“Acabou a paciência”: os bastidores da suspensão dos treinos na Ponte por salários atrasados
Atletas da Ponte Preta suspendem atividades por falta de pagamentos
A decisão do elenco da Ponte Preta em suspender as atividades até que as pendências financeiras sejam quitadas pela diretoria foi tomada no último sábado, mas é consequência de um longo – e desgastante – processo, com promessas não cumpridas e prazos desrespeitados.
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A insatisfação não é apenas pelo tempo sem receber, mas também pela condução do caso.
– Acabou a paciência – foi uma das frases ouvidas pela reportagem do ge sobre a situação.
Os atrasos salariais fazem parte da rotina alvinegra desde a metade do ano, com alguns casos chegando a sete meses para jogadores, conforme a nota oficial divulgada pelo elenco, e oito meses para profissionais dentro departamento de futebol, contando também as categorias de base.
Estádio Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta
Júlio César Costa/Especial PontePress
Durante o período, inúmeras reuniões e conversas foram realizadas entre diretoria e atletas, com o grupo sempre buscando entender a crise financeira do clube e superando os problemas extracampo para conquistar o acesso para a Série B e também o primeiro título nacional da história da Ponte em 125 anos.
A expectativa dos jogadores e dos outros profissionais era que os acertos ocorressem até o fim do ano. Os atrasos também chegaram a funcionários do CT do Jardim Eulina, do estádio e do Clube Paineiras em dezembro, sem o pagamento do 13º salário também.
Desde que o elenco se apresentou para a pré-temporada, em 8 de dezembro – o retorno foi adiado em uma semana justamente por causa das pendências salariais, pelo menos duas novas datas foram passadas para o pagamento, o que não ocorreu, aumentando a insatisfação interna e deixando o ambiente tenso.
As primeiras consequências práticas da indignação foram sentidas durante a semana, com duas saídas: do volante Léo Oliveira, remanescente do título da Série C, e do lateral-direito Gabriel Inocêncio, que ficou apenas três dias no clube.
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Existia uma previsão que parte das dívidas com o elenco fosse paga na última segunda-feira, mas o valor não foi liberado “por motivos alheios à vontade do clube”, segundo a assessoria de imprensa da Ponte.
Diante do cenário, o jogo-treino que estava marcado contra o Rio Branco, para a manhã de sábado, foi cancelado, como forma de protesto dos atletas, e houve uma longa reunião do elenco com o coordenador João Brigatti e o gerente de futebol Ricardo Koyama.
Sem a presença do presidente Luiz Antônio Torrano, que desde que tomou posse, em 1º de dezembro, ainda não teve um contato direto com o grupo, e também de Marco Antonio Eberlin, ex-presidente e agora vice e diretor de futebol, sobrou para Brigatti e Koyama darem satisfação (mais uma vez) aos jogadores e também ouvirem deles desabafos sobre a falta de pagamento e as promessas não cumpridas.
Após a conversa com os dirigentes, o elenco ficou sozinho no vestiário e mantiveram a postura que só voltariam a treinar com os valores pagos. Em relação aos recém-contratados, em alguns casos existia um acordo para pagar um valor em dezembro, o que não também não foi feito.
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Cansados de esperar, os atletas buscaram respaldo jurídico com os advogados Filipe e Thiago Rino e soltaram uma nota oficial comunicando a paralisação das atividades por tempo indeterminado (veja a íntegra do comunicado mais abaixo). A mensagem foi compartilhada pelos atletas nas redes sociais.
Segundo a assessoria de imprensa da Ponte, um novo prazo para quitar parte das pendências foi estipulado pela diretoria: entre segunda e terça-feira (dias 22 e 23 de dezembro).
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Com a suspensão dos treinos, a questão financeira impacta diretamente na preparação alvinegra para 2026, uma vez que a estreia da Ponte no Paulistão será dia 11 de janeiro, contra o Corinthians, na Neo Química Arena.
Em meio às incertezas sobre o futuro e a insegurança provocada pelos constantes atrasos, não dá para descartar, por exemplo, que o elenco sofra novas baixas durante a pré-temporada se as pendências não forem solucionadas.
Veja a íntegra da nota oficial do elenco da Ponte:
“Nós, atletas da AA Ponte Preta, remanescentes da temporada 2025 e os recém-contratados para a temporada 2026, em conjunto, comunicamos que:
Como é de conhecimento da imprensa e torcedores, a maioria dos atletas não recebeu as férias de 2025, 13º salário de 2025, além de diversos meses de salários e direito de imagem em atraso, que em alguns casos chegam a 7 meses sem o devido pagamento.
O § 5º do artigo 90 da Lei Geral do Esporte permite ao atleta profissional de futebol paralisar as atividades profissionais, inclusive recursa-se a competir, quando os salários estiverem em atraso por 2 (dois) ou mais meses:
Art 90 -…
§ 5º É lícito ao atleta profissional recursa-se a competir por organização esportiva quando seus salários, no todo ou em parte, estiverem atrasados em 2 (dois) ou mais meses.
Assim, comunicamos a diretoria da AA Ponte Preta que, a partir de 22/12/2025, suspenderemos nossas atividades, até que as verbas em atraso sejam regularizadas.
Atenciosamente,
Elenco Profissional de Atletas da AA Ponte Preta” geRead More


