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De novos fertilizantes a fermento do semiárido, pesquisas atraem R$ 41 milhões da União; conheça as iniciativas

Mapeamento mais preciso de solos e geração de novas variedades da cana-de-açúcar também estão entre projetos financiados. Menor exposição a crises de abastecimento e ganhos de produtividade estão entre benefícios esperados. Pesquisadores da Rede FertBrasil em campo, para avaliação dos testes com fertilizantes
FertBrasil/Divulgação
A possível escassez de fertilizantes, que já resulta no aumento do preço desses insumos, faz o agronegócio brasileiro procurar soluções para garantir a manutenção da oferta desses produtos ou pelo menos suavizar os efeitos da crise desencadeada pela guerra na Ucrânia.
Nesse cenário, projetos como a Rede FertBrasil, liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), se dedicam à transferência de tecnologias adaptadas para agrossistemas típicos do país a fim de introduzir novas fontes de nutrientes e promover maior eficiência na agricultura, o que tem chamado a atenção das autoridades brasileiras.
O programa é um dos quatro recentemente selecionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (conheça cada um deles abaixo) para receber aportes que somam R$ 41,6 milhões.
“Já estamos desenvolvendo insumos biológicos para solos brasileiros. Com apenas um produto que lançamos, conseguimos com que o agricultor economizasse mais de 10% na aplicação de fertilizantes fosfatados. Caso o projeto estivesse em pleno funcionamento, novas tecnologias poderiam ser incorporadas pela agricultura brasileira, como as de fertilizantes de liberação lenta ou controlada, visando ao aumento da eficácia de absorção pelas plantas dos nutrientes aplicados no solo”, explica o coordenado José Carlos Polidoro.
Projetos de geração de novas variedades de cana-de-açúcar, mapeamento de solos para um desenvolvimento agroambiental e a produção de um fermento com o “terroir” do semiárido brasileiro para produtos à base de leite também serão contemplados pelos recursos, provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
Responsáveis pelas iniciativas projetam benefícios como menor exposição a crises de abastecimento, ganhos de produtividade e maior sustentabilidade no controle de pragas, além de um aquecimento na indústria nacional. A seguir, conheça cada uma delas.
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Diferentes opções de fertilizantes
Liderada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com apoio de mais de dez universidades e institutos federais, a iniciativa da Rede FertBrasil já trouxe importantes inovações ao agronegócio brasileiro, tornando-se referência para o decreto 10.991/2022, que estabeleceu o Plano Nacional de Fertilizantes 2022-2050.
Exemplos desses resultados são o aumento da oferta de fertilizantes organominerais e o desenvolvimento de insumos biológicos específicos para solos brasileiros, como os de fosfato, que aumentam a absorção de nutrientes pelas plantas, diminuindo a necessidade de produtos importados.
Com a expectativa de receber R$ 11 milhões do MCTI até maio, a iniciativa pretende entregar outras dez novas tecnologias, pelo menos três delas no próximo ano e as demais em dois anos. Os novos investimentos devem ajudar a validar essas tecnologias e a incrementar novas pesquisas.
“Tais resultados podem alavancar a indústria nacional de fertilizantes, tornando-a uma referência internacional para agricultura tropical e expandindo o raio de ação do projeto dentro e fora do país”, destaca o pesquisador Paulo César Teixeira, vice-coordenador da Rede FertBrasil.
Um portfólio de produtos, processos e serviços, além de mapas interativos de fertilidade do solo, manuais técnicos, material didático e cursos online, será divulgado através de uma plataforma digital, para acesso público, em especial de técnicos, produtores e pesquisadores.
De acordo com Teixeira, todo esse trabalho possibilitará que o Brasil fique menos exposto a crises de abastecimento e oscilações de preços, como as vivenciadas nos últimos dois anos.
“A validação de produtos que possam ser apropriados pela indústria nacional de fertilizantes e insumos para nutrição de plantas pode reduzir custos de produção agropecuária e aumentar a eficiência na utilização de nutrientes como o fósforo e o nitrogênio, minimizando cenários de insegurança alimentar associada a escassez de fertilizantes no mercado internacional”.
Projeto desenvolve técnicas para melhoramento genético da cana-de-açúcar
Ridesa/Divulgação
Novas variedades de cana
Ao longo dos últimos 30 anos, a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) utiliza metodologias de melhoramento genético para a geração de variedades de cana-de-açúcar, que hoje correspondem a 68% da produção brasileira de açúcar e álcool.
Com um novo recurso federal de R$ 12 milhões, a rede formada por dez instituições federais está prestes a iniciar uma nova fase, chamada de 4.0, que prevê incorporar tecnologias que permitam o melhoramento genético da cultura de cana no prazo de 36 meses.
“O melhoramento de plantas passou a contar com novas ferramentas de desenvolvimento de variedades, que vão desde a inclusão de transgenes que viabilizam o controle efetivo de pragas e doenças de maneira limpa e não poluente até a análise molecular de plantas para identificação de clones superiores, precocemente e a um menor custo”, explica o professor da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alexandre Siqueira Guedes Coelho.
Dessa forma, as diferentes ações desenvolvidas serão implementadas tanto nos laboratórios das universidades quanto em campos experimentais das mais de 300 usinas conveniadas.
Na avaliação de Coelho, os frutos dos recursos investidos agora se tornarão evidentes na medida em que novas variedades da cana chegarem ao mercado.
“Pretendemos, ainda, acelerar os ganhos de produtividade, ampliando a renda da cadeia produtiva de cana-de-açúcar, bioenergia, bioetanol e açúcar, o que elevará a competitividade mundial do país, aumentar a produção de biomassa da cana, contribuindo para maior sequestro de carbono, e contribuir para sustentabilidade ambiental do setor sucroenergético brasileiro”.
Maria de Lourdes Mendonça, coordenadora do comitê executivo do PronaSolos
PronaSolos/Divulgação
Mapa de solos brasileiros
Disponível desde dezembro de 2020, quando foi lançada sua primeira versão, a plataforma PronaSolos é um portal que integra dados e informações sobre diferentes solos brasileiros, a partir de um mapeamento realizado pelo Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos).
Seu objetivo é ampliar o conhecimento dos solos, tanto em extensão territorial quanto em detalhamento, indicando também características específicas regionais e suas formas de utilização.
Com a cooperação de mais de 30 instituições em todo o território nacional, o projeto deve investir os R$ 12 milhões repassados pela União na incorporação de métodos como mapeamento digital e ressonância magnética nuclear, que farão avançar significativamente o levantamento atual.
“O programa necessita ir a campo para desenvolver, validar e aplicar protocolos e tecnologias que incorporem inovações à realização das atividades de levantamento de solos e sua interpretação em todo país. Portanto, a captação de recurso é primordial para a sua concretização”, analisa a pesquisadora Maria de Lourdes Mendonça, coordenadora do comitê executivo do PronaSolos.
Ela estima que, em 30 anos, serão necessários mais recursos da ordem de R$ 4 bilhões para que sejam alcançados os objetivos do programa.
“O retorno para a sociedade, por outro lado, pode chegar a R$ 185 para cada real investido, gerando informações que subsidiarão políticas públicas no meio rural e nas cidades, trazendo inúmeros benefícios à sociedade”, prevê.
Em dezembro de 2021, foi lançado o segundo módulo da plataforma, trazendo melhorias de usabilidade, performance e segurança de dados, visando que informações, conhecimentos e tecnologias gerados pelo programa sejam acessados pela sociedade.
“No cenário agropecuário brasileiro, o PronaSolos remove a lacuna que nos separa dos países mais desenvolvidos no conhecimento e aproveitamento sustentável dos recursos naturais, especialmente dos solos e da água; garante a segurança hídrica, alimentar e energética da população brasileira; aumenta a competitividade da bioeconomia nacional e desenvolve tecnologias sociais para a inclusão socioprodutiva, com redução das assimetrias regionais na produção e acesso à ciência, tecnologia e inovação”, cita Maria de Lourdes.
Pesquisa pretente criar fermento a partir de micro-organismos do terroir semiárido brasileiro
Mônica Tejo Cavalcantt/Arquivo Pessoal
Fermentação brasileira exclusiva
A produção de leite sofre com a interferência de fatores ambientais como alimentação dos animais, temperatura e umidade. Sendo assim, cada região produtora apresenta um conjunto diferente dessas condições, ao que se deu o nome de “terroir”
No Brasil, o terroir do semiárido nordestino possui qualidades únicas, com as quais o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) quer desenvolver um fermento autóctone, ou seja, particular daquela região. Com um investimento federal da ordem de R$ 6,6 milhões, o objetivo é melhorar a qualidade, a produtividade e a competitividade da produção de leite e derivados do semiárido.
De acordo com a diretora do Insa, Mônica Tejo Cavalcantti, a ideia é que esse fermento tenha elevada concentração de células viáveis e de baixo custo, preservando a biodiversidade do semiárido a partir do isolamento e da aplicação de um micro-organismo que possa ser usado como fermento em produtos lácteos.
“Uma coleção de lactobacilos nativos isolados de leite e produtos lácteos e selecionados com base em propriedades probióticas e tecnológicas foi gerada em projetos recentes da Embrapa Solos. No entanto, para que as estirpes selecionadas, hoje mantidas em coleções da Embrapa, alcancem o mercado brasileiro de fermentos láticos, é necessária a otimização dos parâmetros de produção dos fermentos láticos e dos testes de aplicação em alimentos”, avalia a diretora.
Ela enfatiza que, dessa forma, espera-se proporcionar uma redução de custos de produção aos laticínios, bem como a criação de produtos derivados do leite com características específicas do terroir do semiárido nordestino.
A iniciativa espera ainda estimular a popularização do conhecimento técnico entre produtores e empreendimento.
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