Dura na política externa, Liz Truss é impopular no cenário internacional
Nova premiê britânica deve buscar confronto com a União Europeia e acirre retórica em relação a Rússia e China. Saiba quem é Liz Truss
Como ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss era vista com desconfiança, sobretudo entre seus pares da União Europeia, pelo estilo duro e direto com que manejou o divórcio do Brexit. Ela desembarca no comando do governo britânico como sobrevivente profissional, após ter trabalhado diretamente com os três últimos primeiros-ministros.
Mas não é popular no cenário internacional.
Espera-se que, agora como premiê, Truss imprima sua marca, buscando um confronto com a UE ao rescindir o Protocolo da Irlanda do Norte no acordo do Brexit, ou acirrando a ira de Rússia e China, com uma postura agressiva que valoriza o apoio vigoroso à Ucrânia e a defesa de Hong Kong.
PERFIL: Quem é Liz Truss, uma admiradora de Margaret Thatcher que pretende seguir seus passos como primeira-ministra do Reino Unido
A nova primeira-ministra não esconde a admiração por Margaret Thatcher, a quem procura imitar, apresentando-se como reformista. Ela foi a face do governo britânico durante o conflito russo na Ucrânia. Um tenso e frio encontro entre Truss e o chanceler Sergei Lavrov, às vésperas da invasão, destacou o abismo entre eles. “O que temos é uma conversa entre um mudo e um surdo”, resumiu o russo diante dela.
Liz Truss, então ministra de Exteriores, o o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, durante entrevista coletiva conjunta em Moscou em fevereiro de 2022.
Ministério das Relações Exteriores da Rússia/Divulgação/REUTERS
Chamada de sanguinária e destrutiva pela porta-voz de Lavrov, Truss desdenha a Rússia, defendendo mais e mais sanções ao país, mas não a ponto de arriscar-se a uma ofensiva militar. Costuma ser mais dura na pressão aos EUA sobre o apoio ao presidente Volodymyr Zelensky para a reconstrução da Ucrânia do que Johnson sonhou ser.
Mas seus críticos destacam que a retórica agressiva, em relação a Rússia e China, se sobrepõe à prática, que equivale basicamente à liberação de recursos financeiros para implementar os projetos.
Os desafios mais prementes na política externa estão no continente europeu. Ela encara como fracos os ex-parceiros do Reino Unido, distantes depois do referendo popular que resultou no divórcio com a União Europeia. Truss virou a casaca – de partidária da permanência no bloco, transformou-se em brexiter convertida e fervorosa.
Sob a sua gestão, as relações com o bloco tendem a piorar, pela disposição em manter a disputa sobre o Mar da Irlanda. Enganou-se quem pensou que ela seria uma emissária do diálogo.
Ao contrário, como chanceler, Truss apresentou um projeto de lei controverso que permite ao país suprimir unilateralmente partes do Protocolo da Irlanda do Norte, reescrevendo, assim, o acordo com a UE. Aprovada pela Câmara dos Comuns, a legislação poderá ser barrada na Câmara dos Lordes.
Para ser escolhida pela base de 160 mil filiados conservadores, a nova premiê britânica cortejou com veemência a ala eurocética do partido, mas tem o peso de uma grave crise econômica e energética sobre os ombros. Sua fama de camaleoa poderá forçá-la, contudo, a ser mais pragmática na política externa.g1 > MundoRead More