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Hulk se vê desrespeitado por árbitros, revela que quase deixou o Atlético-MG e bastidores de 7×1: “Pesadelo”

Hulk se vê desrespeitado por árbitros, revela que quase deixou o Atlético-MG e bastidores de 7×1: “Pesadelo”

Atacante do Galo completa 20 anos como profissional e, em entrevista exclusiva ao ge, revisitou carreira, falou de identificação com o Galo, racismo sofrido na Rússia, idolatria do Porto e futuro Aos 12 anos, Hulk saiu do bairro José Pinheiro, na Zona Leste de Campina Grande, na Paraíba, em busca de um sonho: se tornar jogador de futebol. Aos 38 anos, o atacante do Atlético-MG completou 20 anos de profissional no última dia 9. Com dezenas de títulos na bagagem, idolatria conquistada no Brasil, Europa e Ásia, ele carrega uma história de superação e afirmação para contar aos cinco filhos.
Hulk relembra casos de racismo na Europa: “Sofri bastante”
A maior parte da carreira, Hulk construiu longe do Brasil. Foi para o Japão com 18 anos, passou por Portugal, Rússia e China. Se tornou o único jogador a ter uma estátua no museu do Porto ainda sem ter encerrado a carreira.
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Na volta ao Brasil, depois de 16 anos, precisou de apenas uma temporada para levantar três troféus e ajudar a encerrar um jejum de 50 anos do Atlético sem ganhar o Brasileiro. Conquistou a Massa e alcançou a prateleira mais alta dos ídolos do clube mineiro. Os gritos de “Hulk, Hulk, Hulk “, que ecoam em todos os jogos, estão gravados na história do time e na memória coletiva da torcida.
Em entrevista exclusiva ao ge para o Abre Aspas, Hulk revisitou os 20 anos de carreira, deu detalhes sobre sua passagem na Europa, comentou como lidou com o racismo na Rússia, contou bastidores da seleção brasileira no fatídico 7 x 1, analisou a relação com a arbitragem brasileira e a identificação com o Galo, além de revelar que pensou em deixar o clube no fim de 2023.
“Na verdade, eu pensei sim (em sair do Galo). Trouxe até uma proposta para o Rodrigo (Caetano, diretor de futebol). Ninguém sabe disso, não abri para ninguém. Tinha uma proposta da Arábia, mostrei para o Rodrigo e falei: “Quero ir embora, estou cansado disso”.
– O Rodrigo veio e aliviou meu coração. Disse: “a Camila está grávida. Vai nascer sua filha”. Resolvi ficar. É claro que a cabeça quente acabou impulsionando eu falar aquilo. Mas eu tinha proposta sim – concluiu Hulk.
“Me sinto desrespeitado”
Hulk em entrevista para o Abre Aspas do ge
Reprodução/ ge
Hulk retornou ao Brasil em 2021 após encerrar o contrato na China. Tinha propostas de outros clubes, inclusive da Europa, mas preferiu o Galo. Os filhos e a família tiveram papel importante na decisão. Nos últimos quatros anos, conquistou sete títulos com a camisa alvinegra. Mas foi alvo também de polêmicas com a arbitragem brasileira. Hulk diz se sentir desrespeitado.
“Não uso a palavra perseguição. Eu acho que é falta de respeito. Porque a partir do momento que você fala comigo e eu dou as costas, eu faltei com respeito com você” , explicou o camisa 7.
– Se eu não posso dar as costas para ele, por que ele pode dar as costas para mim? Acho que é essa comunicação. Na Europa não tem isso. Não tem isso porque o árbitro se impõe. Ele conversa e quando tem que dar cartão, ele aplica o cartão. Mas nunca dá as costas. Nunca presenciei isso em Liga dos Campeões. Aqui não tem.
“Estou tendo algum pesadelo”
Hulk era um dos atletas que fizeram parte da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O atacante esteve em campo no Mineirão no fatídico 7 a 1 para a Alemanha. O assunto é pouco falado por todos envolvidos naquela partida. Ao ge, o jogador contou bastidores de como foi o intervalo da partida, quando o Brasil já perdia de 5 a 0.
– Sem dúvidas, foi o pior momento, falando na parte futebolística, falando como profissional, o pior dia. Foi difícil. Eu ficava olhando e pensando: ‘Estou tendo algum pesadelo, isso não está acontecendo” – contou o atacante.
Abre Aspas: Hulk repassa carreira na Europa e elege 7 x 1 como pior momento
“Quando aconteceu dos 5 a 0, no intervalo do jogo, a gente olhava um para o outro, tentando entender o que estava acontecendo. O Felipão até falou: ‘Vamos voltar lá, tentar minimizar ao máximo. É o que a gente pode fazer’. No final da partida, todo mundo chorando, ninguém queria pegar o celular”.
Neymar, Hulk e Oscar Seleção Brasileira
Getty Images
Ficha técnica
Nome completo: Givanildo Vieira de Souza
Nascimento: 25 de julho de 1986 em Campina Grande, na Paraíba
Carreira: Vitória, Kawasaki Frontale (Japão), Consadole Sapporo (Japão), Tokyo Verdy (Japão), Porto (Portugal), Seleção Olímpica, Zenit (Rússia), Shanghai (China), Seleção Brasileira, Atlético-MG
Títulos: Liga Portuguesa (quatro vezes), Taça de Portugal (três vezes), Supertaça de Portugal (três vezes) Liga Europa, Liga Russa, Supertaça da Rússia, Copa da Rússia, Liga Chinesa, Supercopa da China, Campeonato Mineiro (quatro vezes), Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Supercopa do Brasil, Copa das Confederações
Abre Aspas: Hulk
ge: quem é o Hulk?
– Para quem conhece apenas o Hulk, atleta profissional, jogador de futebol, eu sou o Givanildo Vieira de Souza. Vim de Campina Grande, do bairro José Pinheiro, Zona Leste. Comecei a viajar com 12 anos de idade pelo mundo. Me tornei profissional com 16 anos, fui para o Japão com 18 anos. Desde então, tudo começou a mudar na minha vida. Sou pai do Yan, Thiago, Alice, Zaya e Aisha. Casado com Camila Souza. Filho de Gilvan e Socorro. Esse é o Givanildo Vieira de Souza, mais conhecido como Hulk.
Como é o Hulk pai? Você consegue acompanhar a rotina deles, o dia a dia?
– Eu procuro, acima de tudo, ser o mais amigo possível. Sempre converso muito com os meus filhos, para que eles sejam sempre transparentes nas coisas deles. Procuro estar sempre presente. Os três mais velhos não moram comigo, mas a gente está sempre junto. Procuro participar das atividades escolares e também na vida pessoal deles. Eu procuro sempre estar juntos com eles, mesmo à distância. Nos falamos todos os dias no telefone, por ligação, por mensagem. Peço para que eles sejam sempre diretos comigo, porque eu acho que isso é uma relação saudável. Eu tenho uma relação muito próxima com meus filhos.
Hulk com os cinco filhos: Yan, Thiago, Alice, Zaya e Aisha
Reprodução
A gente vê o Yan e o Thiago seguindo os passos no futebol. Como é o Hulk pai de jogador?
– Eu tento aconselhar o máximo possível. Porque, às vezes, jogar futebol não é tão difícil. Difícil é você se dedicar ao futebol, se entregar. Depois que você entra em campo, é fácil. Você entra para se divertir, claro que com responsabilidade, com compromisso, mas é o que carrego comigo hoje. Eu entro em campo para me divertir, para colocar em prática tudo aquilo que eu trabalhei durante a semana, e eu falo isso para os meus filhos.
– Quando converso com eles, digo: “A situação de vocês é completamente diferente da do pai. Eu saí de casa com 12 anos de idade, não tinha estrutura, não tinha oportunidade na minha cidade, era difícil, eu tive que fazer São Paulo – Paraíba de ônibus. Enfrentei muitas coisas. Hoje, graças a Deus, vocês têm uma vida um pouco melhor do que a do pai”.
– Vocês conseguem ir para o treino de carro. Eu tinha que ir de ônibus, tinha que ir correndo, tinha que ir andando, mas isso não quer dizer que, pelo fato de que outros meninos irem de ônibus ou a pé, que eles vão ter mais vontade que vocês. Independentemente do que você tem ou deixa de ter, a sua vontade tem que estar no interior. Você tem que chegar daqui alguns anos e falar: “Consegui realizar o meu sonho, independentemente do que meus pais me deram ou deixaram de me dar. Eu consegui me tornar profissional, consegui ter uma profissão que eu lutei, isso tem que sair de vocês”. Vocês querem ser jogador de futebol? Ótimo, maravilha, eu estou aqui para ajudar, mas eu não posso jogar por vocês. Para isso, vocês têm que entender que precisam ter mais fome do que os outros, vocês precisam querer mais, se dedicar mais. Procuro sempre passar isso para eles. Eles escutam bastante, mas a gente sabe que não é fácil. Eu passo para eles que nem sempre vai chegar o que é mais talentoso, mas o que se dedicar mais vai com certeza vai ter mais chance.
O que fez você se tornar um atleta de alto rendimento? Foi o gosto de jogar futebol ou essa dificuldade que você relatou?
– Juntou o útil ao agradável. Eu sempre sonhei em ser jogador de futebol, sempre gostei de bola, desde os três anos de idade. Quando eu vi alguns jogadores saindo da minha cidade, do mesmo bairro que o meu, inclusive o Marcelinho Paraíba. Eu falei: “Pô, o Marcelinho saiu daqui, do mesmo bairro e chegou na Seleção, fez sucesso na Alemanha e em outros países. Eu posso chegar também.” Eu comecei a buscar esse sonho. Eu lembro que eu tinha um amigo, na época a gente tinha 10/11 anos de idade. Só tínhamos o parque da criança para jogar bola. Ele ficava uns 30 minutos de casa, andando. Não tínhamos com quem treinar, levávamos uma bola, um treinando fundamento com o outro. Treinava físico e falava “Vamos chegar, vamos lá!”. Quando tive a oportunidade, quando Deus foi me abençoando de chegar um clube, procurei escutar muito os professores. As coisas foram acontecendo. Cheguei no Japão com 18 anos, no profissional. Eu comecei a entender que cada vez que eu me dedicasse mais, eu ia crescer ainda mais como atleta. Foi acontecendo isso, principalmente nos últimos anos. O mínimo que eu posso dar é o meu máximo para que eu possa desfrutar da melhor maneira possível.
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Quem deu o apelido “Hulk”? Foi antes do futebol?
– É antes do futebol. O apelido “Hulk” foi dado pelo meu pai. Quando eu tinha três anos de idade, ele falava que eu ficava imitando o Hulk dentro de casa, levantando peso e falando: “Pai, eu sou muito forte, eu tenho muita força, eu sou o Hulk”. Ele falou: “Está bom, filho, você vai se chamar Hulk”, mas ele falou brincando. Ele achava que isso não ia pegar. Na escola, me chamavam de Hulk. Só a professora me chamava de Givanildo. Hoje ninguém me chama de Givanildo mais.
É estranho quando alguém te chama de Givanildo?
– Não é que é estranho, eu já estou acostumado, mas quem está do meu lado fala: “Givanildo? Quem é Givanildo?” “Nem sabia que você chamava Givanildo”. Às vezes, zuando, às vezes de verdade mesmo, as pessoas não sabem que meu nome é Givanildo.
Quem você tinha como ídolo na infância? Quae era o seu clube de coração em Campina Grande?
– Meus ídolo, como pessoa, era meu pai, que sempre me ajudou bastante. Como jogador, como atleta mesmo, eram o Ronaldo Fenômeno e o Romário.
“Me chamavam de Romário, porque eu tinha a perninha meio torta quando era criança, jogava futsal com a número 11. Meu time de coração era o Treze da Paraíba, meu pai me levava para assistir aos jogos do Treze. Coincidência, 13 é Galo”.
Existe a possibilidade de no futuro fazer um jogo comemorativo pelo Treze? Você pensa depois da sua carreira investir talvez em uma SAF, em alguma coisa do futebol, principalmente no Nordeste, pelo carinho que você tem pela Paraíba?
– É claro que eu ficaria muito feliz, minha cidade. Fazer um jogo festivo com o Treze seria muito bacana. Questão de SAF é uma ideia que passa na minha cabeça, eu venho pensando nisso. Eu não sei o que vou fazer pós-futebol. O pessoal do Galo já fez algumas cantadas para ficar aqui, mas eu pedi calma. Eu preciso estudar, preciso entender o que eu quero para a minha vida. De uma coisa eu tenho certeza, o dia que eu parar de jogar futebol, eu vou tirar um tempo para a minha família, porque a gente acaba não tendo esse tempo de viajar com os filhos, com a esposa, ter o nosso tempo mesmo, sem ter essa pressa de ter que voltar. Infelizmente, o tempo de férias é muito curto, às vezes um mês só. Você tem que ver a família que é muito grande, você não consegue dar atenção para todo mundo. A princípio vou tirar, não sei o tempo exato, talvez até de três a seis meses, para poder disfrutar a minha família e pensar bem. Mas, com certeza, o futebol não vai estar só no meu sangue, mas também nos meus planos para o futuro.
Como você vê o momento do futebol nordestino? O Fortaleza muito bem, o Bahia fazendo parte do grupo City. É muito diferente do momento em que você começou lá? Como você enxerga as equipes nordestinas hoje no Brasil?
– Sem dúvida, não só pelas questões dos investimentos, mas a evolução que teve também no futebol. Hoje os times estão muito bem estruturados, não só do Nordeste, mas de todo o Brasil.
“O Fortaleza é um time que eu tiro o chapéu. Desde que eu cheguei aqui, é um time que está sempre batendo lá em cima. Chegou na final da Sul-americana, merece muito respeito, muito bem organizado. O Bahia é do Grupo City, um grupo mundialmente muito forte”
Você teve uma carreira muito bem sucedida fora do Brasil. Foi ídolo em Portugal, na Rússia, na China. Você poderia até ter feito toda a sua carreira fora do país. Por que você voltou? O que você ganha com essa volta, eu digo em relação a você como atleta, reconhecimento, família. O que você ganhou com essa volta? Ou perdeu?
– Se for falar de perder, acho que é parte financeira, mas isso daí nunca é perda. Ninguém compra a tua felicidade, a tua paz. Não tem dinheiro no mundo que compre isso. Eu decidi voltar porque em 2020 veio a pandemia. Eu estava jogando na China, lá virou uma bolha, não entrava ninguém e não saia ninguém. Eu fiquei uns sete meses, oito meses sem ver os meus filhos, isso pesou muito. Eu sou muito apegado aos meus filhos. Quando entrei em férias, acabou o contrato com o Shangai, eu falei que não ia renovar e minha decisão era não ficar na China. Voltei para o Brasil, peguei meus filhos, saímos de férias, conversei com eles e eles pediram muito para eu ficar no Brasil. Eu falei que estava estudando, que tinha propostas da Europa e tal, e eles: “É, mas, se você ficasse no Brasil, ia ser bacana.” Eu falei: “Filho, com certeza, o melhor vai ser resolvido”. Daí foi, deixei nas mãos de Deus, vieram algumas propostas do Brasil, estudei algumas, algumas financeiramente até bem melhor que a do Galo, mas, assim, no momento não aceitei porque falei que não era o que eu queria no momento.
Apresentação de Hulk no Atlético-MG, em 2021
Pedro Souza / Atlético-MG
– Quando chegou o projeto do Galo, eu olhei, estudei junto com a minha esposa e falei: “Acho que é essa é a ideia aqui”, conversei bastante com Deus. Me lembro até que familiares próximos falavam: “Tinha esse clube aqui, tinha esse clube ali”. Graças a Deus, sem dúvidas, foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Chegar aqui em 2021, ter aquele ano maravilhoso e ter aquela ligação tão forte que eu tenho com a família Clube Atlético Mineiro, o respeito, essa gratidão que eu tenho por me receber tão bem, não só eu, mas todos os meus familiares. Sem dúvida foi a melhor decisão. Esse foi o motivo de eu voltar para o Brasil.
Sua família parece curtir muito esse momento, seu pai, seus filhos.
– Curtem, sem dúvidas. Principalmente porque eles me acompanhavam lá fora, mas não acompanhavam de perto. E pelo idioma também, acaba que não sentia. No Brasil, com toda essa atmosfera, toda essa ligação, que é estar no estádio, no meio da rua e a torcida, o carinho de torcidas adversárias. Quando eu vi, eu já estava com 16 anos no profissional. Eu como jogador e eles como membros da família. Foi uma coisa muito forte que eles sentiram. Eles vivem isso, principalmente quando tem jogo do Galo. A casa do meu pai vira uma sede.
Você consegue eleger a sua melhor temporada e o seu companheiro ideal? Quais são as suas principais lembranças do seu primeiro jogo?
– Difícil eleger assim a minha melhor temporada, meu melhor momento, graças a Deus. Costumo falar que a minha caminhada no futebol teve boas escolhas. Onde eu passei, sempre joguei em alto nível. Independentemente do clube, das competições que disputava, os números se mantiveram durante esses anos. Anos especiais que vivi no Japão, porque foram importantes como ser humano. Imaginava que ia ser diferente. E foi tudo positivo, totalmente o contrário do que eu imaginava. No Porto, eu vivi anos especiais. Sem dúvida, a temporada de 2010-2011 foi uma que ficou marcada, porque ganhamos a tríplice coroa, a Liga Europa, fui artilheiro do Português também. Acho que nessa temporada eu fiz 42 gols, e o Falcão fez mais 46. Parecia fácil fazer gol.
– Se fosse escolher temporada em números, acho que aquela temporada foi a melhor em termos de números, mas 2021 também foi especial, por todo o envolvimento que existia, o Galo há 50 anos sem ganhar o Brasileiro. Ganhamos, fui artilheiro e melhor do campeonato. Foi muito especial. Os números não foram tão altos comparados com o Porto, mas, coletivamente, sem dúvida, foi a melhor temporada. Escolher um parceiro é difícil, até porque são características diferentes, são jogadores diferentes. São jogadores que acabam se destacando mais. Aqui eu e Paulinho nos destacando muito pelos gols, mas, assim, o time é muito bom. Eu e o Nacho em 2021, mas o time todo é bom também. Eu e Falcão, mas nós tínhamos jogadores nas beiradas também. Eu não gosto de eleger só um, porque o coletivo é muito forte. Quem faz mais gol acaba se destacando mais.
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No seu período na Europa, você sofria muito com gestos racistas que as torcidas, às vezes, faziam?
– No início, eu sofri um pouco, tem até um gol que viralizou, acho que contra o Benfica no Estádio da Luz. Eu puxo a bola da direita e faço o gol. Para te falar a verdade, eu nem percebi naquele momento a torcida fazendo esse gesto, mas, onde eu presenciei e sofri um pouco mais, foi na Rússia. As torcidas adversárias ficavam com cânticos racistas, eu sofria bastante. Era uma novidade para mim, eu não sabia como lidar naquele momento. Depois, os jogadores, quando a gente chegava no vestiário, o próprio tradutor, junto com o diretor do clube, tentaram conversar comigo, me aconselhando.
Hulk Zenit CSKA
Reprodução/Instagram
– Chegou em um ponto que eu falava: “Cara, eu tenho que entender como eu vou lidar com isso para que não me afete dentro de campo”. Na hora que eu fui bater o escanteio, a torcida começou com esse cântico, eu comecei a mandar beijo do nada, a dar risada, foi uma forma que eu me senti bem de fazer. Quando eles vinham com esses atos, eu mandava beijo, dava risada, meio que era um choque para eles. Começavam mais, eu dava risada e mandava beijo. Eles iam parando assim. Eu comecei a me sentir bem quando eu tive essa reação. Não foi fácil, sofri bastante. Infelizmente, a gente presencia isso até hoje. Não deveria acontecer.
No Porto você chamou bastante atenção da seleção brasileira, de vários times do mundo. Rolou alguma proposta de um grande clube europeu naquele momento? E por que você quis ir para a Rússia?
– Eu fiquei sabendo das propostas depois da primeira temporada, 2008-09. Ela terminou e eu fiquei sabendo que teve uma proposta do Manchester United, na época acho que era 38 milhões de euros. O Porto não me vendeu. O Porto tinha uma filosofia de trabalho que era vender um jogador por temporada, vendia muito bem. O Porto sempre foi um clube muito vendedor. Fiquei sabendo só depois, não tinha noção, tinha acabado de chegar na Europa. Depois de tudo no Porto ter rolado muito rápido, eu tinha muita moral no clube. Meu empresário tinha muito acesso. Eles faziam naquela época o que era melhor para o Porto.
– Passou alguns anos, na temporada que ganhamos tudo, em 2010-11, o Falcão é vendido para o Atlético de Madrid, na época acho que eram 58 milhões de euros. Depois, o empresário me mostrou e falou “tinha essa proposta para você e o Porto não vendeu”. Era do Manchester City, 60 milhões de euros. O Porto não vendeu. Falaram: “Já vendemos o Falcão, não vamos vender o Hulk”. Eu fiquei sabendo só depois. Passou mais uma temporada, 2011-12, o Porto estava negociando o João Moutinho e o James Rodrigues. Não sei o que aconteceu, mas não deu certo. Fechou a janela para a Europa, só estava aberta a janela para a Rússia.
– Chegou a proposta do Zenit. Eu era o único jogador do Porto que tinha proposta. Meu empresário falou: “Hulk, tem essa proposta, o Porto não vendeu ninguém. O Porto sempre quer vender alguém, eles não queriam vender você de jeito nenhum, mas chegou e você vai ser a salvação do Porto. Se você falar que quer ir, vamos fazer a transação e vamos salvar a temporada do Porto, eles precisam vender alguém. Se não quiser, você tem também uma proposta de renovação na mesa, que era muito boa também.” Eu olhei e falei, quatro anos, sempre a mesma história, aí tava o Zenit, jogar a Liga dos Campeões. Falei com alguns amigos que jogavam lá, no caso o Bruno Alves, ele falou: “pode vir, que a cidade é muito boa, o clube muito organizado, estruturado, a gente vai jogar a Liga do Campeões”. Eu peguei e falei que ia para a Rússia.
– No início, foi conturbado, causou um pouco de ciúmes dos jogadores russos com a nossa chegada, pelos valores. Depois que passou seis meses, um ano, tudo ficou uma maravilha. Ganhamos campeonato, melhor jogador. Depois de quatro anos no Zenit, eu tenho uma proposta para a China. e os russos não queriam me vender, o presidente não queria me vender de jeito nenhum. Foi difícil para convencer. Eles tinham me comprado por 60 milhões de euros e tinham proposta de 55 milhões. Mas graças a Deus deu certo. Mas assim, se você perguntar se eu queria ir para algum desses clubes (City e United), talvez se eu fosse, eu não seria tão feliz. Talvez se eu fosse, poderia ter alcançado coisas maiores. Nunca se sabe. O que eu sei é que Deus abençoou as minhas decisões, onde eu fui, fui muito feliz. Eu sou muito grato pela minha carreira.
Qual o time que você sonhou em jogar e não jogou?
– Não tem esse clube. É claro que, quando você fala de clubes mundialmente respeitados e tudo, você vai falar do Real Madrid, que tem não sei quantas Champions, do Barcelona, pelo estilo de jogo. São clubes que, querendo ou não, chamam atenção, mas não é uma coisa que: “Nnossa, eu quero jogar nesse clube”, ou era meu sonho. Meu sonho de jogar era na Seleção e eu consegui jogar por alguns anos. Não tem um clube que eu sempre tive o sonho de jogar.
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Qual o técnico que fez você evoluir mais?
– De evolução, o Jesualdo Ferreira. Quando eu cheguei no Porto em 2008, eu vinha do futebol japonês. Lembro que repercutiu muito na mídia portuguesa: “Como o Porto vai contratar um jogador do Japão, ninguém conhece”, “chegou o Hulk, quando chega o resto dos Vingadores?”. Tinha muito disso. O Jesualdo foi questionado em uma coletiva de imprensa e ele falou que no futebol asiático a dimensão do campo é a mesma, a bola é a mesma, que eu só tinha que chegar e jogar. Taticamente, a gente vai mostrar como tem que jogar e o resto é comigo. Jesualdo me chamou, conversou bastante. Para mim, ele foi mais do que um treinador, ele foi um professor. Quando eu cheguei no Porto, essa questão de entender como jogar taticamente não foi tão fácil. Hoje tudo é mais fácil, os clubes têm mais acesso a tudo. Se você tem um jogador que gosta hoje, você vê a posição dele, os movimentos, isso, aquilo. Hoje é muito mais fácil ter acesso. Naquela época era mais difícil. O Jesualdo conversava bastante comigo, me aconselhava muito. Para mim, foi muito especial, porque a minha evolução aconteceu muito rápido lá.
Você sente que merecia mais chances na Seleção Brasileira ao longo da sua carreira? Você sente uma frustação quanto a isso? Principalmente em 2010, com o Dunga.
– Em 2010, eu acho que eu só não fui por uma situação. Na época, a vaga, teoricamente, seria do Adriano. Houve lesão, ele ficou sem jogar e tudo mais, e eu fui convocado para dois amistosos. Joguei, o Dunga me elogiou bastante e falou: “Conto contigo, volta para o Porto, dá o teu melhor. Você vai voltar com a gente, eu conto contigo”. Eu voltei muito confiante, estava vivendo um momento muito bom em Portugal na época. Final de 2009, teve o clássico em Luz, contra o Benfica. Perdemos o jogo de 1 a 0. Teve muito tumulto nesse jogo. No término da partida, já estava no vestiário, eu escutei “confusão, confusão”.
– Estava eu, Fernando, tinha mais um. A gente saiu correndo para ver o que estava acontecendo e, quando chegou no túnel, o espaço que dava acesso a le, estava aquela confusão, empurra-empurra. Nossos jogadores estavam conversando com o staff de segurança do jogo e estava aquele empurra-empurra e provoca. Não sei quem tentou dar um soco em um dos seguranças e deu de volta, e começou a confusão. Cara, quando acaba a confusão, o Rui Costa, que era o diretor do Benfica na época, veio e me chamou assim, me pegou no meu braço: “Hulk, o que é isso que está acontecendo, para que isso?”, “Para que isso, Rui Costa? Vocês que montaram tudo isso. Vocês ganharam o jogo, beleza, agora mandar os seguranças arrumarem confusão com a gente?”. Só que depois repercutiu para caramba tudo. Quando entramos no ônibus, suspenso eu e o Săpunaru. Estava todo mundo envolvido, suspenso eu e o Săpunaru. Ficamos sem entender.
– Tentaram pegar imagem, porque, nesse mesmo ano, teve uma confusão Benfica e Braga, onde eles puniram dois jogadores do Braga, porque foi nítido e a imagem mostrava tudo. Tentaram pegar imagem do túnel, a gente queria que pegassem a imagem, só que a imagem que pegaram era dos seguranças do jogo, eles estavam mexendo nas imagens, direcionando as câmeras para um ponto cego, antes da partida. Onde teve a confusão era um ponto cego, ou seja, foi um negócio muito estranho, mas aconteceu. Me deram uma suspensão de três meses, era pra pegar 23 jogos. Nesse período, era só treinar. Com duas semanas que estava suspenso, tive uma proposta do Milan.
– Conversei com o diretor, “Deixa eu ir pro Milan, me empresta”. “Não, não vai. Vamos reverter isso aqui”. Falei: “Vai reverter o quê? Eu quero jogar, não está dando mais, estou só treinando”. Foi só passando o tempo, não deixavam. O Milan fez uma proposta de empréstimo com opção de compra, o Porto não queria deixar de jeito nenhum. Passou. Por isso que eu falo que eu sou muito grato ao Jesualdo, porque nesse período ele foi fundamental. A gente treinava, acabava o treino e ele me chamava. E eu não podia jogar no final de semana. Ele falava: “Vamos treinar um pouquinho mais”. Ficava treinando e ele: Bbola aqui, domina assim, isso e aquilo, vamos, vamos, bota isso para fora”. Porque ele sabia que eu precisava botar pra fora. Ele fazia isso comigo para que eu terminasse o treino cansado. Ele foi fundamental. Passou o período, quando o Porto não tinha mais chances de ser campeão, saiu um resultado que era pra eu ter pegado só três jogos de suspensão, eu já tinha pego 18, eram 23 no total. Em um ano de Copa.
“Na época, talvez, a imaturidade. Poxa, se fosse hoje, é mais fácil falar pela experiência: “Não , eu preciso jogar, tem uma Copa do Mundo. Eu estou nos planos, eu preciso jogar”. Aí você compraria a briga e pronto. Naquela época, eu tinha acabado de chegar em Portugal, 22 anos. Então, foi difícil aquele momento. Quando me liberaram para jogar, eu voltei a jogar, não lembro qual mês de 2010. Desde que eu voltei a jogar em 2010, fiquei 2010, 2011, 2012, 2012. Saí para o Zenit, eu não perdi um jogo em campo pelo Campeonato Português com o Porto. Então, o Porto tomou um prejuízo, que até depois entrou contra a Federação, porque a gente não se classificou para a Liga dos Campeões, porque não tinha mais condição. Não tinha mais chance de ser campeão, não tinha mais chance de se classificar. Foi um ano difícil”
Você acha que essa relação sobre sua forma física, que foi criada muito, de você ser um jogador só de força, de certa forma atrapalhou também ter mais oportunidades na seleção?
– Sem dúvidas atrapalhou, porque a gente sabe que o microfone tem muito poder. Para você ter ideia, eu estava assistindo algum programa de televisão e o pessoal falando de mim: “Será que está falando de mim? Acho que é outro jogador, essas características e tudo isso”. Mas não é nada que me deixava triste, que eu me chateava. Eu falava assim: “Um dia eles vão me conhecer jogando mesmo”. Hoje é tudo mais fácil, você vê Campeonato Árabe, Campeonato Chinês. Na minha época, não tinha isso, não tinha esse acesso, esse conhecimento. Quando eu cheguei em 2021 aqui no Brasil, sendo acompanhado de perto, eu via muita gente me pedindo na Seleção, onde me pediram para me tirar, Futebol é momento. Se você está bem, vai ser cobrado para estar lá, agora se você está mal, você vai ser criticado. O futebol é isso. Eu quero que eles me critiquem, mas em cima das minhas características, que, infelizmente, devido a acompanhamento, não tinha isso, não tem o acompanhamento. Você acabava sendo criticado por uma característica que não é sua.
Hulk chega a 20 anos de carreira profissional
Em relação a características, a sua é bem diferente do jogador brasileiro típico (velocidade, drible)…
– Se você olhar o futebol brasileiro, muita gente fala: “Ouftebol brasileiro mudou muito”. Mas cara, o futebol, em s,i evoluiu bastante. Eu até acostumo a falar que hoje você não vê jogador de futebol, hoje você vê atleta. Se você for atleta, vai performar lá em cima. Se você for só jogador, vai sofrer. O futebol evoluiu bastante, eu falo isso com meus filhos, vocês têm que se preparar para ser atleta, não adianta ser só jogador. Você é driblador, os caras marcam um na sobra, se fizer bem, é um gênio. Entendeu? Então, evoluiu muito o futebol. Minhas características, não é que são diferentes do jogador brasileiro, é que o atleta, ele tem que ter tudo. Ele tem que ter a parte física, a parte tática, a parte de dominar, ir pra cima, de driblar, tem que ter tudo isso. Se vê muito disso lá fora, principalmente quando você vê Vinícius Júnior hoje, porque quando estava no Brasil, você pega ele, um cara que driblava, isso e aquilo, foi pro Real Madrid. Entendeu como é que o futebol? Hoje é um cara que você pode chamar de atleta, ele entende de futebol e sabe usar o corpo, ele sabe a hora de ir pra cima, ele sabe quando tem que ir pra fazer o apoio. É muito mais difícil marcar um cara desse, do que um cara que só faz driblar. O futebol evoluiu bastante.
Hulk, para encerrar o assunto seleção brasileira. O 7 x 1 foi o pior dia da sua carreira profissionalmente? Como era aquele clima, por exemplo no vestiário, com o Felipão quando já estava 5 a 0? O que vocês sentiram naquele momento?
– Sem dúvidas foi o pior momento, falando na parte futebolística, falando assim como profissional, o pior dia. Eu te juro que, quando começou o jogo, a gente até começou bem, quase que fizemos 1 a 0, e depois chega 1 a 0 pra Alemanha, 2 a 0, 3 a 0. Eu ficava olhando e pensando “estou tendo algum pesadelo, isso aqui não tá acontecendo”. Chegamos tão confiantes para o jogo, principalmente depois do jogo da Copa das Confederações. Era no Brasil, era uma seleção que estava sendo montada, tudo isso, estava na final contra a Espanha, fez um grande jogo, 3 a 0. Chegamos para essa Copa do Mundo muito motivados e confiantes para fazer uma grande Copa no nosso país. Quando aconteceu dos 5 a 0, no intervalo do jogo, um olhava para o outro, tentando entender o que estava acontecendo. O Felipão até falou, “vamos voltar lá, tentar minimizar o máximo, é o que a gente pode fazer”. No final da partida, todo mundo chorando, ninguém queria pegar o celular. Lembro que eu não tinha coragem de pegar o telefone, só ficava no meu canto chorando, tentando entender. Foi difícil, até hoje não conseguimos explicar aquele jogo.
Agora vamos pular um pouco pro Galo. Se eu não me engano, você me corrige, o Sampaoli que estava aqui quando você chega aqui, ali no final da temporada 20/21. Como foi seu contato com ele, o que que você lembra, você teve contato com ele? Vocês conversaram, como foi?
– Não, foi muito rápido, até porque esse ano foi bem típico, devido à pandemia, o Campeonato Brasileiro acabou em fevereiro. Quando eu cheguei, estava treinando à parte, a parte física, eu e o Dodô, treinando mais com preparador físico dele, o Pablo. A gente tinha pouco contato, porque não podia contar comigo, mas, se não me engano, cheguei a treinar uma semana com ele, mas treinava mais com o time que não ia jogar. Acabamos por não conversar tanto.
O que mudou do Atlético que você encontrou pro Atlético de agora? De tudo, estrutura, do que vocês têm lá hoje?
– De estrutura, vai sempre mudando, porque vai sempre evoluindo. O Atlético procura sempre entender o que tem de melhor para evolução do clube. É um clube muito organizado, eu costumo falar que não deixa a desejar com os clubes lá de fora. A parte de dentro do vestiário, os jogadores, tudo isso, evolução não é do clube, é da parte técnica. Cada treinador tem sua particularidade, então a gente tem que entender. Muda alguns jogadores, mas o que não muda é o nosso ambiente, de saber receber todo mundo, nosso ambiente de todo mundo se respeitar, de respeitar o treinador. Aqui no Atlético, uma coisa que a gente preza muito é a hierarquia. Os novos que chegam já entendem como funciona a casa. É uma filosofia nossa que ficou muito bacana.
Hulk chega aos 200 jogos pelo Atlético no duelo contra o Botafogo
A diretoria do Galo tem a ambição de tornar o Galo uma potência internacional. Você acha que isso é possível? Até pelo conhecimento que você tem fora do país e tudo.
– Acho que sim, sem dúvida. O futebol, hoje, é aberto para o mundo. Não é Europa é Europa, América é América, África é África, Ásia é Ásia, não. O futebol hoje é uma bola que ela vai rodando, todo mundo está vendo. Estamos vendo o que tá acontecendo na Arábia, na China. Tem tudo pra crescer, nossa arena é maravilhosa, o mundo inteiro falou dessa arena. O que faz o clube ser reconhecido mundialmente são títulos, sempre falo aqui. Quantos mais títulos, mais espaço você vai ganhar, não só no Brasil, mas no mundo também.”
Voltando um pouco no seu início aqui no Galo, logo de cara voltando ao futebol brasileiro. Você teve toda aquela situação com o Cuca, como foi pra você lidar com aquilo naquele momento e como vocês procuraram se resolver.
– O Cuca é um cara que muita gente acha que eu sou brigado. Muito pelo contrário, tenho muito carinho por ele, gratidão e respeito também. Lembro que quando chegou, ele me chamou pra conversar na sala dele e falou “estou aqui para te ajudar, conta comigo”. Aí falei “professor, obrigado. Conta comigo também, o que puder fazer, estou aqui”. E daí passou, a gente conversando, ainda na sala, ele falou assim “oh, você vem de um campeonato que não tem nada a ver com o Brasileiro. Você fez apenas 20 jogos esse ano”. Eu falei “mas professor, eu fiz 20 jogos porque teve pandemia, então teve menos jogos, mas eu estou acostumado a fazer muitos jogos por temporada”. “É mas tem que ter cuidado, porque você vai entender, é muito difícil. Você praticamente não jogou no futebol brasileiro, você vai sofrer aqui”. Falei “não, eu sei que é difícil, mas tenho que dar o meu melhor”. Ele ficava insistindo assim, falei “professor, posso fazer uma pergunta?”. “Quem foi o melhor jogador do brasileiro ano passado?”. Ele falou “Marinho”. E o Marinho estava onde? Na China.
Hulk e Cuca comemoram gol do Atlético-MG
Pedro Souza/Atlético-MG
– Independentemente de onde você está, tem que estar com a cabeça boa, tem que estar focado, motivado acima de tudo. Algumas coisas, sem dúvida, foi culpa minha também, por me cobrar tanto também, me cobrava muito, de querer jogar logo, de querer dar resultado logo, de querer mostrar isso e aquilo. Acabei adquirindo uma pressão muito grande pra cima de mim. Rodrigo Caetano, na época, que é um cara que eu tenho uma gratidão tremenda, é um excelente profissional, um excelente ser humano, falava “cara, calma. A gente sabe da tua qualidade, espera, respira”. Eu falava “não, eu quero jogar”. “Calma, tu vai jogar na hora certa. O Cuca é malandro, o Cuca vai, na hora certa, trabalhar com você”. Vinha o Réver, vinha o Victor, eu doido pra jogar e eles “cara, calma”. Foi acontecendo e, graças a Deus, as coisas começaram a mudar e, pronto, fizemos uma grande temporada. Mas assim, o Cuca, mesmo com aqueles desentendimentos que tivemos, é um cara que eu sou muito grato. O Eudes que está no CRB agora, que era auxiliar do Cuca, um cara espetacular também. São pessoas que eu sou grato e valeu a pena aquele pequeno desentendimento para que a gente entendesse como funcionava um e outro.
Hulk & Cuca: da relação estremecida aos gols do artilheiro do Atlético
Hulk, o que você acha que faltou pro Galo ali em 2022, 2023, para poder manter a mesma pegada, aquele mesmo patamar de sucesso de 2021?
– Primeiro, ganhar é difícil. Continuar ganhando é mais difícil ainda. Quando você faz uma temporada, como em 2021, é natural que na temporada seguinte todo mundo vai querer ganhar de você. É assim que funciona, e foi isso que aconteceu. Pecamos e perdemos pra nós mesmos, não desmerecendo os adversários, mas assim, quando você joga em time grande, que vai lutar por título, quando você pega uma equipe, que, teoricamente, é bem inferior, não pode perder ponto em casa e foi isso que aconteceu. A gente perdeu muitos pontos, perdemos esse ano também. Ano passado, por tudo que aconteceu, com tudo que aconteceu, chegamos na última rodada para ser campeão e, se você for olhar, se tivéssemos ganho desses, teoricamente, times mais fáceis em casa, seríamos campeões.
– Futebol é isso, porque dificilmente você vai ver os times grandes, por exemplo Campeonato Espanhol, dificilmente vai ver o Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid perdendo para os times que estão lá embaixo. Mas não é só isso, é porque os caras quando entram, eles falam “cara, a gente tem que ganhar e focar”, porque tu vai jogar contra um Cruzeiro, que é o nosso maior rival, contra o Flamengo, contra o Palmeiras, a concentração já é natural. Tu já entra concentrado para um jogo desses, você já sabe que é um jogo importante, não pode ter erro. Aí tu vai jogar com um time que tá lá embaixo para cair, você vai achar que é fácil, você vai entrar relaxado, acha que vai fazer o gol a qualquer momento, acha que, minha função é fazer uma coisa, esse jogo tá fácil, vou fazer uma coisa diferente. É onde acaba pecando, perdendo ponto besta que no final fica se lamentando. Foi o que aconteceu nos últimos anos.
Hulk, a Libertadores, digamos assim, é o que falta para você completar um ciclo no Atlético, de vencer tudo, como você tá lidando com esse ano, com a chance de estar nas quartas de final, de ser de fato assim essa obsessão para você e para o elenco?
– A Libertadores é sem dúvida obsessão, por isso chama “A Glória Eterna”. Eu tenho um sonho de ganhar essa Libertadores.Batemos na trave em alguns anos, onde tínhamos grandes chances de ganhar. Esse ano vai ser uma pedreira, porque tem o atual campeão para enfrentar agora, que é o Fluminense, e, se Deus quiser, passando, teoricamente, é o River. A gente tem tudo para ganhar também. Sabemos que vamos enfrentar um grande adversário que está defendendo o título, mas temos grandes chances. É é jogo que define em detalhes. Temos grandes chances de sermos campeões esse ano.
Abre Aspas: Hulk fala da Arena MRV e diz preferir gramado natural
A sua história no Atlético ainda está sendo construída, ela pode ser ainda maior, mas o atleticano já te põe em um patamar de Reinaldo, Ronaldinho Gaúcho. Você falou dos rivais do Atlético, e os rivais, como que os rivais enxergam o Hulk? Como você acha que esses rivais do Atlético te enxergam? Qual a visão que você tem?
– Não sei, eu sou uma pessoa que não gosto de falar de mim próprio. Então, eu acho que devem se preocupar um pouco quando eu estou em campo, até porque a gente consegue alguns números altos. Não sei o que se passa na cabeça deles.
Como você lida com o carinho dos rivais? Às vezes crianças com a camisa do Cruzeiro o maior rival pedindo foto… Fica surpreso?
– Historicamente, não é comum no Brasil. É claro que quando você vê um Neymar, que hoje é um cara que está em outro patamar, um Vinicius Junior, que jogou no Flamengo, mas jogando no Brasil hoje e a gente ter esse carinho assim é bacana, é gratificante e eu procuro atender da melhor maneira possível. Você sabe como funciona no Brasil: “joga no outro time e eu não quero saber”. Mas, é bacana, gratificante, eu procuro sempre ser grato por esse carinho.
Hulk, do Atlético-MG, tira foto com torcedores do Cruzeiro, após clássico
Reprodução/ Atlético
E o gramado da Arena MRV? É algo que te preocupa? O sintético te incomoda?
– Questão do nosso gramado, vem passando por alguns momentos assim. O pessoal que toma conta, o Bruno Muzzi, que é o nosso CEO, procura sempre conversar tentando achar a melhor solução, procurando sempre melhorar o gramado para o time entrar em campo e desfrutar, jogar um futebol que encante. Não sei o que vai acontecer, se vamos chegar a esse nível (gramado sintético). Se for sintético, acabei de elogiar o campo do Botafogo, ficou muito bacana. O do Atletico Paranaense e do Palmeiras eu não sei se por ser um sintético mais antigo é um pouco mais duro. Mas, o do Botafogo não é tão duro, dá para jogar tranquilo. Não sei o que eles vão fazer, qual a ideia, o que eu sei é que estão trabalhando para o que for melhor.
Mas, você, prefere o que? O que o Hulk prefere?
– Sem dúvida o gramado natural. É até a melhor para gente performar. Mas, eu vou na mesma ideia do Abel. Se é para ter gramado ruim, que tenhamos o sintético. Hoje as coisas vão evoluindo, sabemos que hoje o sintético é homologado pela Fifa, eles vão evoluindo para chegar na melhor condição. Claro que não vai ficar um natural vai ficar parecido, mas a preferência é claro que é natural.
Gramado Arena MRV
André Ribas
Onde o futebol brasileiro precisa evoluir?
– Falar em calendário, eu sei que é difícil. O Brasil, a logística é questão de como se você jogasse a Liga dos Campeões, viagem de três, quatro cinco horas, às vezes. Isso dificulta bastante. Questão do calendário e dos gramados, que tenhamos exigências para que os gramados estejam em ótimas condições. Se tiver alguns estados que não tenha condições, devido ao clima, a tudo isso que envolve, que tenha que ser esse sintético aqui, nada diferente desse. É uma coisa que vai melhorar bastante nosso futebol fique um futebol melhor jogado, que tem campo que a gente joga que fica muito difícil.
A arbitragem brasileira é muito diferente da que você encontrou no exterior? O que mais te incomoda no Brasil?
– Uma das coisas que todo mundo fala é meu comportamento com os árbitros. Eu não tenho nada contra os árbitros. Pelo contrário, sou muito elogiado por eles, elogio muito eles em campo também. Vou te dar ideia do jogo contra o São Paulo, jogo de ida da Copa do brasil. Eu estava no vestiário e chegou o quarto árbitro. “Hulk, o árbitro pediu para falar com você e com o Rafinha, capitão de São Paulo, que ele não vai suportar rodinha. O único que pode falar com o árbitro é o capitão”. Até aí tudo bem, pediu para gente tirar nossos jogadores e conversar com eles. “Professor, tudo bem, vou dar meu melhor”. Começou o jogo, teve um lance, ele não deu falta em mim, ele não deu falta no Scarpa, e deu falta no Rato. Eu falei, “professor os lances foram iguais, vamos respeitar sua decisão, mas os lances foram iguais. É falta perigosa, a bola vai na área”. E ele sem olhar na minha cara.
Atlético-MG x Palmeiras; Hulk e o árbitro Rodrigo José Pereira de Lima
Gilson Lobo/AGIF
– Eu falei, “professor, estou falando contigo na boa, não estou reclamando”. Ele olhando para baixo, passou sem olhar na minha cara, contando os passos. Falei, não dá para entender vocês, vocês pedem para falar com respeito, que eu tenho autonomia de falar como capitão. É difícil cara! Se eu chegar faltando o respeito gritando, gesticulando, você me dá logo o cartão. Se você olhar, todas as vezes que eu chego, eu chego na boa para conversar, então esse tipo de comportamento que, às vezes, quem está fora não observa. E eu falei há pouco, o microfone tem muito poder. Você tá narrando o jogo e aí você fala, “lá vai o Hulk reclamar com o árbitro”. Cara, reclamar? Estou chegando na boa para conversar. Reclamar é você chegar “ah, vai para aquele canto (gesticulando)”, como eu vejo alguns jogadores fazendo tudo isso e ninguém fala nada.
Você acha que tem uma perseguição com o Hulk?
– Não uso a palavra perseguição, eu acho que é falta de respeito. Porque a partir do momento que você fala comigo e eu dou as costas, eu faltei com respeito com você. Se eu falar com você na boa, se eu alterar minha voz, acabei de falar que existe a hierarquia. A hierarquia no jogo é o árbitro. Se eu falar alto contigo ou qualquer gesto? Pronto amarelo! Acabou, você vai me punir assim. Mas a partir do momento que eu chego com respeito, tu tem o direito de me escutar. Por que se o árbitro chegou para mim com respeito: “Hulk vem cá”, e eu der as costas para ele, o que ele vai fazer? Vai me dar o cartão. Ele tem autonomia. Se eu não posso dar as costas para ele, por que ele pode dar as costas para mim? Acho que é essa comunicação. Ai você fala, na Europa não tem isso. Não tem isso porque o árbitro se impõe. Ele conversa e quando tem que dar cartão, ele dá cartão. Mas nunca dá as costas, nunca presenciei isso em liga dos campeões, nunca vi isso. Aqui não tem.
Hulk é expulso, critica a arbitragem e fala em sair do Brasil
Você entende que o maior problema hoje é a falta de critérios?
– Isso é uma das coisas que a gente acaba se lamentando muito aqui. Existe lance que é marcado de um jeito aqui, e em outro de outro jeito. Você vai cobrar e eles falam: “não sou eu que estava apitando”. Mas o curso é o mesmo. Quando existe essa tal de interpretação é complicado. Você não vai saber quando está certo e quando está errado. Teve um jogo que estava assistindo Cruzeiro e Vitória, que o jogador domina a bola com a mão aqui (mostrando o braço), não sei se o VAR chamou ou não o árbitro, e validou o gol. E em outros lances, como foi o nosso contra o CRB, que a bola bate no braço do Vargas, o Cadu faz o gol e eles anulam o gol. Ou seja, é interpretativo. Que interpretação ele usa? Um domina a bola, segue gol. Um domina, outro jogador faz o gol, na regra seguiria, anula, Por isso tem muitas reclamações de jogadores, num jogo usa um critério, no outro jogo, outro. Eu tenho direito de reclamar porque ele usou isso aqui em outro jogo. Aí você vai reclamar com razão e é punido. Como você vai se defender, porque se você usa o critério ninguém fala nada. É o mesmo critério e acabou.
Você pensou mesmo em deixar o Brasil naquele desabafo do ano passado?
– Na verdade eu pensei sim, trouxe até uma proposta para o Rodrigo (Caetano). Ninguém sabe disso, não abri para ninguém. Tinha uma proposta da Arábia, mostrei para o Rodrigue e falei: “quero ir embora, estou cansado disso”. O Rodrigo veio e aliviou meu coração. Ele disse: “a Camila está grávida, vai nascer sua filha”. Resolvi ficar, falou daquele jeito e eu fui acalmando. É claro que a cabeça quente acabou impulsionando eu falar aquilo. Mas eu tinha proposta sim.
Você falou das suas filhas, que nasceram nos Estados Unidos. Você pensa em jogar na MLS ou morar nos Estados Unidos depois que parar com o futebol?
– Não sei, tenho residência nos Estados Unidos, mas hoje, minha residência oficial é na Paraíba, casa que eu e Camila desenhamos pensando no futuro morar lá. Não sei o que vai acontecer, tem questões de empresas, pós futebol, os filhos que vão crescendo e você quer estar perto deles, no desenvolvimento, nas decisões. Não sei onde eu vou morar. Já me perguntaram se eu queria jogar na MLS, eu não sei. Eu sei que tenho contrato aqui, não sei se vou cumprir e vou parar de jogar, não sei. O que eu sempre falo é que eu não quero sofrer. Chegar com 40 anos jogando e não estar conseguindo, aí não dá. É melhor aposentar e tomar conta das coisas.
Será mais comum a gente ver o Hulk dosado a partir de agora?
– Acho que vai ser, principalmente a questão de logística aqui. Inclusive no jogo que eu machuquei já vinha com a dor na panturrilha, onde eu tinha tomado uma pancada no jogo contra o Vasco. Joguei contra o Corinthians sentindo um pouco. Fomos para Maceió, treinamos e estava muito duro o campo, gerou uma tensão e eu passei duas horas tratando com o Guilherme. nosso fisioterapeuta. Chegou no jogo, eu estava sentindo que ia acontecer, porque nunca tinha sentido tanta dor assim. Quando tentei arrancar, estourei o músculo. Então, dosar algumas coisas sim. Dependendo do campo, da sequência, dos jogos que vamos ter, é possível sim. A questão que fiquei fora de um controle de carga no jogo passado é que minha lesão era para voltar com seis semanas, voltei com quatro e não era para ter jogado os 90 minutos contra o São Paulo. Joguei os 90 minutos e tinha jogo três dias depois. O Milito queria me levar para o jogo, mas o DM travou, não podia arriscar e tinha essa sequência importantíssima.
Sr. Gilvan? Como é a relação com seu pai?
– Ele conversa bastante comigo, eu costumo falar que meu pai é uma criança de 67 anos. Meu pai é tão bom que não reconhece maldade. Eu puxei ele um pouco nisso. Só que o mundo me mostrou o que é certo e errado, e o mundo me fez conhecer as pessoas quando as pessoas vem com certo tipo de intenção, e meu pai, por ser tão inocente, as pessoas acabam tirando proveito tanto dele quanto da minha mãe. Ele me cobra bastante, tem que fazer mais gol, chutar mais.
Quer falar algo que não tenhamos te perguntado?
– Muita gente me pergunta quando me vê na rua, me parabeniza pelo meu desempenho e o que fazer para ser jogador. “Meu filho sonha, meu neto sonha, o que ele tem que fazer?”. Eu não tenho a fórmula mágica, mas a primeira coisa que eu falo é estudar. Eu falo sempre para os meus filhos têm que estudar, ser mais inteligente, pensar mais rápido. E dedicação, entender que o demais nunca é demais no futebol, respeito acima de tudo. Treinar, buscar mesmo quando está cansado. Tem que ter aquele um pouco mais que você consegue dar. É isso que eu tento passar para a molecada que sonha. É difícil, mas não é impossível. Dependendo do caminho que você vai trilhando, você pode chegar lá. Dediquem, respeitem os professores e treinadores e. claro, dormir cedo para descansar. geRead More

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