a saída dos manifestantes dos prédios públicos e determinou às forças de segurança a fazer o “necessário para restabelecer a ordem”.
Manifestantes no jardim da residência presidencial em Colombo, no Sri Lanka, em 9 de julho de 2022
Reuters
Um importante monge budista que apoiou os protestos fez um apelo para que o palácio presidencial de mais de 200 anos fosse devolvido às autoridades, para garantir a conservação das valiosas obras de arte.
“Este edifício é um tesouro nacional e deve ser protegido”, disse o monge Omalpe Sobitha. “Uma auditoria adequada deve acontecer a a propriedade deve ser devolvida ao Estado”.
Desde a fuga do presidente, o complexo foi aberto ao público e milhares de pessoas passaram pela residência oficial.
Manifestantes comemoram após entrarem no gabinete do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremasinghe, durante protesto exigindo sua renúncia nesta quarta-feira (13). O presidente do país, Gotabaya Rajapaksa, fugiu em um jato militar, em meio a protestos intensos diante da crise econômica enfrentada na região
Dinuka Liyanawatte/Reuters
Depois que o gabinete do primeiro-ministro foi invadido, Wickremesinghe declarou que os manifestantes queriam impedir seu trabalho como presidente interino.
O toque de recolher foi suspenso na madrugada de quinta-feira. A polícia informou que um soldado e um agente foram feridos durante confrontos perto do Parlamento.
A tentativa de invadir a sede do Legislativo fracassou, ao contrário de outras instituições que os manifestantes ocuparam sem problemas.
O principal hospital de Colombo informou que 85 pessoas foram internadas com ferimentos na quarta-feira e que um homem morreu sufocado após inalar gás lacrimogêneo no gabinete do primeiro-ministro.
Vaias e insultos
No Sri Lanka, presidente que fugiu para as Ilhas Maldivas ainda não renunciou
Nesta quinta-feira, Gotabaya Rajapaksa, a esposa Ioma e dois guarda-costas foram escoltados até um avião minutos antes da decolagem do aeroporto internacional de Velana, em Malé, capital das Maldivas.
A imprensa local informou que o cingalês foi vaiado e insultado ao chegar às Maldivas na quarta-feira. Um grupo organizou um protesto para exigir que o governo local não autorizasse sua presença na ilha.
Antes de seguir para Singapura, ele passou a noite em um hotel de luxo das Maldivas, uma opulência que contrasta com a grande crise vivida por seus compatriotas: 80% dos cingaleses precisam pular uma refeição ao dia devido à catastrófica situação econômica.
Policia dispara bala de borracha contra manifestantes em Colombo, no Sri Lanka, em 9 de maio de 2022
Dinuka Liyanawatte/ Reuters
O país declarou uma moratória da dívida. A falta de divisas provocou uma escassez de combustível que deixa o país praticamente paralisado.
Fontes das forças de segurança em Colombo afirmaram que a carta de renúncia já foi preparada e será divulgada após a autorização de Rajapaksa.
Fontes diplomáticas afirmam que Rajapaksa deseja obter um visto dos Estados Unidos, mas que as tentativas não deram resultado até o momento porque ele renunciou à cidadania americana em 2019, antes de disputar a presidência.
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