Guerra na Ucrânia: o que se sabe sobre denúncias de crimes contra civis em Bucha
Corpos de civis foram encontrados espalhados enquanto as tropas russas se retiravam da cidade de Bucha; autoridades do país acusam Rússia de crimes de guerra. A BBC encontrou uma cova rasa com uma família enterrada em Motyzhyn
BBC
A Ucrânia iniciou uma investigação de crimes de guerra depois que corpos de civis foram encontrados espalhados pelas ruas enquanto tropas russas saíam de áreas ao redor da capital Kiev.
Bucha e Irpin eram símbolos de resistência à invasão russa, mas agora estão se tornando sinônimos dos abusos mais sérios da guerra.
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Autoridades ucranianas dizem que os corpos de 410 civis foram encontrados nas áreas ao redor de Kiev até agora.
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Corpos de civis são abandonados em ruas da cidade de Bucha, na Ucrânia
A Rússia, sem provas, diz que as fotos e vídeos são “uma encenação” da Ucrânia.
Mas o que autoridades e repórteres viram lá após a retirada russa deixou muitos em profundo choque.
Aviso: esta publicação contém imagens e conteúdo sensíveis, que podem causar angústia.
O que aconteceu em Bucha?
Dois ou três dias depois que o presidente da Rússia ordenou a invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro, uma coluna de tanques russos e veículos blindados de transporte de pessoal que havia chegado a Bucha foi atacada por ucranianos, impedindo o avanço.
Veículos blindados russos destruídos são vistos na cidade de Bucha, a oeste de Kiev, nesta sexta (4)
Aris Messinis/AFP
Os russos reforçaram a ofensiva e permaneceram na área nos arredores da capital, incapazes de avançar muito, até que começaram a se retirar em 30 de março.
Muitos civis fugiram da área, mas alguns ficaram para trás, tentando evitar os russos. Foi durante este período que, de acordo com testemunhas, os russos começaram a ir de casa em casa.
De acordo com a descrição, soldados russos atiraram em homens que fugiam depois de se recusarem a permitir que saíssem por corredores humanitários.
Autoridades e repórteres que entraram depois que os russos saíram viram tanques e os veículos blindados ao lado de pelo menos 20 homens mortos nas ruas.
Muitos tinham ferimentos extensos – alguns foram baleados na têmpora, uma marca comum em casos de execução. Alguns estavam com as mãos – ou pernas – amarradas. Outros foram claramente atropelados por tanques.
Cova improvisada em Bucha, na Ucrânia
REUTERS/Zohra Bensemra
Imagens de satélite tiradas pela Maxar mostram uma vala comum de 14 metros em Bucha, perto de uma igreja.
A empresa diz que os primeiros sinais de escavação foram vistos em 10 de março – não muito depois do início da invasão russa da Ucrânia.
Os moradores de Bucha afirmam que os primeiros corpos foram enterrados no local nos primeiros dias da guerra, enquanto os russos matavam dezenas, “atirando em todos que viam”. As estimativas dos enterrados variam de 150 a 300.
Aviso: imagem com conteúdo sensível abaixo
‘Tiro na nuca’
A Human Rights Watch reuniu provas de supostos crimes de guerra em Bucha e outras cidades e vilas sob o controle das forças russas.
Em um relatório publicado em 3 de abril de 2022, há um relato de um incidente em Bucha em 4 de março, no qual soldados russos forçaram cinco homens “a se ajoelharem na beira da estrada, puxaram suas camisetas sobre a cabeça e atiraram em um dos homens na parte de trás da cabeça”.
E detalhes mais perturbadores continuam a surgir.
Yogita Limaye, da BBC, visitou o porão de uma casa em Bucha onde foram deixados os corpos de cinco homens vestindo roupas civis. Eles estavam com as mãos amarradas nas costas e pareciam ter sido mortos a tiros.
Os ucranianos dizem que relatos semelhantes estão surgindo em outros lugares.
Na aldeia vizinha de Motyzhyn, uma equipe da BBC foi levada para ver uma cova rasa – quatro corpos estavam visíveis, e autoridades ucranianas disseram que poderia haver mais enterrados.
Três dos corpos foram identificados como Olga Sohnenko, chefe da aldeia onde vivia, seu marido e seu filho. O quarto ainda não foi identificado.
Não está claro quando eles foram mortos.
As áreas ao redor de Kiev agora sob controle ucraniano incluem a cidade de Irpin, onde imagens comoventes mostraram civis fugindo sob fogo russo por dias a fio.
Houve casos de pessoas sendo baleadas ao tentar escapar. Em 6 de março, quatro civis – uma mulher, seu filho adolescente, sua filha de cerca de oito anos e um amigo da família – foram todos mortos por tiros de morteiro enquanto tentavam atravessar uma ponte danificada.
Em outro incidente, mãe e filho também foram mortos e enterrados por vizinhos no pátio do bloco de apartamentos.
Em 7 de março, imagens de drones mostraram um carro em uma estrada nos arredores de Kiev, de onde um homem emerge com as mãos levantadas. Seu corpo cai no chão. Maksim Iovenko, 31, foi morto a tiros pelas forças russas que estavam posicionadas na beira da estrada. Sua esposa Ksenia, que estava no carro, também foi morta.
O relatório da HRW inclui o caso de uma mãe na cidade de Kharkiv, que foi estuprada por um soldado russo de 20 anos dentro de uma escola onde civis estavam abrigados. E há vários outros relatos.
Acusações de crimes de guerra e genocídio
Para o presidente Volodymyr Zelensky não há dúvidas de que as tropas russas estão cometendo crimes de guerra e até genocídio contra seu povo. O genocídio é entendido pela maioria como o mais grave crime contra a humanidade.
É definido como um extermínio em massa de um determinado grupo de pessoas – exemplificado pelos esforços dos nazistas para erradicar a população judaica na década de 1940.
“O mundo já viu muitos crimes de guerra. Em diferentes momentos. Em diferentes continentes. Mas é hora de fazer todo o possível para tornar os crimes de guerra dos militares russos a última manifestação de tal mal na terra”, disse Zelensky no domingo, quando as evidências dos assassinatos em Bucha tornaram-se públicas.
“De fato. Isso é genocídio. A eliminação de toda a nação e do povo. Somos cidadãos da Ucrânia. Temos mais de 100 nacionalidades. Trata-se da destruição e extermínio de todas essas nacionalidades”, disse ele ao programa Face the Nation, da rede americana CBS.
Mas a Rússia continua desafiadora. Diz que sua operação – que eles se recusam a chamar de guerra ou invasão – está seguindo o plano, e que as acusações de crimes de guerra são todas falsas.
Muitos países ocidentais expressaram seu horror às imagens de corpos espalhados pelas ruas das cidades.
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