Rússia à beira de sua maior vitória na Ucrânia desde 2023: por que Pokrovsk virou o novo epicentro da guerra
A Rússia está próxima de conquistar sua maior vitória territorial na Ucrânia desde a queda de Bakhmut, em 2023. O Kremlin concentra seu poder de fogo e milhares de soldados na cidade de Pokrovsk, no leste do país, uma das últimas portas de entrada para a região de Donetsk, que o presidente Vladimir Putin há anos tenta dominar. As informações são do The New York Times.
Após meses de bombardeios contínuos, Pokrovsk foi praticamente reduzida a ruínas. A cidade, que antes da guerra abrigava cerca de 60 mil habitantes, hoje tem menos de 1.300 moradores. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, quase um terço de todos os combates na linha de frente, que se estende por 1.200 quilômetros, ocorre ali, e metade dos ataques russos com bombas planadoras têm a cidade como alvo.
Comitiva do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visita tropas em Pokrovsk, cidade estratégica na região de Donetsk, em novembro de 2024 (Foto: WikiCommons)
O avanço russo é confirmado por análises do DeepState, grupo ligado às forças armadas ucranianas, que mostra tropas de Moscou controlando a periferia sudoeste da cidade e disputando o restante em ferozes combates urbanos. “O inimigo continua concentrando suas forças na cidade”, afirmou o grupo, alertando que Pokrovsk está “sendo gradualmente absorvida”.
Pokrovsk: símbolo e estratégia
Se confirmada a queda de Pokrovsk, será a maior cidade ucraniana conquistada pela Rússia desde Bakhmut, consolidando o avanço russo sobre Donetsk. A vitória teria grande peso político e simbólico: além de reforçar a narrativa de força do Kremlin, serviria para pressionar Kiev e a comunidade internacional diante das exigências de Moscou por um cessar-fogo favorável.
A perda de Pokrovsk também colocaria em risco cidades estratégicas próximas, como Kramatorsk e Sloviansk, últimos grandes redutos sob controle ucraniano em Donetsk.
Resistência e exaustão
Apesar da ofensiva, as forças ucranianas tentam resistir, com operações de contra-ataque em bairros da cidade. Zelensky visitou tropas na região e condecorou soldados, reafirmando que “em Pokrovsk, continuamos a destruir o ocupante”. No entanto, as forças de Kiev enfrentam uma grande desvantagem numérica: segundo o próprio presidente, as tropas russas superam as ucranianas em oito para um na área.
A escassez de soldados e recursos tem sido um dos principais desafios da Ucrânia. A guerra se arrasta em um cenário de desgaste, em que drones, bombardeios e ataques de infantaria em pequenos grupos determinam o ritmo lento e sangrento do conflito.
“O que é notável em Pokrovsk é que as forças russas levaram tanto tempo para alcançar um objetivo que era prioridade máxima para Putin”, disse Laura Cooper, ex-funcionária do Pentágono. “Isso esfria qualquer previsão de uma conquista rápida de Donetsk.”
Cidades sob ameaça
Pokrovsk fica a menos de 80 quilômetros de Kramatorsk, e as duas cidades já estão ao alcance de drones de ataque russos. Para os civis, o perigo é constante. “Quando você ouve um drone, ele zune sem parar e depois mergulha sobre você ou sobre algum carro. É aterrorizante”, contou Iryna Bondarenko, 24 anos, moradora de Sloviansk e mãe de uma criança de três anos.
A guerra de desgaste
O avanço russo em Donetsk reflete o novo estágio da guerra: uma disputa lenta, brutal e marcada por grandes perdas humanas. Estimativas recentes indicam que quase um milhão de russos foram mortos ou feridos, o dobro do número de baixas ucranianas. Ainda assim, Moscou mantém sua estratégia de “avanços por desgaste”, enquanto Kiev tenta conter as brechas com o que resta de suas forças.
“Os russos certamente estão perdendo muito, mas nós também. E não podemos nos dar a esse luxo”, disse Yevhen, comandante de um pelotão de drones ucraniano.
Com o inverno se aproximando, as condições no front devem se tornar ainda mais difíceis, tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia. Mas a batalha por Pokrovsk pode definir o rumo da guerra nos próximos meses, e marcar o início de uma nova fase do conflito no leste europeu.
Fonte: A Referência
