Afetado por sanções, russos vão a Belarus fazer compras e abrir contas bancárias
Em virtude do êxodo de empresas, inclusive companhias de pagamento como Visa e Mastercard, que encerraram suas operações na Rússia, muitos cidadãos russos têm optado por viajar até Belarus para fazer compras em lojas ocidentais e abrir contas bancárias. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
Belarus, que ostenta o ingrato título de “última ditadura na Europa”, teve um aumento de 60% nas reservas de passeios turísticos feitas por cidadãos russos, com voos e trens diários provenientes do país vizinho, segundo a Associação de Operadores de Turismo da Rússia.
Para viajar à ex-república soviética, os russos não precisam de passaporte ou visto, um importante facilitador, considerando que apenas 30% dos cidadãos na Rússia possuem passaporte.
Aleksander Lukashenko e Vladimir Putin em Minsk, capital da Belarus, em julho de 2015 (Foto: Kremlin)
“Marcas como H&M, Bershka, e Pull & Bear deixaram a Rússia, mas quem viajar a Belarus pode vesti-las da cabeça aos pés”, disse Yelena Shitikova, executiva da agência de viagens Family Travel, da região de Arkhangelsk, que oferece passeios ao país vizinho.
Um dos principais atrativos em Belarus é a possibilidade de os russos abrirem uma conta local que permite a emissão de cartões com as bandeiras Visa ou Mastercard, o que não é mais permitido na Rússia.
Aproveitando a alta demanda, a empresa de turismo Fun & Sun disse que lançou passeios de compras de quatro dias em Minsk. Os passeios incluem a possibilidade de os turistas abrirem uma conta e também leva os visitantes aos shoppings da capital belarussa, onde é possível comprar marcas ocidentais como Zara, Calvin Klein e Levi’s.
“Os turistas começaram a ir a Belarus com mais frequência, e também notamos que eles estão fazendo compras, entre outras coisas. Então decidimos oferecer este produto”, disse um porta-voz da empresa de turismo. “A demanda foi muito alta para a primeira viagem e para as seguintes também”.
Belarus não é o único país que atrai russos que procuram combinar viagens de lazer com a abertura de uma conta bancária no exterior. Outros destinos populares para o chamado “turismo bancário” são Armênia, Cazaquistão, Uzbequistão e Turquia.
Por que isso importa?
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral. O levantamento foi feito pela Universidade de Yale, nos EUA.
A debandada tem prejudicado o consumidor local, privado de produtos de setores diversos, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.
No setor de alimentação, o McDonald’s recentemente vendeu seu negócio no país a um empresário russo. Ao fim do ano passado, a rede tinha 847 lojas no país. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas eram operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação respondia por 9% da receita global da empresa.
Loja do McDonald’s na Rússia (Foto: Wikimedia Commons)
Duas importantes cervejarias da Europa, a holandesa Heineken e a dinamarquesa Carlsberg, também anunciaram que venderiam seus negócios e deixariam de atuar na Rússia. Os planos da empresa da Holanda incluem manter o pagamento de seus funcionários até o final do ano, período no qual buscará um comprador, bem como vender o negócio sem margem de lucro. Já a companhia da Dinamarca diz que seguirá em funcionamento, mas com uma operação em pequena escala, até ser vendida.
Uma decisão que já causou problemas foi o fim dos serviços das companhias de cartões de crédito Mastercard e Visa. O maior banco estatal da Rússia, o Sberbank, disse que o impacto na rotina doméstica dos cidadãos seria pequeno e assegurou que ainda é possível “sacar dinheiro, fazer transferências usando o número do cartão e pagar em lojas russas offline e online”, de acordo com a rede britânica BBC.
A tendência é a de que os consumidores russos possam usar os cartões normalmente até que percam a validade e, depois disso, não recebam novos plásticos. Entretanto, os cartões emitidos na Rússia já deixaram de ser aceitos no exterior. Isso atrapalhou, por exemplo, turistas que ficaram impedidos de deixar a Tailândia, por problemas com voos cancelados e cartões bloqueados.
No setor de vestuário, quem anunciou estar deixando o mercado russo é a Levi’s, sob o argumento de que quaisquer considerações comerciais “são claramente secundárias em relação ao sofrimento humano experimentado por tantos”. Nike e Adidas também suspenderam todas as operações no mercado russo. A sueca Ikea, gigante do setor de móveis, é outra que decidiu deixar a Rússia em função da guerra.
Nas áreas de entretenimento e tecnologia, alguns gigantes também optaram por suspender as vendas de produtos e serviços no país de Vladimir Putin. A Netflix interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições na Rússia, enquanto Warner, Disney e Sony adiaram os lançamentos de suas novas produções no país. Já a Apple excluiu os aplicativos das empresas estatais russas de mídia RT e Sputnik e disse que não mais venderá seus produtos, como iPhones e iPads, em território russo. Panasonic, Microsoft, Nokia, Ericsson e Samsung são outras que optaram por encerrar as operações no país.
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