Antes borradas, imagens de instalações militares russas passam a ser exibidas no Google Maps
Em meio a tensões com a Rússia, o gigante de tecnologia Google, que teve seu serviço de notícias banido pelo Kremlin, tornou possível a visualização das instalações estratégicas do país aos usuários, nesta segunda-feira (18), por meio do Google Maps. A ferramenta agora permite ver detalhes da infraestrutura militar de Moscou, segundo informações do jornal independente The Moscow Times.
A plataforma abriu o acesso público a imagens de satélite em alta definição de todas as bases militares russas, fortificações, instalações, aeroportos, jatos, navios, sistemas antiaéreos e plataformas de lançamento de foguetes nucleares.
“Admiral Kuznetsov”, um porta-aviões russo que atualmente passa por trabalhos de reforma (Foto: Google Maps/Reprodução)
Normalmente, as imagens de satélite de instalações militares são desfocadas ou exibidas em qualidade inferior pelo Google Maps, a fim de proteger o status confidencial.
“Agora, todos podem ver [a infraestrutura militar russa] com uma resolução de cerca de 0,5 metro por pixel”, postou no Twitter o perfil das forças armadas da Ucrânia.
GOOGLE MAPS ВІДКРИВ ДОСТУП ДО ВІЙСЬКОВИХ ТА СТРАТЕГІЧНИХ ОБ’ЄКТІВ РОСІЇ.
Тепер кожен може побачити різноманітні російські пускові установки, шахти міжконтинентальних балістичних ракет, командні пункти та секретні полігони з роздільною здатністю близько до 0,5 метра на піксель. pic.twitter.com/i75wR8Efwo
— Armed Forces (@ArmedForcesUkr) April 18, 2022
Nas imagens, é possível ver o “Admiral Kuznetsov“, um porta-aviões atualmente em reforma, além da plataforma de lançamento de um míssil balístico intercontinental nuclear. Também podem ser vistos submarinos na península de Kamchatka, no Extremo Oriente, e uma base aérea militar na cidade ocidental de Kursk, localizada a apenas 150 quilômetros da fronteira russo-ucraniana.
Moscou x Google
Em março, o órgão regulador de comunicações russo, o Roskomnadzor, acusou o Google de permitir acesso ao que chama de “material falso sobre a operação militar do país na Ucrânia”. Autoridades russas acusam a mídia ocidental de deturpar o conflito, o qual chama de “operação militar especial” e exige que a imprensa local se refera assim à invasão.
Tradutores a serviço do Google na Rússia também receberam a determinação de não usar a palavra “guerra” ao se referirem à incursão militar no Leste Europeu.
Após o início da ofensiva das tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o Google baniu anúncios para usuários russos. O Kremlin acusou o YouTube, de propriedade do Google, de provocar uma “guerra de informação” depois que a plataforma bloqueou a mídia estatal – entre os veículos bloqueados estão a versão alemã da emissora russa RT e o DFP (Der Fehlende Part), ligado à RT.
Além do Google, a censura russa decretou no começo de março o bloqueio parcial do acesso ao Facebook, ao Twitter e a diversos sites informativos locais e estrangeiros no país. A ação foi mais um capítulo da repressão imposta por Moscou às vozes dissonantes durante a guerra na Ucrânia.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo an. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.
No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.
Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.
O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.
A debandada custará caro ao consumidor russo, privado de produtos em setores diversos, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e geração de energia.
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