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Rússia fortalece controle da informação após ‘Google’ russo vender plataforma a rival

A Yandex, empresa líder de internet da Rússia, anunciou nesta  terça-feira (23) que fechou a venda da sua plataforma de notícias e sua página inicial yandex.ru para a rival VK, que opera uma rede social de mesmo nome. O negócio pode limitar ainda mais o acesso dos russos à mídia independente. As informações são da rede Radio Free Europe.

A empresa de tecnologia, comparada ao Google no país, justificou a transação em comunicado oficial.

“O conselho e a administração da Yandex concluíram que os interesses das partes interessadas da empresa são mais bem atendidos buscando a saída estratégica de seus negócios de mídia e mudando o foco para outras tecnologias e serviços”, disse a companhia em nota.

Escritório central da Yandex em Moscou (Foto: WikiCommons)

Após passar o controle sobre a distribuição de conteúdo online para uma empresa controlada pelo Estado, o foco da Yandex passa a ser outro. A empresa adquiriu 100% do Delivery Club, um serviço de entrega de comida de propriedade da VK. O acordo já havia sido anunciado em abril deste ano.

A VK, sediada em São Petesburgo, é conhecida como o “Facebook russo”. Parte da empresa pertence à gigante do gás Gazprom, controlada por um amigo de longa data do presidente russo Vladimir Putin, Yury Kovalchuk.

O líder russo já declarou publicamente que Kovalchuk pertence ao seu círculo de amizades. O “amigo do rei”, ao lado da esposa, controla indiretamente uma participação de 32% na Sogaz. Juntos, são os principais acionistas. Em dezembro de 2021, a Sogaz comprou o controle acionário da VK por um valor não revelado.

Kovalchuk virou um figurão da indústria de mídia russa desde que Putin assumiu como presidente interino em 1999 após a renúncia de Boris Yeltsin. Desde então, conquistou grandes fatias do setor, incluindo mais de dez estações de TV. Em troca, usou seu patrimônio para apoiar o chefe do Kremlin.

No entanto, o Yandex era como uma pedra no sapato de Kovalchuk a qual ele não conseguia tirar, já que a plataforma se transformou em uma importante fonte de informação para os russos – inclusive sob ameaça de multas após matérias desfavoráveis ao Kremlin aparecerem em seu agregador de notícias, o que gerou críticas quanto à liberdade de imprensa no país.

Moscou não bloqueou o acesso à maioria das mídias em língua estrangeira, que permanecem disponíveis gratuitamente na Rússia e no Yandex, segundo o jornal turco Daily Sabah. Porém, os resultados da pesquisa restringem o acesso a qualquer site que tenha sido banido pelo Roskomnadzor, órgão estatal regulador da mídia que tem acusado inúmeros veículos de imprensa locais de publicarem conteúdo em desacordo com a narrativa oficial.

A empresa cumpriu nos últimos anos as exigências de Moscou e restringiu o acesso a sites que foram proibidos pelo Roskomnadzor, o que gerou críticas por seu papel na disseminação de propaganda estatal.

Em julho, a Rússia multou o Google em quase R$ 2 bilhões por difundir “conteúdo ilegal” da guerra na Ucrânia. Em geral, plataformas de tecnologia estrangeiras e suas respectivas “notícias falsas” sobre o conflito estão na mira do Kremlin.

“Liberdade comprada”

No dia 1º de março, um ex-chefe do Yandex News, Lev Gershenzon, descreveu o Yandex como “um elemento-chave para ocultar informações sobre o conflito na Ucrânia“.

“Estamos comprando nossa liberdade”, disse uma fonte próxima ao Yandex. “Este negócio tinha sido um peso para os nossos pés. Isso nos permitirá fazer nossos negócios significativamente despolitizados, praticamente completamente despolitizados.”

Por que isso importa?

No início de março, a censura atingiu redes sociais como Facebook e Twitter, além de diversos sites informativos russos e estrangeiros em atividade no país. Eles foram parcialmente bloqueados em meio à repressão imposta por Moscou às vozes dissonantes durante a guerra.

A fim de legitimar a censura, o Legislativo da Rússia aprovou naquela mesma época uma lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas. Trata-se de mais uma ferramenta de censura do Kremlin para reprimir a oposição e silenciar os meios de comunicação não alinhados com o governo.

Oficialmente, o objetivo da normativa legal é “impedir o descrédito das forças armadas da Federação Russa durante suas operações para proteger os interesses da Federação Russa e de seus cidadãos, mantendo a paz e a segurança internacionais”.

De acordo com o texto legal, passa a ser proibido publicar conteúdo “contra o uso de tropas russas para proteger os interesses da Rússia” ou “para desacreditar tal uso”, o que prevê uma pena de até três anos de prisão. A mesma punição se aplica àqueles que venham a pedir sanções à Rússia.

Em certos casos, o artigo prevê pena máxima de até dez anos de prisão, mas pode haver agravantes que venham a aumentar a sentença. Nos casos que a Justiça considere terem gerado “consequências sérias”, a punição sobe para até 15 anos.

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