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A história secreta da bruxaria

Na Europa dos séculos 16 e 17, homens e mulheres eram condendos à morte sob acusação de que causavam tempestades, destruíam rebanhos ou levavam pessoas à loucura. Pessoas acusadas de bruxaria na Inglaterra eram executadas na forca, e não em fogueiras, como no restante da Europa.
GETTY IMAGES/BBC
O que nós sabemos sobre as bruxas? Ou bruxos? Conhecemos bem aquela imagem da mulher com poderes mágicos e feitiços, com um chapéu pontudo, uma vassoura e um gato preto. Por trás desse estereótipo, no entanto, existe uma história sombria de tortura e perseguição.
Muito do que achamos que sabemos sobre bruxaria vem dos séculos 16 e 17 na Europa – especialmente o trabalho do caçador de bruxas e bruxos Matthew Hopkins. Suas ações levaram à morte de cerca de cem pessoas e ainda ecoam sobre a realidade atual.
Nos séculos 16 e 17, os europeus viviam naquilo que historiadores chamam de “um universo mágico”, em que o mundo material e suas instituições eram muitas vezes influenciados pela crença em Deus e no Diabo.
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A vida na Inglaterra da época era muito difícil. As pessoas estavam frequentemente passando fome, indignadas e temerosas. A maioria vivia em pequenas comunidades rurais – e o país viu sua população mais que dobrar entre 1530 e 1630. Havia ainda surtos de doenças e eventos climáticos ligados à “pequena era do gelo” pela qual passava a região, e que com frequência levava as colheitas ao fracasso.
Acontecimentos ruins do cotidiano podiam ser interpretados como punição de Deus, puro azar ou reflexos de atos de bruxaria. Havia uma disseminada crença de que bruxos e bruxas eram capazes de causar tempestades, destruir rebanhos, levar pessoas à loucura ou mesmo matá-las.
Processos jurídicos
Os julgamentos de pessoas acusadas de bruxaria seguiam um rito legal, e as taxas de absolvição eram relativamente altas. No sudeste da Inglaterra, apenas 22% daqueles processados foram executados.
Apesar de a morte na fogueira ser comum na Europa na época, na Inglaterra os condenados por bruxaria eram executados na forca.
Matthew Hopkins liderou caças a bruxos e bruxas na Inglaterra.
BBC/GETTY IMAGES
Na década de 1640, durante o caos causado pela Guerra Civil Inglesa, surgiu o caçador de bruxas Matthew Hopkins, acompanhado de seu colega John Stearne.
Conhecido como o “descobridor-geral de bruxos”, Hopkins viajava para vilas na região de East Anglia, geralmente convidado por moradores preocupados para ouvir suas suspeitas.
Com seus assistentes, ele procurava a chamada “marca de bruxa”, também conhecida como “tetina”, no corpo de acusados, de onde acreditava-se que “familiares” chupassem sangue.
Acreditava-se que tais “familiares”, que eram meio humanos e meio demônios, faziam companhia às bruxas ou bruxos – as criaturas apareciam nas formas de sapo, furão ou gato.
Hopkins mantinha a suspeita – ou suspeito – de bruxaria em observação durante dias para ver se seu animal “familiar” vinha a seu encontro. A conduta acabava funcionando como mecanismo de privação de sono, desenhada para quebrar a resistência de um suspeito e fazê-lo confessar.
O caçador de bruxas também usava o teste do nado, que envolvia amarrar os dedões das mãos aos dedões dos pés do suspeito e lançá-lo na água, submerso. Acreditava-se que uma bruxa – ou bruxo – pudesse flutuar, por ser rejeitada pela água pura. Se o suspeito fosse inocente, afundaria.
Bruxos do sexo masculino
Naquela época, mulheres eram consideradas mais vulneráveis às tentações do Diabo. Algumas eram particularmente vulneráveis a acusações de bruxaria devido à ausência de proteção em uma sociedade patriarcal.
Entretanto, embora a maioria das pessoas acusadas de bruxaria nos tempos da perseguição de Matthew Hopkins fossem mulheres, em outras partes da Europa um número maior de homens foram perseguidos como bruxos. Alguns também acabaram vítimas da caça protagonizada por Hopkins na Inglaterra.
O clérigo John Lowes, de idade avançada, foi acusado de bruxaria em sua cidade, Brandenston, na região de Suffolk. Ele foi examinado por Hopkins, que disse ter encontrado duas tetinas em sua cabeça e uma terceira sob sua língua.
Sob tortura, ele confessou ter seis familiares, que ele, segundo acusações, ordenou que afundassem um navio, matando 14 homens à bordo. Embora ele tenha posteriormente retirado sua confissão, no dia 27 de agosto de 1645 Lowes foi enforcado na cidade de Bury St Edmunds.
A oposição às ações de Hopkins, porém, cresceu. Várias pessoas começaram a condenar seus métodos. Sua influência diminuiu, e ele acabou morrendo em casa, em 1647, após ter ficado doente.
No total, em toda a Inglaterra, cerca de 250 pessoas foram investigadas sob acusação de bruxaria durante a caça protagonizada por Hopkins. Cerca de 100 delas foram condenadas.
Foi um período curto e trágico na história do país. Nos séculos 16 e 17, muita gente acreditava na necessidade de caças a bruxas (e bruxos) para proteger suas comunidades. Essas perseguições, porém, também podem ser vistas como uma forma de culpar pessoas vulneráveis pelas dificuldades da época.
Hoje vivemos em um mundo muito diferente, mas será que a mentalidade de caça às bruxas realmente despareceu? Ainda temos a tendência de aceitar respostas fáceis para problemas complexos.
As redes sociais alimentam tanto teorias da conspiração quanto a humilhação pública de pessoas. Medo e incerteza continuam sendo usados para transformar setores vulneráveis da sociedade em bodes expiatórios.
Embora o contexto seja diferente, parece que as caças às bruxas seguem vivas e fortes.
*Gemma Allen é doutora e professora de história moderna da Inglaterra na Open University (Reino Unido)g1 > MundoRead More

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