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1995: série carrega saudosismo e revela bastidores de rixa entre Romário e Edmundo por funk

1995: série carrega saudosismo e revela bastidores de rixa entre Romário e Edmundo por funk

Vem aí 1995: No Tempo dos Badboys!
Um artilheiro que desafia o melhor do mundo e canta que o torcedor rival é otário. Um duelo de futevôlei, à noite, na véspera de um clássico nas areias de Ipanema. Um craque que se proclama deus contra os reis do Rio e diz que o seu rival é um merda. Parece tudo tão distante, porque é. Mas eram só alguns dias comuns no futebol carioca em 1995.
Neste domingo (21/12), às 22h30 (de Brasília), o Sportv e a Globoplay lançam o documentário “1995: no tempo dos bad boys”, uma biografia de um ano com a cara do Rio de Janeiro e da sociedade carioca e brasileira dos anos 1990. Naquele ano, Romário voltou para vestir rubro-negro no centenário, formou o trio dos sonhos com o amigo, pero no tanto Edmundo e Sávio, mas saiu de mãos vazias. Ainda em 1995, Renato Gaúcho deu as costas para a aposentadoria e colocou a barriga na História. E Túlio virou Maravilha.
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Em três episódios — o segundo e o terceiro vão ao ar às 22h e 20h, na segunda e terça, respectivamente, no SporTV e Globoplay —, a série narra a saga em busca do título rubro-negro em meio à fogueira das vaidades da Gávea e num ano repleto de folclore futebolístico, mas também envolto em tragédia. Tudo no ritmo funk, em tempos politicamente incorretos, com relações apimentadas pelos microfones e até em anúncios publicitários em jornais.
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— A ideia é levar o espectador para uma viagem nostálgica do futebol dos anos 1990. E talvez o maior expoente daquele tempo, que hoje parece tão distante, seja aquele 1995 do centenário do Flamengo. Da disputa de “rei do Rio” entre Romário, Renato e Túlio. Personagens polêmicos ou folclóricos ou polêmicos e folclóricos. A série também fala muito de funk como símbolo de uma revolução cultural carioca e dessa ligação quase que obrigatória com o futebol e com as arquibancadas — contou o jornalista Chico Trigo, diretor da série.
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Raphael Zarko
O episódio 1 se debruça sobre a contratação de Romário e a estrela de Renato Gaúcho. O número 2 tem a festa de chegada de Edmundo e a crise do “ataque dos sonhos”. O “Show do Apolinho”, na chegada do radialista Washington Rodrigues, é o episódio final, com o acidente de Edmundo dias antes da final da Supercopa. Num fim de ano inglório na Gávea.
— Os anos 1990 foram os melhores anos da minha vida — disse Romário, protagonista da série, que aborda o período logo depois de sua chegada no Rio, em Janeiro de 1995, meses depois do tetra com a Seleção em 1994 .
Naquele ano, o Flamengo perdeu o Carioca para o Fluminense num 3 a 2 inesquecível. Depois, formou o ataque dos sonhos com Romário, Sávio e Edmundo para o segundo semestre – o trio fez 24 gols em 20 jogos. A campanha no Brasileiro foi ruim. Na Supercopa da Libertadores, venceu sete de oito partidas, mas terminou vice para o Independiente, que completava 90 anos de idade.
A série conta o início da relação da dupla de “bad boys” Romário e Edmundo. Eles foram apresentados por Paulo Angioni num almoço em São Cristóvão. As crias do Vasco ainda defendiam Barcelona e Palmeiras, respectivamente.
— Era um cara tranquilão. Bom de onda. Queria ganhar no futebol, queria ser grande e tinha um gosto parecido com o meu. Gostava de mulher, gostava de praia, gostava de sair e essas coisas me chamaram atenção — contou Romário.
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Edmundo no Flamengo
Protagonismo funk
O “Hino dos bad boys”, um funk composto por Romário e o amigo da praia Raposão, retrata uma época de explosão do ritmo no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. O som dos amigos inseparáveis da época virou hit e Romário ainda indicou Edmundo para trocar o Palmeiras pelo Flamengo, em maio, mas a parceria dentro e fora de campo virou o primeiro motivo para desavenças.
— Quando o Edmundo chegou na Gávea, o Romário estava se recuperando de uma contusão e eu fui levá-lo na casa do Romário. Eles estavam gravando aquele funk, mas aquilo gerou desentendimento entre os dois. Porque foi feito um contrato e o Edmundo se sentiu lesado. Porque a parte dos direitos legais do disco que ele ia receber era menor que a do Romário. Aquilo ali acabou provocando a primeira discordância entre os dois e não tinha nada a ver com o futebol – lembrou o jornalista Maurício Menezes, vice de comunicação do Flamengo em 1995.
São mais de 20 entrevistados, entre jogadores, treinadores, dirigentes e músicos da época — com DJ Marlboro e MC Leonardo, autor do “Rap do Centenário”, em homenagem ao Flamengo.
Renato revê momentos da carreira em 1995, com o diretor de fotografia Marcelo Bastos e o diretor da série Chico Trigo
Raphael Zarko
O caso foi lembrado ao ge pelo empresário Luiz Calainho, que em 1995 era vice-presidente de marketing e vendas da Sony Music Brasil e acompanhou todo o caso. Calainho conta que foram eles, da gravadora, que foram atrás da dupla de bad boys. A ideia era ir atrás de “oportunidade” de divulgar dois grandes astros do futebol e com fama de polêmicos e, ao mesmo tempo, amigos da noite.
Calainho recorda que, no mundo da música, a figura de um líder numa dupla é natural.
— Vou falar de uma dupla de grandes amigos, que eu tive o privilégio de lançar na época da Sony Music, que é o Zezé de Camargo e o Luciano. Toda dupla tem um líder. O próprio Luciano sabe que o líder da dupla é o Zezé. Ponto. Então, nesse caso aqui, o Romário era o líder da dupla, já tinha ganho muita coisa, estava vindo do Barcelona, feito aquele período histórico dele. Edmundo também era um grande jogador… mas não se comparava naquele momento ao tamanho do Romário — lembrou.
A música acabou lançada como um single que fez muito sucesso. Tocava e foi muito trabalhada em rádios populares. Romário cantou o “hit” no programa da Xuxa e Edmundo falou da dupla que nasceu e ficou pelo caminho em participação no Domingão do Faustão, antes da chegada ao Flamengo. A ideia da gravadora era regravar alguns sucessos do futebol, como “Fio Maravilha”, de Jorge Ben Jor.
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— Os astros têm ciúmes e nessa dos ciúmes, o negócio acabou realmente não indo para o lugar que a gente queria que tivesse ido. Eu lembro que a gente tinha algum receio de que pudesse dar alguma questão (com o Edmundo), mas é evidente que a gente não poderia oferecer as mesmas condições contratuais que a gente tinha oferecido para o Romário. O Romário era o “lead singer” da dupla — lembra, com bom humor, Luiz Calainho.
— A gente imaginou que talvez conseguisse contornar o problema, mas realmente o Edmundo ficou aborrecido. Também não tiro a razão dele, cada um tem as suas razões e, de fato, deu esse bafafá aí — lembra, com bom humor, Luiz Calainho.
Nem Edmundo nem Vanderlei Luxemburgo quiseram participar da produção. O treinador, que anunciou aposentadoria recentemente, viveu momentos delicados nas mãos de Romário. Hoje, os dois já superaram os problemas – como disse o próprio Romário ao “Abre Aspas” do ge –, mas em 1995 Vanderlei se irritou e, segundo entrevista de Kleber Leite ao “Globo”, incentivou os companheiros a agredirem o Baixinho.
Na série, Kleber contou apenas que “tentou de tudo” para por panos quentes na briga da sua estrela do ataque e de um técnico que despontava como o melhor do futebol brasileiro.
— Mas o Romário tinha razão — disse Kleber, sem citar a polêmica da época.
O discreto Paulo Angioni não esconde as marcas daquele ano. Vanderlei o acusou de acobertar as escapulidas de Romário. Uma delas foi quando Romário desceu de Nova Friburgo em carro particular, fora do ônibus da delegação às vésperas da final do Carioca. Outra, quando o camisa 11 sumiu da concentração e provocou a ira de Vanderlei, que cobrou reação de Kleber. A fuga, a rigor, não existiu. Romário estava acompanhado dentro de um carro numa calçada em frente ao casarão de São Conrado, onde o Flamengo se concentrava.
— (Na época) Eu tive informação de que o Vanderlei tinha chegado no Flamengo revoltado com o Romário, que ia para vias de fato com ele. Uma coisa assim sem nexo. Houve outro momento de discussões pessoais totalmente desnecessárias. Para mim, era uma briga de poder do Vanderlei com o Romário — relatou Angioni, hoje dirigente do Fluminense.
O “rei do Rio” nos jornais
A disputa pelo protagonismo do futebol carioca foi além das entrevistas mais livres e espontâneas das estrelas da época. As provocações apareciam sob a forma de “informes publicitários” nos jornais.
Leitores de jornais pagavam milhares de reais para provocar os rivais e defender seus ídolos. Depois da vitória do Flamengo de Romário sobre o Botafogo de Túlio na final da Taça Guanabara, um torcedor mandou publicar “calamidade em Botafogo – recolher enTÚLIO” (veja mais gozações logo abaixo).
— Eles ganharam a Taça Guanabara, já estavam garantidos na final. E aí o Romário achou que era o rei da cocada — recordou Túlio, que foi artilheiro do Brasileiro por dois anos seguidos.
Túlio em entrevista para a série: jogador contou que perdeu a timidez e aprendeu a dar entrevista depois de anos “mudo” na Suíça
Raphael Zarko
A vingança de Túlio não veio pelo Carioca, apenas no Brasileiro. Mas o Estadual serviu para devolver a gozação. Ele terminou o campeonato com 27 gols, um a mais do que o Baixinho. Foi o bastante para série de respostas no jornal, com direito a “não adianta chorar o K. Leite derramado”.
— Era um tempo maravilhoso. Não tinha esse tal de celular, não tinha essas redes sociais, entendeu? — lembrou Renato Gaúcho, que concedeu entrevista duas semanas depois de se demitir do Fluminense, sob alegação justamente do efeito das redes na vida atual de treinador de futebol.
— O Rio de Janeiro é a melhor cidade do mundo. É imbatível em todos os sentidos — comentou o gaúcho mais apaixonado pela capital fluminense.
Torcedor provoca “enTúlio” no dia seguinte aos três gols de Romário na final da Taça Guanabara de 1995
Reprodução “Jornal do Brasil”
Torcedor compra espaço publicitário para provocar o Flamengo e Romário no dia seguinte à final do Carioca de 1995
Reprodução “Jornal do Brasil” geRead More