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Luiz Barsi, o megainvestidor que fez fortuna com dividendos

Conheça o investidor que ficou bilionário com ações que pagam bons dividendos. Luiz Barsi não fica na Wall Street paulista, a Avenida Faria Lima, que abriga boa parte dos bancos de investimento e gestoras do país. Em vez disso, o investidor, com fortuna estimada em mais de R$ 4 bilhões, mantém sua base no centro de São Paulo, polo financeiro de décadas atrás, fiel a seu estilo reservado.
Pelo jeito austero e pela visão de longo prazo na bolsa, Barsi é muitas vezes comparado a Warren Buffett, o megainvestidor à frente da Berkshire Hathaway. A analogia também se deve à preferência por ações de companhias que atuam em setores de primeira necessidade e com receitas previsíveis — uma crença que mantém desde que começou a investir, na década de 1970.
“Existe um acrônimo que se chama BESST: bancos, energia, saneamento, seguros e telecomunicações”, resume Louise, a filha de Barsi que segue os passos do pai no mercado financeiro e também se dedica a projetos de educação financeira.
Quem é Luiz Barsi
Luiz Barsi nasceu em 10 de março de 1939 em São Paulo, filho de imigrantes espanhóis e órfão de pai desde que tinha apenas um ano. A origem humilde fez com que fosse obrigado a trabalhar como engraxate e aprendiz de alfaiate. A carreira no mercado financeiro começou aos 14 anos, quando entrou para uma corretora e foi estimulado a fazer um curso técnico de contabilidade.
Depois da formação técnica, ele se formou em direito pela Faculdade de Direito de Varginha (MG) e em economia pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências Atuariais da USP (FEA).
“Já fui engraxate quando não era ninguém, um garoto sem cultura. Eu não podia fazer outra coisa. Mas depois estudei, arrumei emprego, e descobri o que não queria ser. O cidadão tem que assumir riscos. Então, eu passei a investir assumindo riscos. Eu não sou um economista que correu atrás do holerite”, afirma.
Trajetória profissional
Os cursos lhe renderam um cargo como professor especializado na análise de balanços antes de se tornar auditor, quando começou, pouco antes de fazer 30 anos, a investir pensando na aposentadoria.
Tem cinco filhos, dos quais quatro são do primeiro casamento, enquanto Louise, a mais nova, e sua companheira na cruzada pela criação de uma cultura de investimento no brasileiro, é fruto de um segundo matrimônio.
Investimento em ações pagadoras de bons dividendos
Luiz Barsi é um histórico defensor do investimento em ações de empresas que pagam bons dividendos com o objetivo de obter ganhos de longo prazo. E o método se paga. Só em 2021, o investidor diz ter recebido R$ 300 milhões em proventos.
Polêmico, critica a recomendação apaixonada que influenciadores nas redes sociais fazem de uma carteira de dividendos focada em fundos imobiliários.
“Fundo imobiliário é um conto do vigário. Assim como fundos em geral. Fuja dos fundos. Você enriquece os gestores e mais ninguém com aquelas taxas de administração, de êxito e de performance. Não conheço ninguém que ganhou dinheiro com fundo além de banqueiro”, diz.
Mais do que uma filosofia de investimento, a defesa da compra direta de ações em oposição à aplicação em fundos ou ativos de renda fixa é uma cruzada pessoal. Na visão do megainvestidor, é mais seguro colocar dinheiro em papéis de empresas do que na renda fixa.
“Em 1989, o Collor, quando mudou a estrutura de moeda, caçou tudo quanto era recurso que estava na renda fixa, mas não foi atrás das ações. Se ele fizesse isso, teria estatizado todas as empresas do país. Então, ações, no meu modesto interpretar, são mais seguras e garantidas do que qualquer aplicação de renda fixa. A história diz isso.”
Método Barsi de investimentos
Confiante no seu método, Barsi pincela recomendações e análises do cenário de bolsa com críticas a economistas, banqueiros, especuladores e até à possibilidade de se venderem ações a descoberto na bolsa.
“O banqueiro não quer que você coloque o dinheiro nas ações, o que ele quer é que você seja um agiota permanentemente. Quer que você empreste o dinheiro para ele a juros de 6% ao ano, enquanto ele empresta, no cartão, a mais de 200% ao ano.”
Além da cultura de “agiota”, o bilionário critica também um instrumento corriqueiro dos mercados de ações no mundo todo: a venda a descoberto. “Há empresas que estão com mais de 13% da base acionária alugada. Não temos uma estrutura de investidores capaz de suportar uma pressão desta natureza. Isso vai fazendo com que aquele papel assuma uma condição que não é a realidade”, afirma.
Criptomoedas são outra categoria para a qual o investidor torce o nariz. Segundo ele, quem aplica nesses ativos vai perder dinheiro mais cedo ou mais tarde.
A carteira de Luiz Barsi
Barsi gosta mesmo é de ações de empresas tradicionais. Banco do Brasil, IRB Brasil, Klabin, Suzano, Unipar, Taurus Armas, Isa Cteep (antiga Transmissão Paulista), Taesa e Cemig estão na carteira. “Não compro ações para vender amanhã. Tenho ações do Banco do Brasil que comprei a R$ 0,60, tenho ações da Klabin que comprei a R$ 0,17, tenho da Suzano, que paguei em torno de R$ 2 ou R$ 3, e da Unipar, que comprei a R$ 0,25 e hoje está R$ 100”, diz.
Além dessas, Barsi montou posições novas em Auren, Vibra Energia, Cosan e Banco Mercantil. Conquanto a maioria dessas apostas esteja firmemente calcada em seu método de investir em boas pagadoras de dividendos, para Auren há um componente adicional bastante em linha com as tendências mais modernas: o apelo pela sustentabilidade ambiental.
“A Auren carrega dentro de si um componente interessante, que é continuar investindo em uma matriz energética solar. Ela já tem a matriz hídrica e é dona de uma usina grande, a Porto Primavera, que era da Cesp”, explica.
O megainvestidor diz que está animado e olhando bastante para energias renováveis. Andou de carro elétrico em Miami e se impressionou com o quão silencioso é o motor. “A Tesla vendeu mais de 350 mil carros nos Estados Unidos em 2021, então há uma tendência forte das matrizes fósseis terem menor potencial no futuro.”
Maior investidor pessoa física do BB
Mas, dentre todos esses papéis, o BB é o que pode ser chamado de paixão antiga, de quando o investidor começou a comprar ações. Assustado com a quebra de fundos de previdência privada no começo dos anos 70, e crente de que o modelo do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) era insustentável, passou a buscar uma alternativa que lhe garantisse segurança financeira na aposentadoria.
“Pensei: quem é que tem uma renda mensal digna e permanente? O empresário. Aí falei: quero ser um empresário. Mas não tinha dinheiro nenhum para isso”, relembra. “A primeira coisa que pensei era que queria ser dono do Banco do Brasil, mas nunca vou ser dono do Banco do Brasil. Percebi que poderia me tornar um pequeno dono por meio de ações.”
Hoje, Barsi comemora o fato de ser o maior acionista pessoa física do banco de economia mista. Tudo isso, segundo ele, graças à sua estratégia de religiosamente comprar mil ações por mês.
Louise Barsi, a herdeira e sucessora
Sobre seu legado, Barsi diz confiar no trabalho dele e da filha para que as pessoas invistam na geração de riqueza. O tema faz brilhar os olhos de Louise, de 26 anos, para quem a chegada da taxa Selic a 2% ao ano em um passado recente contribuiu para melhorar a cultura de investimentos do brasileiro.
“Temos que desmistificar esse conceito de que ações são um investimento muito arriscado. Só será arriscado se você não souber o que está fazendo”, afirma a sócia-fundadora do Ações Garantem Futuro (AGF).
Para Louise, este não é um trabalho que acaba do dia para a noite, mas é natural para quem aprendeu a olhar sempre para o longo prazo. “É um trabalho muito geracional. Uma geração anterior à minha começou a perceber que tem que investir no futuro, não pode contar com o INSS. Precisamos que esses frutos sejam passados às gerações seguintes.”
Barsi tem feito de Louise a sucessora de sua filosofia. Ela segue os passos do pai, mas com muito mais holofotes, numa tentativa de equilibrar o passado romântico do “value investing” e a era dos influenciadores digitais de finanças. No Instagram, a investidora mostra seu dia a dia e abre até mesmo as operações malsucedidas que fez no mercado. É o caso da aposta em Oi, objeto de um dos vídeos postados por ela.g1 > EconomiaRead More

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