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Banda russa de rock é impedida de tocar após dedicar música a colegas exilados

A banda russa de rock Splean teve um show cancelado pelas autoridades locais porque, durante um show anterior, havia dedicado uma música a colegas que deixaram a Rússia devido à guerra na Ucrânia. As informações são da rede Radio Free Europe.

Aleksandr Vasilyev, vocalista da banda, confirmou que eles não mais se apresentarão nesta sexta-feira (26) em festival que acontecerá em uma arena estatal de Moscou. A banda seria uma das principais atrações do evento.

Durante a apresentação que gerou a represália do governo, realizada na cidade de Voronezh, Vasilev sequer citou diretamente a guerra. Ele disse apenas que estava feliz por ver tanta gente que “mostra misericórdia, compaixão, humanidade e que não aceita crueldade, violência e assassinato”.

Ele dedicou a música Vkhoda Net (Sem Saída, em tradução literal) a outras bandas que deixaram o país e disse esperar que retornem no futuro para que “possamos cantar para vocês aqui”.

A banda de rock russa Splean: show cancelado pelo governo (Foto: Wikimedia Commons)

Casos anteriores

Desde o início da guerra, são muitos os casos de músicos que optaram por deixar o país em protesto contra a guerra ou mesmo para fugir da repressão do governo, que pune duramente que ousa contestar a invasão da Ucrânia. Entre os que decidiram permanecer no país, são frequentes os casos de shows cancelados por imposição do governo.

Em março, poucos dias após o início da guerra, a cantora Zemfira, uma das mais populares roqueiras da Rússia, publicou em seu canal no YouTube um vídeo de protesto contra a guerra na Ucrânia. O vídeo é ilustrado por cenas da guerra e de protestos realizados em Moscou.

A música que embala o vídeo foi lançada por Zemfira em 2017 e chama-se “Não Dispare” (em tradução literal), originalmente composta para contestar a guerra na Chechênia. “Não fique calado! Neste terreno em ruínas, vamos morrer. Não fique em silêncio”, canta a artista.

Já o rapper Oxxxymiron, igualmente bastante popular entre os russos, tem feito shows no exterior e doa parte do dinheiro a organizações de caridade. Pouco depois de a guerra explodir, ele foi um dos poucos artistas da Rússia a contestar a agressão. À época, usou os stories do Instagram para anunciar que, em represália, cancelou shows marcados para Moscou e São Petesburgo, ambos com ingressos esgotados.

Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas desde que o governo passou a usar a pandemia de Covid-19 como pretexto para punir grandes manifestações, sob a alegação de que o acúmulo de pessoas fere as normas sanitárias. Assim, tornou-se comum ver manifestantes solitárias erguendo cartazes com frases contra o governo.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”.

Dentro dessa severa nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 25,5 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

Jovem russa exibe cartaz com a frase “não matarás” em protesto antiguerra (Foto: reprodução/Twitter)

Apesar dos riscos, muitos russos enfrentam a repressão e a possibilidade de serem presos e protestam de diversas maneiras para deixar clara sua oposição ao conflito.

Em Moscou, no dia 15 de março, ignorando todos esses riscos, uma mulher escolheu como ponto de protesto a Catedral do Cristo Salvador. Em um cartaz, reproduziu o sexto mandamento segundo a Igreja Ortodoxa: “Não matarás”. Outra mulher desafiou a censura e se posicionou em uma esquina próxima do Kremlin com um cartaz que dizia “Não à guerra”. Ambas foram retiradas por policiais e colocadas em um camburão menos de dez minutos depois de exibirem os cartazes.

Yevgenia Isayeva, uma artista e ativista da cidade russa de São Petesburgo, optou por um protesto mais gráfico no dia 27 de março. Com um vestido branco, ela se posicionou em frente à prefeitura da cidade e, então, despejou tinta vermelha sobre a roupa, enquanto dizia repetidamente: “Meu coração sangra, meu coração sangra…”. Também teve poucos minutos para se manifestar antes de ser retirada à força.

Há, ainda, os manifestantes que querem deixar sua mensagens sem expor a própria imagem. Casos dos grafiteiros que têm feito surgir nos muros de cidades russas mensagens antiguerra. Também em 27 de março, dois homens foram presos na cidade de Tula, no sul do país, acusados de grafitar mensagens como “Derrubem Putin” e “Parem Putin”.

A jornalista russa Marina Ovsyannikova, por sua vez, ficou conhecida mundialmente por interromper um noticiário na TV estatal russa Canal 1 (Piervy Kanal) para protestar contra a invasão da Ucrânia. No dia 14 de março, ela se postou repentinamente atrás da apresentadora de um telejornal com um cartaz escrito em russo e inglês que dizia “Não à guerra, não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você”. Ela ficou no ar durante vários segundos até que o canal a tirasse de cena.

No dia seguinte ao protesto, a Justiça russa condenou a jornalista a pagar também uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 1,69 mil), justificando de se tratar de uma “tentativa de organizar um protesto não autorizado”. Ovsyannikova, que foi detida outras vezes depois disso, pediu demissão e diz que não pretende sair do país, alegando ter recusado uma oferta de asilo da França. Ela foi colocada em prisão domiciliar, será julgada e pode ser condenada a uma pena de até dez anos de prisão.

Coletivamente, um jeito diferente de protestar tem sido através de mensagens escritas em cédulas e moedas de rublos. O fenômeno passou a ser compartilhado em plataformas como Twitter, Telegram e Reddit. As mensagens são normalmente escritas à mão, sendo as frases mais comuns “não à guerra” e “russos contra a guerra”.

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