Apesar da falta de gols, o jogo entre Flamengo e Cruzeiro merece ser valorizado
Flamengo 0 x 0 Cruzeiro | Melhores momentos | 26ª rodada | Campeonato Brasileiro 2025
Desde que a globalização concentrou, de forma irremediável, dinheiro e talentos em um punhado de ligas da Europa, a discussão sobre a diferença entre o padrão do Campeonato Brasileiro e os principais torneios do mundo se tornou incontornável. Nossos principais clubes cresceram economicamente, tornaram-se atraentes para jogadores antes inacessíveis, mas naturalmente o Brasil ainda exporta seus jovens mais promissores, seus jogadores de elite.
Mas, em paralelo, havia outra cobrança aos jogos disputados no país: que taticamente déssemos um passo adiante. A sensação de intensidade menor, de mais espaço, como se o campo por aqui ficasse maior. O debate é complexo, porque passa por calendário, gramados, clima, duração das viagens… Mas, de todo modo, embora um 0 a 0 seja sempre um desfecho um tanto frustrante para um clássico muito aguardado, o Flamengo x Cruzeiro de quinta-feira precisa ser valorizado. O jogo teve quase tudo o que sempre cobramos por aqui.
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Samuel Lino é marcado de perto por Lucas Romero no jogo entre Flamengo x Cruzeiro
Thiago Ribeiro/AGIF
Durante quase todo o tempo, quem tinha a bola não tinha paz, não tinha tempo. Duas pressões bem executadas reduziam ao máximo o espaço, exigiam ações rápidas, o campo do Maracanã parecia menor do que o habitual. Filipe Luís e Leonardo Jardim, ainda que o primeiro disponha de mais fartura de jogadores de primeiro nível, conduzem trabalhos de excelência, absolutamente conectados com o que se vê na elite do jogo.
Outro detalhe a favor da partida: mesmo com pouco espaço e tempo para pensar e executar, o que se viu foi um jogo que, especialmente no segundo tempo, produziu chances de gol. Porque em campo havia uma quantidade importante de ótimos jogadores. Mesmo em condições tão hostis, Jorginho, Carrascal, Plata, Matheus Pereira, Matheus Henrique, todos eles se destacaram com bola. Foi um ótimo jogo, cuja história é bem contada através do empate no placar, ainda que os 90 minutos pudessem ter tido gols.
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Estrategicamente, o jogo foi rico desde as escalações. Filipe Luís optou por Plata e não por Pedro no centro do ataque para ter mais possibilidades de atacar a profundidade de uma defesa que joga mais adiantada, tornando o Cruzeiro muito compacto. Ao ter um jogador capaz de correr às costas, tentava inibir o avanço dos defensores rivais e gerar espaços. Já Leonardo Jardim colocou Matheus Henrique no lugar de Wanderson, preenchendo o meio-campo e melhorando a marcação pelos lados.
O início de jogo é mais rubro-negro do que cruzeirense, especialmente a partir de um movimento da saída de bola dos donos da casa: Jorginho se colocava à direita dos zagueiros, buscando ser um homem livre na saída e fazendo passes em profundidade. Em dados momentos, atraía a pressão de um dos volantes do Cruzeiro e criando vantagens no lado direito, por onde se juntavam Varela, Carrascal e Plata.
Aos poucos, a boa marcação faz o Cruzeiro estabilizar o jogo. Além disso, o Flamengo tinha dois problemas: sem Pedro, ficou a sensação de falta de presença na área; e a busca por aproveitar espaços às costas da defesa induz o Flamengo a acelerar demais o jogo. Com isso, o time perde bolas e dá aos visitantes exatamente o que buscavam: ataques rápidos, com meias encontrando espaços entre os volantes e defensores rubro-negros.
Aos poucos, o bom futebol de Matheus Henrique apareceu, assim como o excelente entendimento de Matheus Pereira e Kaio Jorge. Mas foi numa inversão de jogada para Kaiki, num lance em que o Cruzeiro concentrou jogadores pelo centro até buscar o lançamento para a ponta esquerda, que surgiu a melhor chance da partida até ali.
O início do segundo tempo tem outro ótimo momento do Flamengo. Desta vez, o time controlava melhor o ritmo dos seus ataques, evitava perdas de bolas e, ao recuperar rápido a posse ainda no campo ofensivo, sustentava uma pressão por mais tempo. Até que, em dado momento, possivelmente por uma queda física, a capacidade de recuperar bolas caiu. E, novamente, o ótimo time do Cruzeiro voltou a oferecer escapadas perigosas.
Filipe Luís tirou Samuel Lino, que não jogava bem, e colocou Bruno Henrique. Provavelmente, havia dois motivos: a capacidade de atacar as costas da defesa, e a possibilidade de encontrar finalizações em cruzamentos para a segunda trave. Afinal, o próprio Lino tivera dois bons lances nessas condições.
De tão equilibrado que era o jogo, os treinadores foram até os 77 minutos com apenas uma troca de cada lado. No fim, era natural uma maior pressão do Flamengo, que ficara com um jogador a mais na expulsão de William. De todo modo, o 0 a 0 é coerente com a história da partida, ainda que o bom jogo merecesse gols. geRead More


