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Ucrânia celebra Páscoa ortodoxa mesmo com destruição e bombardeios

Na Rússia, Putin foi visto participando de missa na principal catedral do país. Fieis recebem bênção no povoado de Lyman com som de morteiros ao fundo
Yasuioshy Chiba/AFP
Cerca de cinquenta pessoas desafiaram as bombas, neste domingo (24), em Lyman, para receber a tradicional benção na Páscoa ortodoxa, que os ucranianos celebram em meio à tristeza e os danos causados pela invasão russa e pelos dois meses de guerra.
Em um posto militar da cidade oriental de Lyman, na frente de batalha, os soldados trocaram a habitual saudação patriótica de “Glória à Ucrânia!” por “Cristo ressuscitou!”.
“Realmente ressuscitou!”, respondem em coro.
Soldados guardam estrada perto do povoado de Lviv
AFP/Yasuyoshi Chiba
Os cristãos ortodoxos na Europa, na África e no Oriente Médio celebram a Páscoa mais tarde do que a maioria no mundo ocidental. Isso acontece porque eles usam um calendário diferente dos católicos e protestantes, por exemplo, para calcular em que dia a Páscoa deve cair.
Na pequena igreja ortodoxa de Lyman, 50 civis desafiaram o risco de possíveis disparos de morteiro para se reunirem e rezar desde o amanhecer. Os disparos da artilharia ucraniana e russa eram ouvidos durante o canto dos salmos.
Fieis desafiam os riscos da guerra para celebrar a Páscoa ortodoxa no povoado ucraniano de Lyman
Yasuioshy Chiba/AFP
“Se tomamos decisões equivocadas, a escuridão nos destruirá, como a escuridão está nos destruindo durante essa guerra”, disse o sacerdote em seu sermão.
“Estamos agradecidos pela ajuda humanitária e pela comunidade que cuida dos deslocados”, acrescentou.
Dez soldados e policiais uniformizados, alguns com coletes à prova de balas, também assistiram à missa pascoal.
Fieis participam de missa de Páscoa em Lviv, cidade no oeste da Ucrânia
Yuriy Dyachyshyn / AFP
Após a invasão russa, que hoje completa dois meses, milhares de pessoas foram mortas e milhões se viram obrigadas a abandonar suas casas.
Na cidade ocidental de Lviv, um casal vestido com suas melhores roupas entrava em uma igreja lotada, carregando a tradicional cesta de desjejum da Páscoa, coberta com uma tela bordada, para que o sacerdote a benzesse.
Mulher reza em igreja na cidade ucraniana de Slovyansk no domingo de Páscoa ortodoxa
Yasuioshy Chiba/AFP
Yuliya, de 27 anos, escutava o sermão na entrada da igreja com uma amiga.
“É uma festa que une a família. Agora, estamos em guerra e é mais importante que nunca seguir com nossas tradições”, disse, vestida com um sobretudo negro.
Soldado ucraniano descansa na cidade de Severodonetsk, no domingo de Páscoa ortodoxa
Yasuioshy Chiba/AFP
As autoridades ucranianas pediram, no sábado (23), para seguir com os serviços religiosos pela internet e para respeitar os toques de recolher noturnos.
Em uma mensagem especial de Páscoa neste domingo (24), o presidente Volodymyr Zelensky pediu para Deus “não esquecer de Bucha, Irpin, Borodianka” e outras localidades que a Ucrânia acusa as forças russas de atrocidades.
“Nossos corações estão cheios de uma ira ardente, nossas almas estão cheias de um ódio ardente contra os invasores e tudo que eles têm feito”, disse Zelensky. “Não permitam que a raiva nos destrua por dentro (…) Transformá-la em força benéfica para desfazer as forças do mal”, acrescentou.
Frente de batalha
Na frente de batalha da cidade oriental de Severodonetsk, as tropas ucranianas esconderam suas escassas reservas debaixo de uma ponte após terem sido alcançados por disparos de morteiros russos à noite.
Junto com garrafas de água e de refrigerantes, fuzis e barras de cereais, lhes esperavam três grandes pães de Páscoa cobertos por cobertura e polvilhados com açúcar de diversas cores entregues por seu comandante.
Em Sloviansk, no oeste, os fiéis se dirigiram, no sábado (23) à tarde, à catedral Aleksander Nevsky com cestas cheias de ovos decorados e pão doce.
Paisiy, um sacerdote de 34 anos, disse que havia ficado na cidade para oferecer consolo aos numerosos residentes que haviam se negado a ir embora.
“Meu trabalho é ficar. O povo tem medo e quando vem aqui e vem ao sacerdote, se sente seguro”, disse.
Vários residentes vinham receber uma benção com água benta e logo voltavam a subir em suas bicicletas e iam embora.
Ninguém ficou mais tempo do que o necessário no pátio da catedral de ladrilhos, enquanto o estrondo da artilharia ressoava ao longe.
Páscoa de Putin
Putin segura vela em missa de Páscoa na Catedral Cristo Salvador em Moscou
Reuters/Sputnik/Sergey Guneev/Kremlin
Enquanto na Ucrânia os cidadãos corriam riscos para celebrar a Páscoa, na Rússia o presidente Vladimir Putin participou de uma missa da Igreja Ortodoxa Russa, que tem apoiado fortemente a “operação militar especial” do líder do Kremlin.
Vestido com um terno azul escuro, camisa branca e gravata roxa escura, Putin apareceu na Catedral Cristo Salvador de Moscou segurando uma vela vermelha acesa, como mostraram imagens ao vivo do serviço realizado à meia-noite.
O líder russo benzeu-se várias vezes durante a cerimônia. Quando o Patriarca Kirill anunciou “Cristo ressuscitou”, Putin juntou-se aos outros membros da congregação com a resposta “Verdadeiramente ele ressuscitou”. Ele não disse mais nada.
Em um culto ao ar livre em Moscou, no sábado, Kirill disse esperar que o conflito na Ucrânia termine rapidamente, mas não condenou a invasão russa. Suas declarações apoiando a intervenção causaram desunião na Igreja Ortodoxa mundo afora.g1 > MundoRead More

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