Flamengo e Palmeiras demonstram versatilidade tática nas semifinais e garantem classificação
O futebol é um esporte extremamente apaixonante, pois dentre outros fatores mostra formas de superar o adversário, mesmo que este esteja com vantagem segura. De uma forma geral, foi essa versatilidade tática que levou Palmeiras e Flamengo à classificação para disputarem a final da Taça Conmebol Libertadores 2025.
Flamengo tinha a vantagem do primeiro jogo, de apenas um gol sobre o Racing, da Argentina. Mas teve que mostrar muita garra e resiliência na segunda partida da semifinal para manter o empate sem gols e sua vantagem, uma vez que teve um jogador expulso e o time argentino apresentou postura extremamente ofensiva, mesmo não tendo poderio tático à altura da equipe brasileira.
Já, para o Palmeiras o cenário se desenhava totalmente adverso, com vantagem de três gols para a LDU, do Equador. Com estratégia puramente ofensiva na segunda partida da semifinal, o Verdão fez um jogo perfeito, não só conseguindo reverter o placar adverso, como também fazendo o quarto gol que lhe deu a classificação no tempo normal, sem a necessidade da cobrança de pênaltis.
Ambos conseguiram se adaptar às circunstâncias de seus confrontos, apesar de atuarem de forma diferente do habitual. Por isso, a final da Taça Conmebol Libertadores promete ser um jogo altamente técnico, sem possibilidade de se atribuir o mínimo favoritismo para qualquer uma das equipes.
A semifinal do Flamengo
O confronto entre Racing e Flamengo foi a radiografia da desigualdade tática. No jogo de ida, disputado no Estádio do Maracanã, o clube carioca teve domínio territorial, porém sem eficácia nas finalizações, e esbarrou em atuação primorosa do goleiro do Racing, Cambeses, conseguindo apenas a vitória simples.
No jogo de volta, o roteiro basicamente se repetiu no primeiro tempo, com a equipe brasileira tendo maior volume de jogo. Após a expulsão, a meu ver injusta, do atacante flamenguista Plata, o cenário se alterou radicalmente, com o Flamengo se tornando extremamente defensivo para conseguir segurar o resultado que lhe colocava na final.
O estilo de jogo de Filipe Luís, como técnico, possui duas referências marcantes de treinadores com quem trabalhou enquanto jogador: Jorge jesus e Diego Simeone. São seus conceitos que o ajudam a formatar o estilo do Flamengo para transitar entre duas plataformas opostas com facilidade. Esse diferencial, somado à alta qualidade individual do elenco que o rubro negro possui, se traduz no hibridismo tático da equipe carioca.
O Flamengo habitualmente joga de forma intensa e com a posse de bola, buscando ser protagonista do jogo, independentemente de ser visitante ou mandante. Mas, neste último jogo, mostrou que sabe atuar de maneira ultra conservadora. Transitou pelo domínio das ações do jogo e passou a se defender após a expulsão, baixando as linhas de marcação, o que atrapalhou consideravelmente o adversário, que só conseguia utilizar ligações diretas e ser perigoso em lances de bola parada.
Foi numa rara falha de marcação da equipe do Flamengo, que o goleiro Rossi fez a maior defesa do jogo e garantiu a classificação para disputar a final da Libertadores pela quinta vez em sua história. Toda a equipe, porém, merece destaque nessa classificação pelo foco e organização que apresentaram.
O Flamengo mostrou ser um time que possui plano de jogo para quando está desconfortável em uma partida. Sabe sofrer e conseguir alternativas dentro da realidade que lhe é imposta em campo. É, portanto, um adversário extremamente organizado e difícil para o Palmeiras.
A semifinal do Palmeiras
O Palmeiras teve atuações totalmente antagônicas nesta fase de semifinal, contra adversário muito bem treinado pelo técnico brasileiro Tiago Nunes. Diante da organização da LDU, mostrou ampla fragilidade no primeiro confronto, com muitos erros técnicos e táticos que culminaram em derrota pífia.
No segundo confronto, começou a surpreender na escalação, que aparentava ter o único objetivo de dar força ofensiva à equipe. Como o placar era extremamente desfavorável, Abel Ferreira fugiu do óbvio e se arriscou, colocando Andreas Pereira como único volante responsável pela marcação, considerando que os noventa minutos do jogo seriam suficientes para produzir uma “noite mágica”.
Era considerada praticamente impossível conseguir a classificação, uma vez que a equipe palmeirense não indicava fase regular em recorte recente, não vindo de bons resultados contra adversários diretos no Brasileirão, e a história das semifinais da Libertadores não mostrava reversão de vantagem tão grande. O poder de mobilização foi um dos diferenciais.
Houve finalizações perigosas desde o início da partida, mas somente pouco antes da metade do primeiro tempo é que foi concretizado o primeiro gol. Pelas circunstâncias do jogo, Abel utilizou estratégia kamikaze que poderia ser um fiasco, mas, foi muito bem sucedida diante da inoperância ofensiva da LDU no segundo tempo. O técnico foi certeiro na escalação e nas substituições, que corresponderam exatamente ao plano proposto.
Destaque para Allan Elias, que não sentiu o peso do jogo e sofreu um pênalti; Raphael Veiga, que se mostrou recuperado de momento irregular tecnicamente, marcando dois gols; Vitor Roque que não foi decisivo, mas teve participação coletiva fundamental; e Bruno Fuchs, que assumiu com sucesso função diferente da de origem.
Ao utilizar o sistema de três zagueiros, o time ficou extremamente ofensivo, pois Piquerez foi liberado para jogar como mais um meio-campista, que migrava da lateral para o centro do campo, quando a equipe tinha a posse de bola. Sem ataques frequentes da LDU, todos os jogadores palmeirenses assumiram funções ofensivas, e o que parecia impossível se concretizou.
Essas atuações épicas são raras, pois dependem de junção de fatores e passam por extrema organização e entendimento coletivo, além de contar com o “dar tudo errado” para o adversário. O elenco do Palmeiras é altamente qualificado em todas as posições e está exigindo maior criatividade do técnico Abel Ferreira, que poderá surpreender o Flamengo na final. geRead More


