Por que Steve Bannon só agora quer testemunhar no comitê que investiga a invasão do Capitólio?
Ex-estrategista de Trump e defensor da tese infundada de fraude nas eleições que deram à vitória de Biden responde a duas acusações criminais por desacato. Donald Trump e Steve Bannon, em foto de janeiro de 2017
Mandel Ngan/AFP/Arquivo
Steve Bannon, o ex-estrategista político de Trump e ideólogo de extrema direita, mudou de ideia e agora está disposto a testemunhar ao comitê da Câmara dos Representantes que investiga a invasão de partidários ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, para contestar a vitória de Joe Biden.
A guinada é repentina, mas parece bem arquitetada: Bannon responde a duas acusações por desacato criminal, aprovadas pela Câmara, por ter se recusado a comparecer ao Comitê no ano passado. O julgamento está previsto para começar no dia 18 e, se condenado, ele pode ser sentenciado a dois anos de prisão e US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) em multas.
Ferrenho defensor de Trump, ele fez saber, por seu advogado, que prefere depor em audiência pública, mas dificilmente será atendido. A comissão formada por nove congressistas – sete democratas e dois republicanos – não quer que os holofotes sobre Bannon interfiram no seu julgamento.
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Até agora, o ex-conselheiro de Trump se ancorou no argumento de ter privilégios executivos para não testemunhar nem fornecer informações confidenciais sobre o papel que desempenhou na insurreição deflagrada por uma multidão na sede do Congresso e na tentativa de impedir a certificação da vitória de Biden. Ignorou as intimações, embora não ocupasse, desde 2017, nenhum cargo no governo.
Na véspera da invasão, Bannon, que corroborava em alto e bom som a tese infundada de fraude nas eleições, incitou os ouvintes de seu podcast “War Room”, reduto de apoiadores radicais do ex-presidente. “Será que o caos se vai instalar amanhã? Muitas pessoas me disseram: ‘Se houvesse uma revolução, seria em Washington’. Bem, este vai ser o momento de vocês na História.”
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Kevin Lamarque/Reuters
O ex-chefe o liberou e deu o aval para que ele pudesse depor, conforme escreveu a ele numa carta obtida pelo canal de televisão “CNN” e pelo jornal “Washington Post”.
“Quando você recebeu pela primeira vez a intimação para testemunhar e fornecer documentos, invoquei o privilégio executivo. No entanto, observei como você e outros foram tratados injustamente, tendo que gastar grandes quantias em honorários legais e todo o trauma que você deve estar passando por amor ao seu país e por respeito ao Escritório do Presidente”, atestou Trump.
Não é a primeira vez que o ex-presidente salva a pele de Bannon. Nas últimas horas de seu mandato, ele o perdoou preventivamente de acusações relacionadas a verbas arrecadadas para a construção de um muro na fronteira com o México.
Integrantes do comitê que investiga os fatos que levaram à invasão do Capitólio guardam poucas expectativas sobre um futuro depoimento de Bannon. Por enquanto, a oferta tardia parece mais uma tentativa de beneficiá-lo e esvaziar o seu julgamento do que esclarecer o papel de Trump no motim.g1 > MundoRead More