Hungria vai às urnas no domingo; pleito decidirá futuro da era Orbán e vem marcado pela guerra na Ucrânia
Há 12 anos no cargo, Viktor Orbán, primeiro-ministro e líder do partido nacional-conservador Fidesz, enfrenta sua eleição mais acirrada – com uma oposição que, pela 1ª vez, está unida. Apoiadores do presidente húngaro Viktor Orbán em comício do partido Fidesz no dia 1º de abril de 2022
Petr David Josek/AP
Os eleitores da Hungria vão às urnas no domingo (3) em um pleito que decidirá futuro da era Orbán, que vem sendo marcada nas últimas semanas pela sua reação à guerra na Ucrânia.
Há 12 anos no cargo, o primeiro-ministro Viktor Orbán, líder do partido nacional-conservador Fidesz, enfrenta sua eleição mais acirrada – com uma oposição que, pela primeira vez, está unida.
As eleições legislativas – a Hungria é uma República Parlamentarista – decidirão os novos (ou antigos) ocupantes dos 199 assentos de seu Parlamento.
As pesquisas de opinião preveem uma disputa pesada, com uma pequena vantagem – de 3 a 5 pontos – para o partido conservador Fidesz.
A mais recente, do instituto Zavecz Research, realizada entre 23 e 25 de março, mostrou o apoio ao governo de Orbán em 44%, contra 42% da oposição. A margem de erro da pesquisa foi de 3,5%.
Premiê da Hungria, Viktor Orbán, participa de comício em 1º de abril de 2022
Petr David Josek/Reuters
Fim da era Orbán?
O premiê Orbán é considerado um dos governantes mais polêmicos da Europa e manteve, por 12 anos, um governo autocrático. Ele é o chefe de governo mais antigo da União Europeia.
O líder nacionalista de 58 anos nunca enfrentou tanta incerteza, é como avalia o analista político Bulcsu Hunyadi à agência France Presse.
Conheça Viktor Orbán, o primeiro-ministro conservador da Hungria
“Todas a opções estão sobre a mesa”, disse Hunyadi. “[É crucial] a mobilização final para convencer os indecisos”, que ele estima em meio milhão de eleitores.
A Hungria é um país de de 9,7 milhões de habitantes, sem acesso ao mar, localizado no centro da Europa. Faz fronteira, entre outros, com a Áustria, Eslováquia e Ucrânia.
Oposição unida
A oposição a Orbán vem liderada por Peter Marki-Zay, conservador e prefeito de Hódmezővásárhely – cidade de 50 mil habitantes no sul do país.
Peter Marki-Zay, conservador e líder da oposição na Hungria em comício de 29 de março de 2022
Anna Szilagyi/AP
Marki-Zay tem a difícil tarefa de reunir o apoio de seis partidos bastante diferentes entre si – com representantes da direita, social-democratas e ecologistas – para poder enfrentar o poderoso Fidesz.
A coalizão opositora promete derrotar o “autoritário Orbán”, e acabar com o que chamam de “transformação iliberal”, iniciada em 2010, com vários ataques à democracia.
Sob o slogan político “qualquer um menos Orbán”, os partidos prometeram deixar de lado as diferenças ideológicas e apoiar um único candidato, neste caso, Marki-Zay.
Fazem parte da coalizão:
Coligação Democrática (DK), partido social-liberal
Jobbik, partido nacionalista radical
Políticas Podem Ser Diferentes (LMP), partido verde
Partido Socialista Húngaro (MSZP)
Momentum, partido liberal
Párbeszéd, partido verde
Jogo duplo na guerra
Opositores tentam usar a aproximação de Orbán com o presidente russo, Vladimir Putin, para diminuir as chances de que ele se mantenha no cargo por mais quatro anos.
Fiel aliado de Putin, o premiê húngaro encena o que a colunista do g1 Sandra Cohen chamou de “um jogo duplo” em benefício próprio.
“A guerra de Putin na Ucrânia parece ter ajudado o premiê a resgatar pontos com Bruxelas”, avalia Cohen. “Aparentemente, foi enquadrado pelo bloco europeu.”
A Hungria votou a favor das sanções econômicas à Rússia e condenou a guerra. Não permitiu, porém, o trânsito de armas em território húngaro com destino à Ucrânia.
Presidente húngaro Viktor Orbán e presidente russo Vladimir Putin em entrevista coletiva em 1 de fevereiro de 2022
Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin via Reuters
Forte polarização
Andras Biro-Nagy, analista político e diretor do think tank de Budapeste Policy Solutions, disse em entrevista à agência Associated Press que a Hungria vive uma forte polarização.
“Esta é uma sociedade altamente polarizada, na qual parece que Viktor Orbán pode passar as mensagens que quiser. Pelo menos para seus próprios eleitores”, afirmou o analista.
Ele disse que o chefe do governo húngaro tem usado de um discurso de “paz e segurança” para se aproximar da base de eleitores do Fidesz, em um cenário de incertezas sobre a guerra no país vizinho.
Biro-Nagy acredita que a oposição tenta transformar as eleições deste ano em “um referendo sobre o pertencimento da Hungria ao Ocidente ou Oriente”.
“A oposição húngara tenta enquadrar toda a eleição como a escolha entre Oriente x Ocidente e tenta culpar Viktor Orbán por seus 12 anos de amizade com Putin”, explicou.
Referendo anti-LGBTQIA+
Ao mesmo tempo em que decidem o futuro do Parlamento húngaro, os eleitores também responderão a um referendo vinculado à lei anti-LGBTQIA+.
Totalmente ofuscada nos debates, a lei equipara pedofilia e homossexualidade, proíbe a ‘demonstração da homossexualidade’ para menores de 18 anos e tem causado forte reação da UE.
Além disso, as eleições húngaras serão, pela primeira vez, acompanhadas por mais de 200 observadores internacionais em um contexto de temor de fraude.g1 > MundoRead More