RÁDIO BPA

TV BPA

Militares da Colômbia fazem reconhecimento histórico de execução de civis

Conhecidos como ‘falsos positivos’, os assassinatos de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate são o maior escândalo da história das Forças Armadas da Colômbia. Parentes de vítimas de militares da Colômbia em 26 de abril de 2022
Schneyder Mendoza / AFP
Dez militares reformados da Colômbia começaram a reconhecer diante das famílias de vítimas a execução de 100 civis que foram apresentaram como guerrilheiros mortos em combate. Isso acontece nas mesma localidades do país onde os crimes foram cometidos nos anos 2000.
Em uma audiência nesta terça-feira organizada pela Jurisdição Especial para a Paz (JEP) em Ocaña, os militares confessaram em público sua responsabilidade no desaparecimento e assassinato de 120 jovens, a maioria de origem humilde.
Cerca de 50 parentes de vítimas entraram em fila em um teatro universitário da localidade exibindo fotografias das vítimas. No palco, sentaram-se de frente para os autores e cinco juízes do tribunal, que emergiu do acordo de paz de 2016 e que irá ouvir os relatos de um general, quatro coronéis, cinco oficiais e um civil que colaborou com os crimes.
“Peço que limpem o nome de nossos parentes. Eram camponeses trabalhadores, não como os classificaram, de subversivos, guerrilheiros, bandidos”, disse Eduvina Becerra, companheira de José Ortega, agricultor que vivia a cerca de 300 km de Ocaña.
“Reconheço e aceito minha responsabilidade como co-autor”, afirmou o cabo Néstor Gutiérrez, que pediu perdão. “Assassinamos pessoas inocentes, camponeses”, e meu compromisso é “esclarecê-lo aqui, diante do mundo e do país”, disse o ex-suboficial da Brigada Móvel XV do Exército.
Militares reformados da pedem desculpas pelo escândalo dos falsos positivos, em 26 de abril de 2022
Schneyder Mendoza / AFP
Falsos positivos
Conhecidos como “falsos positivos”, os assassinatos de civis apresentados como guerrilheiros mortos em combate são o maior escândalo da história das Forças Armadas da Colômbia.
Os antigos militares e outros perpetradores do prolongado conflito colombiano respondem ante a JEP por seus crimes como parte do acordo de paz que desarmou as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2017. Aqueles que confessarem seus crimes e repararem as vítimas receberão penas alternativas à prisão.
Em detalhes
Os acusados deram detalhes de como assassinaram as vítimas, a maioria homens com idade entre 25 e 35 anos.
A JEP determinou que Ocaña foi palco de uma prática atroz, planejada em um quartel localizado na entrada da cidade, de cerca de 100.000 habitantes, e motivada por uma “política institucional do Exército de contagem de corpos” para inflar suas conquistas na luta contra a guerrilha e outros grupos armados.
“O Exército estava nos enganando, mataram nossos companheiros, irmãos, filhos”, protestou Sandra Barbosa, irmã de Javier Peñuela, que quiseram fazer passar como guerrilheiro do ELN.
O tribunal de paz identificou duas formas de “falsos positivos”. Em troca, os militares recebiam prêmios, detalhou a juíza Catalina Díaz.
Segundo o tribunal, mais de 6.400 civis foram executados entre 2002 e 2008, dos quais 402 morreram nessa zona fronteiriça com a Venezuela.
O tribunal de paz julga os piores crimes do conflito de meio século, que deixou mais de 9 milhões de vítimas, entre mortos, mutilados, sequestrados e desaparecidos. Os juízes da JEP irão determinar as penas dos ex-militares após analisarem seus depoimentos e contrastá-los com as investigações.
As vítimas terão 15 dias para se manifestar sobre as audiências, e então as sentenças serão conhecidas, informou a Justiça de paz.
Grande parte dos falsos positivos ocorreram durante a presidência de Álvaro Uribe (2002-2010). Segundo ele, trataram-se de atos isolados.
Em seu relato, os militares se disseram pressionados para mostrar resultados ante o governo.
Veja os vídeos mais assistidos do g1g1 > MundoRead More

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *