Ortega transformará imóvel de jornal na Nicarágua em centro cultural
Prédio era ocupado pelo jornal “La Prensa” e está tomado por oficiais do governo desde o ano passado. Bandeira da Nicarágua diante do prédio do jornal “La Prensa”
Inti OCON / AFP
A Nicarágua converterá em centro cultural o local onde funcionava o jornal La Prensa da Nicarágua, crítico do governo de Daniel Ortega e ocupado pela polícia desde o ano passado, anunciou nesta terça-feira (23) o governo.
As instalações do jornal, o mais antigo do país com 95 anos de existência, foram tomadas pela polícia em 13 de agosto de 2021, sob a alegação de uma investigação por fraude e lavagem de dinheiro contra seus diretores.
Nesta terça, a vice-presidente e esposa de Ortega, Rosario Murillo, anunciou a construção do “Centro Cultural e Politécnico José Coronel Urtecho”, que será administrado pelo Instituto Nacional Tecnológico (Inatec).
Homem passa por um outdoor de propaganda do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no início da campanha para as eleições presidenciais, em Manágua, em setembro
Reuters/Maynor Valenzuela
O editor-chefe do La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, foi preso no ano passado em meio a uma sequência de detenções de dirigentes da sociedade civil, opositores e candidatos presidenciais, antes das eleições de novembro de 2021, nas quais Ortega foi eleito para um quarto mandato consecutivo.
“O roubo se concretiza neste 23 de agosto”, mesmo depois de o Ministério Público não ter apresentado provas que comprovem algum ilícito durante o julgamento contra Holmann, denunciou o La Prensa em sua plataforma digital, que atualmente é elaborada no exílio na Costa Rica. Este ano, Holmann foi condenado a nove anos de prisão.
A decisão sobre o La Prensa ocorre um dia depois que o governo inaugurou a “Casa da Soberania” no imóvel que servia de sede para a Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade que foi expulsa do país em abril.
Policiais deixam a sede do jornal ‘La Prensa’, o único de circulação nacional da Nicarágua, em Manágua no dia 13 de agosto de 2021
Maynor Valenzuel/Reuters
A Nicarágua anunciou sua saída da organização em novembro de 2021, depois que a OEA não reconheceu a reeleição de Ortega, ocorrida com seus rivais presos ou exilados.
No último ano, o governo da Nicarágua colocou na ilegalidade 1.500 entidades, entre organizações da sociedade civil e universidades, argumentando que estas não se ajustavam às leis e colocando seus imóveis à disposição do Estado.
Além disso, organizações humanitárias contabilizam 190 opositores presos no país. Ortega, que está no poder desde 2007, os acusa de conspiração para derrubá-lo, com a ajuda de Washington.g1 > MundoRead More