Investigação aponta sofisticado esquema para gerenciar US$ 4,5 bilhões em bens ligados a Putin
Uma investigação que durou mais de um ano, realizada pelo site independente russo Meduza e pelo Projeto de Denúncia de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP), identificou uma complexa teia de empresas estabelecida com o aparente intuito de gerenciar bens avaliados em US$ 4,5 bilhões, muitos deles repassados ao presidente da Rússia Vladimir Putin por amigos e oligarcas.
Estabelecer as propriedades do líder russo sempre foi um grande desafio dos jornalistas investigativos do país e dos opositores de Putin, com destaque para Alexei Navalny. Oficialmente, o presidente é dono apenas de um pequeno apartamento em São Petesburgo, dois carros antigos da era Soviética, fabricados nos anos 1950, um trailer e uma pequena garagem.
Entretanto, investigações diversas já associaram a ele um palácio, iates e, agora, um vinhedo e um resort de ski. A investigação do OCCRP reforça as suspeitas de que ele usufrua de inúmeros bens que, embora não estejam registrados em nome dele, sejam de fato propriedade do líder russo.
O principal indício de que um grande esquema foi armado para omitir a riqueza de Putin aponta para o domínio LLCInvest.ru. Uma série de e-mails enviados em setembro do ano passado mostram que diversas empresas de vários ramos de atuação, aparentemente sem qualquer ligação umas com as outras, usavam endereços digitais da LLCInvest.
O presidente Vladimir Putin acompanha o diálogo entre Rússia e Alemanha no Kremlin, Moscou, em janeiro de 2020 (Foto: Divulgação/Kremlin)
“A única explicação que vejo é que essas empresas estão unidas por um sistema de gestão comum”, disse um especialista em corrupção na Rússia, que analisou o caso e pediu anonimato devido à repressão estatal. “Parece acima de tudo uma cooperativa ou uma associação, na qual seus membros podem trocar benefícios e propriedades”.
A investigação aponta que muitos proprietários de empresas inseridas no conglomerado LLCInvest são amigos e associados de Putin desde os tempos em que ele era um alto funcionário do governo de São Petersburgo na década de 1990.
De acordo com o OCCRP, 86 empresas e organizações sem fins lucrativos parecem fazer parte dessa rede. “Juntos, detêm ativos no valor de pelo menos US$ 4,5 bilhões, incluindo mansões, jatos executivos, iates e contas bancárias cheias de dinheiro. Todos estão interconectados, compartilhando os mesmos diretores corporativos, endereços de registro e provedores de serviços, como auditores e registradores”, diz o relatório divulgado pelos investigadores.
Cinco pessoas legalmente listadas como representantes da LLCInvest foram procuradas, mas apenas uma se dispôs a falar. “Sou um empregado humilde e cuido da minha vida. Só assino papéis. Sabe como às vezes os sem-teto são registrados como diretores de uma empresa? Não sou sem-teto, mas assino os papéis, como eles, sem entrar em detalhes”, disse o homem, cuja identidade foi preservada por questões de segurança. “Se minha empresa fizesse parte de uma grande holding, eu não saberia”.
Por trás das 86 empresas e organizações listadas está a Moskomsvyaz, empresa de TI (tecnologia de informação) detentora do domínio LLCInvest.ru e ligada ao Banco Rossiya. Por sua vez, o banco é acusado de servir a Putin e seus aliados, tendo sido sancionado pelo Tesouro dos EUA e descrito pelo órgão como “o banco pessoal para altos funcionários da Federação Russa”.
“Cerca de 18 das empresas parecem não ter nenhuma ligação com o banco à primeira vista, mas na verdade pertencem a funcionários do banco de nível inferior. A maioria dos outros pertence a amigos e associados de Putin, como Rotenberg e Rudnov”, diz o relatório, citando o amigo de Putin Arkady Rotenberg e Sergei Rudnov, filho de outro velho amigo que morreu em 2015.
Os bens de Putin
Entre os bens citados pela investigação destaca-se um palácio avaliado em US$ 1,3 bilhão localizado na região do Mar Negro, cuja relação com Putin foi citada pela primeira vez pela equipe do oposicionista Alexei Navalny. A megaconstrução teria, entre outros caprichos, uma pista de patinação no gelo e uma sala de pole dance.
Imagem da fachada do que seria o palácio de US$ 1,3 bilhão de Putin (Foto: fbk.info)
Outras propriedades que chamam a atenção na lista são um vinhedo com mais de 200 hectares, que inclui uma vinícola, uma mansão e um spa, e um resort de ski nas proximidades de São Petesburgo. A relação tem outros imóveis e terrenos, quatro iates e até uma companhia aérea, a Russair, que diz oferecer voos fretados para todos os cantos do mundo. Entretanto, a companhia parece ser apenas uma fachada para o registro de jatos executivos que seriam também propriedade de Putin, vez que não tem nenhum avião comercial em seu nome.
Nenhum dos bens está diretamente registrado no nome de Putin. Eles pertencem, tecnicamente, a pessoas próximas a ele ou a empresas diversas. A única conexão entre todos é, direta ou indiretamente a LLCInvest.
“Embora as empresas LLCInvest possuam palácios, residências e iates que parecem ser ativos privados, muitos deles parecem funcionar mais como veículos de investimento, mantendo grandes participações em negócios em funcionamento”, diz o OCCRP. “Algumas dessas empresas são conhecidas há muito tempo por estarem vinculadas ao Banco Rossiya. Outros pertencem a um grupo aparentemente díspar de proprietários que, até agora, não tinham nenhuma conexão óbvia com o banco ou entre si”.
Mesmo que alguns desses itens não sejam exatamente de Putin, o emaranhado de empresas indica um grande esquema de corrupção no governo russo. “Eu não especularia sobre quem é o proprietário do beneficiário final, mas há indicadores claros de um esquema de evasão de sanções”, disse o especialista em corrupção. “[Essas] formas opacas de manter ativos, conectados a pessoas politicamente influentes, indicam um risco aumentado de corrupção e lavagem de dinheiro”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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