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Mali acusa a França de entregar armas a grupos terroristas no país africano

O governo do Mali enviou uma carta ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), com a data da última segunda-feira (15), na qual acusa a França de entregar armas a grupos terroristas que operam no país africano. As informações são da agência Reuters.

O documento, assinado pelo ministro maliano das Relações Exteriores, Abdoulaye Diop, afirma que o espaço aéreo do país foi invadido mais de 50 vezes por drones, helicópteros militares e jatos das forças armadas francesas.

“Essas violações flagrantes do espaço aéreo do Mali foram usadas pela França para coletar informações para grupos terroristas que operam no Sahel e para lançar armas e munições para eles”, diz a carta, que não apresenta provas das acusações.

Paris, que investiu muito dinheiro na Operação Barkhane de combate ao terrorismo no Sahel africano, tendo o Mali como epicentro, negou as acusações através de sua Embaixada em Bamako. “A França obviamente nunca apoiou, direta ou indiretamente, esses grupos terroristas, que continuam sendo seus inimigos designados em todo o planeta”, disse o órgão através no Twitter.

7) La France n’a évidemment jamais soutenu, directement ou indirectement, ces groupes terroristes, qui demeurent ses ennemis désignés sur l’ensemble de la planète.

— La France au Mali (@FranceauMali) August 17, 2022

Na mesma manifestação na rede social, Paris afirma que 53 de seus soldados morreram no Mali nos últimos nove anos e que o país foi designado pelos extremistas como “inimigo número um” devido à atuação no Sahel. Também afirma ter neutralizado “várias centenas de terroristas“, libertando “muitas cidades do Mali que haviam caído nas mãos de terroristas, que impuseram seu reino de terror”.

Paralelamente à saída dos franceses, crescem os rumores de que a Rússia assumirá a vaga. Inicialmente, essa aliança foi sugerida em função da presença no Mali do Wagner Group, uma organização russa formada por mercenários. Eles receberiam US$ 10,8 milhões por mês para apoiar o governo local contra os extremistas, dinheiro que viria da extração de minerais.

Na segunda-feira (15), mesmo dia em que as tropas francesas finalizavam a saída do país africano, soldados alemães das forças de paz da ONU disseram ter visto militares russos desembarcando e descarregando equipamentos no aeroporto de Gao, no norte do Mali.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

Nesses últimos dez anos, em meio à instabilidade política e à fragilidade dos governos que detiveram o poder central, cresceu a influência de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), com a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares.

Soldados franceses da Operação Barkhane conversam com cidadão do Mali (Foto: Wikimedia Commons)

O jihadismo, antes concentrado no norte do país, se expandiu inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger, e o movimento passou a ganhar força em todo o continente. A região central do Mali, então, se tornou um dos pontos mais violentos do Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

A situação tende a piorar com a retirada das forças armadas da França, finalizada no dia 15 de agosto. Até então, elas eram as principais parceiras do Mali no combate ao terrorismo, mas tiveram que deixar o país devido a um desacerto entre os dois governos.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane de contraterrorismo, a retirada dos militares franceses não tem nenhuma relação com a chegada ao Mali dos mercenários russos do Wagner Group, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano, encabeçado pelo coronel Assimi Goita, desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

A saída dos franceses gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos no combate ao extremismo islâmico. Essa mesma incerteza, que já havia se espalhado pelo Sahel, começa a atingir as nações costeiras da África Ocidental, com destaque para Togo e Benin, que têm registrado ações frequentes de organizações extremistas islâmicas, algo antes raro.

A partir da saída do Mali, a Operação Barkhane tende a mudar sua abordagem e oferecer ajuda apenas aos países que a solicitarem. Nas palavras de Michon, os militares franceses darão “suporte sob demanda, adaptado com flexibilidade para atender às intenções de tal ou tal país”. Permanecerão no Sahel cerca de 2,5 mil soldados, que passarão a atuar como coadjuvantes, dando o protagonismo aos países anfitriões.

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