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Guerra na Ucrânia faz FMI piorar projeções de crescimento global; Brasil sobe com commodities

Projeção brasileira foi ajustada para cima em 0,5 pontos percentuais em 2022 e para baixo em 0,2 pontos em 2023. País faz parte do único grupo que teve revisões para cima, já que se beneficia dos preços mais altos das commodities no mercado internacional. Logotipo do FMI é visto do lado de fora do prédio da sede em Washington
Yuri Gripas/Reuters
Com “piora significativa” das perspectivas, incluindo a guerra na Ucrânia e aceleração da inflação global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo as expectativas de crescimento da economia global para 2022 e 2023.
Na atualização do relatório World Economic Outlook, publicado nesta terça-feira (19), o fundo espera duas altas idênticas do PIB global de 3,6% para este ano e para o próximo, o que significa redução de 0,8 e 0,2 pontos percentuais, respectivamente, comparadas às previsões feitas no início do ano.
Para o Brasil, a projeção foi ajustada para cima em 0,5 pontos percentuais em 2022 e para baixo em 0,2 pontos percentuais em 2023. Assim, o FMI espera uma alta do PIB brasileiro de 0,8% neste ano e 1,4% no próximo.
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A última rodada de previsões do FMI havia sido publicada em janeiro. Naquela ocasião, o fundo ressaltou que a recuperação global deveria se fortalecer a partir do segundo trimestre após um impacto pouco duradouro da variante ômicron do coronavírus nos indicadores de atividade econômica.
De lá para cá, porém, o FMI afirma que a guerra entre Ucrânia e Rússia adicionou um enorme grau de incerteza, tanto como crise humanitária, como nas consequências diretas nas economias dos países envolvidos. (veja as principais revisões no fim da reportagem)
“O grave colapso na Ucrânia é resultado direto da invasão, destruição de infraestrutura e êxodo de seu povo. Na Rússia, o declínio acentuado reflete o impacto das sanções com o rompimento dos laços comerciais, a intermediação financeira doméstica bastante prejudicada e a perda de confiança”, diz o relatório.
O FMI cita ainda, como pontos de prejuízo à atividade, a persistência da inflação na economia global, que gera aumento de taxas de juros em todo mundo, e os desajustes persistentes causados pela Covid, em especial na China, onde a política de contágio zero causa novos gargalos nas cadeias de suprimentos globais.
“Pela natureza inédita do choque, destacamos que a incerteza em torno dessas projeções é considerável, muito além do intervalo usual. O crescimento pode desacelerar significativamente mais, enquanto a inflação pode ficar mais alta do que o esperado se, por exemplo, as sanções destinadas a acabar com a guerra se estenderem a um volume ainda maior de energia russa e outras exportações”, diz o texto.
Inflação acelera
Para o FMI, a guerra na Ucrânia se soma a uma série de choques de oferta que atingiram a economia global ao longo da pandemia, o que amplificou o efeito da escassez de oferta nos setores de energia, agrícola e de minérios.
Antes mesmo da guerra, muitas economias penavam com o aumento dos preços das commodities e dos desequilíbrios de oferta. Tanto mercados emergentes como economias desenvolvidas haviam antecipado o momento de aperto da política monetária.
A novidade nesse sentido é que países com ligações comerciais e financeiras estreitas com a Rússia e Ucrânia terão ainda mais desafios para vencer as dificuldades de mercado. A escassez de suprimentos relacionada à guerra amplificará pressões que já estavam instaladas.
“Como a Rússia é um grande fornecedor de petróleo, gás e metais, e a Ucrânia, de trigo e milho, o declínio atual e previsto na oferta dessas commodities já elevou seus preços drasticamente. Europa, Cáucaso e Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África e África Subsaariana são os mais afetados”, diz o texto.
“Com cadeias de suprimentos globais estreitamente integradas, interrupções de produção em um país podem se espalhar de forma rápida, globalmente”, prossegue.
Para 2022, a inflação está projetada em 5,7% em economias avançadas, e de 8,7% em mercados emergentes e economias em desenvolvimento. Isso significa um aumento de 1,8 e 2,8 pontos a mais do que o projetado em janeiro.
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Impactos no Brasil
Ainda que esteja em situação semelhante à de outros emergentes, o Brasil tem algumas particularidades que o beneficiam. O grupo de países exportadores de commodities (excluindo a Rússia) foi o único que teve revisões para cima na projeção de crescimento.
Como o g1 mostrou desde o início da guerra, o país recebeu um forte fluxo de investimento estrangeiro por ter empresas fortes ligadas à exploração de commodities, por voltar a possuir um diferencial de juros atrativo e pela saída da Rússia como destino interessante para investidores de países emergentes.
É uma lógica que se aplica a vários países da América Latina e Caribe, região que teve as revisões mais discretas do relatório. Em 2022 e 2023, as altas previstas são de 2,5%, um ajuste de 0,1 ponto para cima neste ano e 0,1 ponto para baixo no ano que vem.
“Com menos conexões diretas com a Europa, a região ainda deverá ser mais afetada pela inflação e pelo aperto das políticas monetárias. O Brasil respondeu à inflação mais alta aumentando as taxas de juros em 975 pontos base no ano passado, o que pesará sobre a demanda doméstica”, diz o fundo.
Como novo risco para o país, o FMI indica que uma ampla gama de economias emergentes pode ficar sob pressão se o ritmo do aperto monetário global acelerar ainda mais, especialmente nos Estados Unidos.
“À medida que os bancos centrais de economias avançadas apertam as políticas e as taxas de juros aumentam, os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento podem enfrentar uma nova retirada de capital e depreciações cambiais que aumentam as pressões inflacionárias”, diz o relatório.
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