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Lula reverte votos e ajuda Rio-Niterói na eleição para sede do Pan 2031, diz presidente do COB

Lula reverte votos e ajuda Rio-Niterói na eleição para sede do Pan 2031, diz presidente do COB

Rio e Niterói são oficialmente candidatas a receber Pan-Americano de 2031
Luiz Inácio Lula da Silva fez a abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Maracanã. Dezoito anos depois, presidente da República em seu terceiro mandato, Lula novamente está à frente do país e com influência decisiva para que o Pan seja realizado também pela terceira vez no Brasil, em 2031, agora nas cidades de Rio de Janeiro e Niterói.
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Quem revelou a participação de Lula na conquista de votos para que a candidatura Rio-Niterói seja escolhida sede do Pan de 2031 foi o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Marco Antônio La Porta. Em entrevista exclusiva ao ge, La Porta contou como a eleição que vai ser realizada no próximo dia 10 de outubro, em Santiago, no Chile, estava nas mãos da candidatura de Assunção, capital do Paraguai, mas foi revertida em favor do Brasil nos últimos dias. E a virada começou na casa dos adversários, durante os Jogos Pan-Americanos Júnior, entre 9 e 23 de agosto passado.
– O cenário agora é bom. A gente entrou na briga efetivamente a partir do Pan Júnior de Assunção. Quando a gente chegou lá, estava 70% a 30% para eles. Hoje, eu diria que está 55% a 45% para gente – afirma La Porta ao ge.
Presidente Lula e ministros posam com atletas que representaram o Brasil nas Olimpíadas de Paris
Ricardo Stuckert/Presidência da República
A reportagem do ge confirmou com o diretor-geral do COB, o campeão olímpico do vôlei de praia Emanuel Rego, que a campanha brasileira em viagem pela América Central também surtiu efeito na conquista de votos nos últimos dias. Nesta semana, uma comissão da PanAm Sports, que gere os Jogos Pan-Americanos, visita, primeiramente, Assunção e, entre 1 e 3 de outubro, vai ao Rio e Niterói para conhecer os últimos detalhes antes da escolha dia 10.
Na entrevista abaixo, concedida durante a COB Expo, feira do Comitê Olímpico do Brasil realizada entre 24 e 28 de setembro, em São Paulo, La Porta ainda explicou a importância dos votos das ilhas do Caribe, entre os 41 países que compõe a lista de votantes do Pan, falou como o críquete pode ajudar o Brasil tanto quanto o futebol nesta eleição e mostrou confiança no trabalho que o COB começou de forma tardia nesta preparação para receber os Jogos de 2031.
Presidente do COB, Marco La Porta, durante o Pan Júnior de Assunção 2025
Grazie Batista/COB
ge – Assunção, no Paraguai, era favorito a ganhar o Pan de 2031?
Marco La Porta – A gente chegou tarde na campanha. O Paraguai está trabalhando nisso há 6 anos. Eles perderam para Lima 2027, mas continuaram em campanha. A nossa primeira dificuldade foi essa. A gente chegou num momento em que eles já tinham tudo articulado. Eu, um player novo, os presidentes dos comitês olímpicos nacionais, são 41 que votam, não me conheciam.
Você teve que se apresentar aos outros países?
Eu tive que estabelecer uma relação e, nesse meio, é muito difícil. Você precisa estabelecer relação para que as pessoas acreditem em você. A gente começou muito atrás, o Paraguai estava bem na frente, mas lá no evento em Assunção, no Pan Júnior, o jogo começou a equilibrar mais. Por quê? Primeiro, eu consegui me aproximar dos comitês, sentar com cada um deles, me apresentar, falar um pouquinho do projeto do Brasil. Esse projeto tem uma diferença em relação a 2007. Ele não nasceu no Comitê Olímpico, ele nasceu nas prefeituras.
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Rio de Janeiro e Niterói tem tudo pronto. Nós não temos legado de estrutura física para competições que a gente vai usufruir. Isso aí tá tudo pronto. O que a gente tem agora é um legado técnico, diz Marco La Porta
Apresentação oficial da candidatura Rio-Niterói ao Pan 2031, com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o do COB, Marco La Porta
Miriam Jeske/COB
E qual o papel do COB?
A gente teve que explicar qual era o interesse do Comitê Olímpico do Brasil neste evento. O que a gente tem mostrado para eles, e é verdade, é que o Rio de Janeiro e Niterói têm tudo pronto. Nós não temos legado de estrutura física para competições que a gente vai usufruir. Isso aí tá tudo pronto. O que a gente tem agora é um legado técnico, isso eu deixei claro para os prefeitos, que a gente quer o Centro de Treinamento do COB com uma pista de atletismo, com alojamento, com refeitório que a gente não tem hoje.
O CT do COB vai ser ampliado?
Isso é o principal legado. Fazer um trabalho com os outros países das Américas porque é muito mais fácil para gente trazer, por exemplo, que o pessoal de Cuba, de wrestling, possa fazer um training camp aqui no Brasil, nessas instalações olímpicas, do que a gente ir para lá. É uma forma de você vender esse intercâmbio que o Brasil se afastou.
“O Brasil quer ser protagonista na América, e não está sendo mais. E a gente quer fazer um trabalho juntos” – disse o presidente do COB aos outros comitês nacionais
Vista aérea do Parque Olímpico de Assunção, no Paraguai
Divulgação/Panam Sports
O que você disse aos presidentes de outros comitês nacionais?
O meu discurso com os presidentes de comitês olímpicos nacionais era esse: “Olha, eu tô entrando (na eleição) porque eu tenho esse interesse. O Brasil quer ser protagonista na América, e não está sendo mais. E a gente quer fazer um trabalho juntos”. Isso bateu muito bem.
Quem vai votar no Brasil?
Os países que são maiores, Estados Unidos, Canadá e México estão com a gente. Eles sabem que o Brasil tem condições de oferecer e entregar um projeto muito maior do que no Paraguai.
– O presidente Lula ligou, pessoalmente, para alguns presidentes, principalmente de países de esquerda. Ele fez um trabalho importante, revertemos alguns votos que eram deles, por causa da ligação do presidente Lula – afirma La Porta.
Arenas Carioca, no Parque Olímpico
Beto Kaulino
E como viraram os votos dos outros países?
A gente foi conversando, e o jogo deu uma equilibrada. Teve o apoio do Governo Federal, o presidente Lula ligou, pessoalmente, para alguns presidentes, principalmente de países de esquerda. Ele fez um trabalho importante, revertemos alguns votos que eram deles, por causa da ligação do presidente Lula. Foi importante nesse momento.
Lula se empenhou pessoalmente?
O Lula ligou de presidente para presidente. Se empenhou mesmo. O ministro das relações exteriores do Brasil (Mauro Vieira), que é de Niterói, facilitou, está ligando para os caras. Um dia antes de viajar para São Domingo, que eu tinha marcado reunião, o cara mandou um ofício de comitê a comitê: “Nicarágua apoia o Brasil, apoia Rio-Niterói”.
– Você pega as lideranças da América do Sul, são Peru e Paraguai. Inacreditável. (…) Esse cenário político é fundamental para garantir o sucesso da candidatura. A participação do Lula na Assembleia da ONU contribuiu para angariar votos e fortalecer nossa posição – conta o presidente do COB.
Lula entre Cesar Maia e Sérgio Cabral na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007
Reprodução TV Globo
Houve uma virada a favor do Brasil então?
O cenário agora é bom. A gente entrou na briga efetivamente a partir do Pan Júnior de Assunção. A gente chegou lá estava 70% a 30% para eles. Hoje acho que eu diria que tá 55% a 45% para gente ainda. Está apertado mesmo, porque o Camilo (Pérez López Moreira, presidente do Comitê Olímpico Paraguaio) conhecia todo mundo. Qual foi a minha vantagem? Eu sou uma ficha em branco. As pessoas não me conhecem. O Camilo ali tem umas resistências. Não é um cara fácil também, alguns já reclamaram comigo.
O Paraguai estava à frente até na América do Sul?
O Peru, por exemplo, tem grande afinidade conosco. Você pega as lideranças da América do Sul, são Peru e Paraguai. Inacreditável. Eu tenho o Peru, tenho Uruguai, tenho o Chile, a Colômbia e tem a Guiana. Ele (Camilo, do Paraguai) está com a Venezuela, que acho que está revertendo. Fizeram uma reunião com o ministro de relações exteriores lá. A relação do presidente (Nicolás) Maduro com Lula está meio estremecida, mas Lula fez uma defesa da Venezuela, agora, na ONU, que pode ter melhorado. A Argentina está com eles, o Equador está com eles, Bolívia também. Esse cenário político é fundamental para garantir o sucesso da candidatura. A participação do Lula na Assembleia da ONU contribuiu para angariar votos e fortalecer nossa posição.
– A gente está tentando levar um atleta lá para Santiago para reverter voto. Tem a Marta, mas ela tem jogo no calendário, não conseguia. Tem Ronaldo, aí não tinha agenda. Tá difícil – diz La Porta.
Ainda há tempo de conquistar votos?
Agora estamos na reta final. Estamos com a equipe lá em São Domingo agora (25/09), porque tem a Assembleia dos Países da América Central e do Caribe, que é quem decide isso. Aquelas ilhazinhas ali, tem um peso igual Equador, Uruguai… Decidem.
Quem representou o Brasil na viagem?
O Emanuel (Rego) está lá, o vice-prefeito do Rio (Eduardo Cavaliere) e o Rodrigo Neres (prefeito de Niterói), Isabel Swan (medalhista olímpica e vice-prefeita de Niterói) estão lá. Todos conversando com cada um deles para tentar mostrar o projeto e trazer voto. O feedback de todo mundo é que está bom, eles estão entendendo.
– Atletismo é no Engenhão mesmo. Tem que trocar grama, não pode ser artificial. É possível fazer lá – conclui o presidente do COB.
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GettyImages
Mais algum voto revertido por lá?
A gente dá umas sortes. O críquete. Fui jantar com a Roberta (Moretti Avery), presidente (da Confederação Brasileira de Cricket), e com o CEO, Matt Featherstone. O críquete é muito forte no Caribe. É todo o interesse nosso que tenha o críquete no Pan. O Matt está lá, conversando com os caras e falando: “Ó, vai ter críquete no Brasil, Brasil tem federação”. E está revertendo voto por causa disso.
Mais algum esporte além do críquete ajudou na campanha?
Outro que agora tem uma reunião é o Samir (Xaud, presidente da CBF), do futebol. Jamaica, Guianas… A gente está tentando levar um atleta lá para Santiago para reverter voto. Tem a Marta, mas ela tem jogo no calendário, não conseguia. Tem Ronaldo, aí não tinha agenda. Tá difícil.
Por falar nos esportes, para fechar, está decidido onde será o atletismo caso Rio-Niterói seja escolhida como sede?
Atletismo é no Engenhão mesmo. Tem que trocar grama, não pode ser artificial. É possível fazer lá. Esportes de praia serão todos em Niterói: o vôlei de praia, o surfe vai ser lá.
Engenhão, Nilton Santos, pista
Divulgação / Rio 2016 geRead More