China enfrenta pior onda de calor da história recente: rios e lagos secam, falta água para plantio e indústria tem escassez de energia
Onda de calor já dura 75 dias, 12 a mais do que o recorde anterior, de 2013. Temperaturas seguem acima de 40ºC em diversas regiões do país. Drone mostra o maior lago de água doce da China em seu nível mais baixo na estação chuvosa
A China vive a onda de calor mais intensa de sua história recente, segundo o monitoramento do Centro Climático de Pequim, um órgão governamental.
O fenômeno começou no dia 13 de junho, e é considerado o mais severo com base em três diferentes critérios:
intensidade do calor
área geográfica atingida
duração
A onda de calor já se estende por 75 dias, 12 a mais do que o recorde anterior, de 2013. O Centro Meteorológico Nacional diminuiu o grau de intensidade do alerta de vermelho para laranja, após 12 dias no nível máximo, mas ainda assim as temperaturas seguem acima de 40ºC em diversas regiões do país.
Veja nesse texto os seguintes temas:
Qual a dimensão da seca?
Por que o país atravessa uma onda de calor?
Quais os efeitos dessa onda de calor?
Quais são as respostas do governo?
O que a China faz para diminuir suas emissões de gases do efeito estufa?
Pessoas atravessam uma área que geralmente é o leito do lago Poyang, na China, em 24 de agosto de 2022
Thomas Peter/Reuters
Qual a dimensão da seca?
Quase 1.500 observatórios climáticos na China registraram temperaturas acima de 37ºC. A quantidade de registros de mais de 40ºC bateu recordes também.
Neste ano, o número médio de dias seguidos de altas temperaturas na China é de 12 dias —em períodos normais, essa média é de 6,9 dias.
Uma das regiões mais atingidas foi Chongqing, no sudoeste do país. Na quarta-feira, imagens publicadas em redes sociais mostraram residentes dessa área desmaiando por causa do calor intenso durante os testes obrigatórios de Covid-19.
A cidade de Chongqing chegou a registrar 45ºC (foram 11 dias com temperaturas acima de 40ºC).
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Por que o país atravessa uma onda de calor?
Leito do rio Jialing em 20 de agosto de 2022
Mark Schiefelbein/AP
Cientistas já disseram que eventos climáticos extremos no mundo inteiro têm se tornado mais frequentes devido às mudanças climáticas.
A média de temperatura da China subiu mais rapidamente do que a do mundo nos últimos 70 anos, e vai continuar significativamente alta no futuro, de acordo com o governo local.
O departamento de clima do país afirmou em uma avaliação publicada no começo de agosto que a região é sensível para mudanças climáticas, e que as temperaturas subiram 0,26ºC por década desde 1951 (o resto do mundo registrou uma alta de 0,15ºC por década).
“No futuro, o aumento da temperatura média regional da China vai ser significativamente mais alto do que no resto do mundo”, disse Yuan Jiashuang, vice-diretor do Centro Nacional de Clima da China.
Quais os efeitos da onda de calor?
A seca resultante do calor foi responsável por deixar navios encalhados, por uma crise de fornecimento de energia hidrelétrica e obrigou as principais cidades a usar menos luz elétrica.
Por causa da falta de água nos reservatórios para geração de energia hidrelétrica, foi preciso acionar usinas a carvão, que são mais poluentes.
As temperaturas altas atrapalharam o plantio e desenvolvimento de produtos agrícolas, ameaçam o gado e forçaram indústrias a fechar em algumas regiões do país para garantir o fornecimento de energia elétrica às residências.
O lago Poyang, o maior corpo de água doce do país, encolheu em mais de dois terços de seu tamanho.
O país também sofre com incêndios, especialmente em regiões centrais do país próximas do rio Yangtze (esse rio é a hidrovia mais longa da Ásia).
Lin Zhong, professor da City University, de Hong Kong, que estuda o impacto da mudança climática na agricultura, diz que os problemas causados pela falta de água na lavoura podem se alastrar para outros setores ligados à produção de alimentos e que pode haver uma alta de preços de comida ou até mesmo uma crise de oferta de comida, se a situação se tornar mais severa.
O que o governo está fazendo?
Um dos planos para resolver os problemas mais imediatos é tentar “semear” chuvas com o lançamento de artefatos que transportam produtos químicos para o céu.
Mas a falta de cobertura de nuvens atrapalhou essas iniciativas em algumas regiões do país.
Os dirigentes pediram para que as pessoas não exagerem no uso de ar-condicionado. Os trabalhadores do governo de algumas províncias foram orientados a usar escadas em vez de elevadores, sempre que possível.
O governo de Chongqing implementou medidas para proteger o gado e as fazendas de suinocultura, que enfrentam problemas.
O que a China tem feito contra emissões de gases estufa?
A China é o maior emissor de gases do efeito estufa do mundo (os principais são gás carbônico e metano). O país se comprometeu a diminuir a quantidade de emissões a partir de 2030 e se tornar neutro em emissões de gás carbônico em 2060.
A intensidade dos fenômenos climáticos recentes fez com que as pessoas começassem a discutir mais mudanças climáticas no país. O governo do país já reconhece há anos a necessidade de diminuir o aquecimento global, e há uma transição para energias como a solar e a eólica, no país. O governo debate como e com que velocidade trocar a geração por carvão por essas outras, mais limpas.
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