Produtores rurais do Mercosul reagem à decisão do Carrefour de parar de comprar carne do bloco: ‘atitude protecionista e equivocada’
CEO global da companhia disse, na quarta-feira (20), que a gigante do varejo vai interromper compra de carne do Mercosul. Nesta quinta-feira (21), a empresa esclareceu que decisão vale apenas aos supermercados franceses. Carrefour
Foto de SHOX art
A Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm) repudiou, nessa quinta-feira (21), a decisão anunciada na quarta (20) pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a compra de carne proveniente do Mercosul.
A empresa de varejo esclareceu, nesta quinta-feira (21), que a decisão vale apenas para as lojas francesas.
“Os produtores rurais da Farm e suas entidades aqui representadas não aceitarão ataques injustificados e se reservam o direito de reagir de maneira firme, seja por vias econômicas ou institucionais, para proteger a imagem e os interesses do setor agropecuário de seus países.”
“Essa atitude, arbitrária, protecionista e equivocada, prejudica o bloco e ignora os padrões de sustentabilidade, qualidade e conformidade que caracterizam a produção agropecuária nos seus países membros”, diz a nota.
A Farm afirmou ainda que o Mercosul é “líder mundial em práticas de sustentabilidade no setor agropecuário” e que a decisão do Carrefour “ataca injustamente a reputação de milhares de produtores rurais comprometidos com a segurança alimentar e a preservação ambiental”.
“Embora decisões comerciais sejam de competência interna das empresas, a postura pública do CEO do Carrefour, ao transformar uma política de compras em palco para questionamentos infundados, ultrapassa os limites aceitáveis”, acrescenta a federação.
“Não se trata de uma decisão isolada, mas de um ataque direto à credibilidade e à contribuição do setor agropecuário do Mercosul para a segurança alimentar mundial”
Segundo a Farm, em 2023, os países do Mercosul produziram 38 milhões de toneladas de carne, incluindo bovinos, suínos e aves, das quais exportou 11 milhões. A região é a principal fornecedora de proteína animal do mundo, e essa produção de alta qualidade chega para mais de 160 países.
“Esperamos que o Carrefour reveja sua posição e adote uma postura condizente com os princípios de diálogo e respeito que deveriam nortear as relações comerciais globais”, conclui a Farm, em nota.
O que aconteceu
Na quarta-feira (20), o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, divulgou um comunicado em suas redes sociais afirmando que a gigante francesa do varejo assumiu o “compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul”.
A carta de Bompard foi endereçada a Arnaud Rousseau, presidente do sindicato francês FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores), e publicada durante o 3º dia consecutivo de protestos de agricultores franceses contra o acordo da União Europeia com o Mercosul.
O CEO disse que a decisão foi tomada após a companhia ouvir “o desespero e a indignação dos agricultores” franceses contra o tratado.
“No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer”, disse Bompard.
No mesmo dia, o Grupo Carrefour Brasil disse ao g1 que a medida em “nada muda nas operações no país”, e que os supermercados do grupo em território nacional vão continuar comprando carne de frigoríficos brasileiros.
Na quinta-feira (21), o Carrefour global explicou que a paralisação das compras de carnes do Mercosul acontecerá apenas nas lojas francesas. E afirmou que “em nenhum momento” se referiu à qualidade do produto do Mercosul e que está atendendo “uma demanda do setor agrícola francês” que está em um “momento de crise”
Mesmo questionada pela reportagem, a gigante do varejo não informou a quantidade de carne que o Carrefour da França compra do Brasil e do Mercosul.g1 > EconomiaRead More