Com Plano Safra travado, bancos devem operar com linhas próprias de financiamento para garantir negócios na Agrishow 2022
Economistas e consultores de agronegócio dizem que produtor rural deve estar atento ao mercado e à própria demanda para não se endividar. Colheita de trigo
Dirceu Portugal/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Com fundos do Plano Safra 2021/2022 travados por conta da indefinição na Câmara sobre o crédito suplementar, a Agrishow, feira de tecnologia para o agronegócio que acontece de 25 a 29 de abril em Ribeirão Preto (SP), deve contar com linhas de crédito de bancos e instituições parceiras para os negócios. É uma tentativa de amenizar a falta de auxílio e garantir operações que devem movimentar até R$ 6 bilhões, mas especialistas dizem que elas podem não ser suficientes.
“Os recursos podem, sim, amenizar a situação, mas não se comparam a um plano governamental, como o Plano Safra em si, na relação de impulsionar o setor agropecuário e fornecer crédito com taxas de juros especiais”, diz o economista Adnan Jebailey. “Quando a instituição oferece por si só o crédito e ela corre todo o risco, ela vai aumentar a taxa de juros, vai aproximar à taxa básica de juros se não for superior”, complementa.
Desde fevereiro, novas contratações do Plano Safra estão suspensas e os recursos bloqueados estão estimados em R$ 24,7 bilhões. O impasse se deve à não aprovação pela Câmara de suplemento de R$ 868,5 milhões no orçamento federal para equalização de taxas de juros. O prazo da suspensão terminou na sexta-feira (15), e novos anúncios são esperados para esta semana.
Para médios e grandes agricultores, não deve existir muita mudança, pois o público já vem buscando outras formas de financiar os custeios. É o que o consultor de agronegócio José Luís Coelho afirma, complementando que entre os mecanismos de destaque estão as operações financeiras Barter e Cédula do Produtor Rural (CPR).
“Isso transfere boa parte do crédito para os fornecedores de insumos e tradings e desonera as linhas oficiais, que, via de regra, ainda necessitam de equalização de taxas por parte do Tesouro Nacional”, afirma Coelho.
Porém, mesmo com o Plano Safra atualmente congelado, isso não significa que o produtor esteja desamparado. “O ciclo de uma compra na Agrishow começa com o pedido do produto e/ou solução que só será faturado para o cliente a partir do 2º semestre, ou seja, no início do novo ano agrícola, quando os recursos do novo Plano Safra já estarão disponíveis”, tranquiliza Coelho.
“É claro que o crédito imediato traz mais tranquilidade para quem vende e para quem compra, mas isso não será fator limitante se as linhas a serem disponibilizadas forem competitivas. Historicamente as carteiras de crédito rural são as que operam com menores índices de inadimplência.”
Vista do Congresso Brasileiro
Rodolfo Stuckert/Câmara dos Deputados
Produtor deve estar atento
Sem as garantias do Plano Safra, o produtor ainda conseguirá bons negócios, tanto pelas instituições financeiras quanto com as próprias empresas de maquinários e outros insumos, porém com cuidado especial para as taxas de juros.
“É a hora do produtor fazer as contas, evitar contratar recursos que os juros não sejam baixos,” alerta o economista Edgard Monforte Merlo.
Para o especialista, esses recursos subsidiários existentes nas linhas especiais de financiamento valem a pena, mas é um risco contratar com juros de mercado. “Os juros já estão muito altos e a tendência é crescer mais.”
O consultor em agronegócio José Carlos de Lima Júnior afirma que 2022 será um ano de alto desafio na agricultura. O cenário é de aumento nos custos de fertilizantes, químicos e sementes, incertezas em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, além de dificuldades tecnológicas no setor de maquinários afetado pelo problema na cadeia de suprimentos da Ásia, como os microchips usados nos computadores de bordo.
Colheitadeiras expostas na Agrishow 2019 chamam a atenção pelo porte, preço e pela tecnologia
Érico Andrade/G1
Com isso, Lima Júnior diz que o produtor não pode entrar numa expectativa de aumento de produção em 2022, podendo correr o risco de entrar em 2023 com uma situação negativa.
“A grande orientação é que se faça uma gestão de risco, mas geralmente os pequenos e médios produtores ficam mais expostos por não terem uma gestão de risco profissional, como é o caso dos grandes produtores”, explica. “Então a sugestão para os pequenos e médios é que dê passo conforme o tamanho da perna. Não entrar na euforia porque os juros estão mais baixos, porque a indústria está oferecendo algo em condições que ele acha incríveis, porque ele precisa considerar as dificuldades e os próprios custos que esse ano vai trazer.”
Otimismo
O economista José Rita Moreira diz que a situação do Plano Safra deve ser resolvida antes ou durante a feira, o que pode amenizar as questões dos juros.
“Agricultura é e continua sendo o alavancador do PIB brasileiro. Esse entrave na liberação dos recursos é uma questão momentânea e deve ser resolvido nos próximos dias. Meu palpite é que possa ser anunciado até a abertura da Agrishow”, diz.
Moreira vê com bons olhos o retorno presencial da feira e acredita que mesmo com os aumentos, o setor não será muito afetado. “A Agrishow é um evento de proporções mundiais e depois de muito tempo volta a ser presencial. Isso traz um bom sentimento para o produtor depois de 2 anos difíceis.”
“Nós estamos acompanhando a alta das taxas de juros, a Selic batendo quase 12%, mas isso, na minha opinião, não afeta o campo até porque tem linhas beneficiadas, juros menores. Então o produtor não deve se assustar com isso, mesmo os micros e pequenos, porque a tendência é ter linhas de crédito bastante beneficiadas.”
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