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Contrariando pressão da China, ONU publica relatório que aponta possíveis violações de direitos humanos contra uigures e crimes contra a humanidade no país

Os uigures formam uma etnia majoritariamente muçulmana e que, na China, são uma minoria cultural, linguística e religiosa. Eles têm mais afinidades com povos de países da Ásia Central do que com os chineses do interior e da costa leste do país, que são da etnia hen. Protestos de uigures exilados em Istambul, na Turquia
Dilara Senkaya/Reuters
A Comissão de Direitos Humanos da ONU publicou nesta quarta-feira (31) um relatório em que afirma que graves violações dos direitos humanos e crimes contra a humanidade podem ter ocorrido na China contra a minoria étnica uigure.
O relatório foi publicado no último dia em que a comissária Michelle Bachelet esteve à frente da entidade.
Na conclusão, afirma-se que as violações foram cometidas pelo governo que afirmava que estava colocando em prática medidas de contraterrorismo e contra-extremismo.
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As medidas foram discriminatórias contra os uigures e outras comunidades majoritariamente muçulmanas, diz o texto.
Havia um “sistema jurídico antiterrorismo” chinês que é profundamente problemático do ponto de vista das normas e padrões internacionais de direitos humanos, afirma a comissão.
Esse sistema contém conceitos vagos e abertos, que deixam espaço para que funcionários interpretem e usem seus poderes investigativos, preventivos e coercitivos com pouca supervisão independente, e as proteções aos investigados eram limitadas.
Este quadro levou à privação arbitrária de liberdade em larga escala de uigures entre 2017 e 2019.
Entenda a situação dos uigures na China
Em 2018, uma fonte anônima entregou documentos a um investigador alemão, Adrian Zenz, que fez acusações contra o governo chinês em que afirmava que mais de um milhão de uigures haviam sido internados em centros de reeducação política.
Foi nesse momento que o assunto da perseguição aos uigures na China começou a ser abordado por veículos de imprensa, ativistas, organizações não governamentais e também governos de países do Ocidente.
O governo chinês rejeita essas afirmações e diz que as acusações são a mentira do século.
Entenda, nesse texto, os seguintes temas:
Quem são os uigures?
Onde eles se concentram na China?
Quais restrições o governo chinês impõe em Xingjiang?
Como são as campanhas de repressão?
E os campos de reeducação?
Quem são os uigures?
Os uigures formam uma etnia majoritariamente muçulmana e que, na China, são uma minoria cultural, linguística e religiosa. Eles têm mais afinidades com povos de países da Ásia Central do que com os chineses do interior e da costa leste do país, que são da etnia hen.
Onde eles se concentram na China?
Eles estão concentrados em uma das regiões mais remotas da China, Xinjiang, que fica no noroeste do país. A população chinesa em geral está mais concentrada no sudeste. Antes da revolução chinesa de 1949, houve duas tentativas frustradas de criar uma república independente lá que se chamaria Turcomenistão do Leste.
Há petróleo em Xinjiang e, por isso, é uma região estratégica.
Quais restrições o governo chinês impõe em Xinjiang?
Houve um fluxo de pessoas de etnia hen para Xinjiang, e o governo chinês tem tentado aumentar o controle da região.
Segundo o jornal “New York Times”, o regime restringe o tipo de língua que pode ser falada, a religião e a cultura, e há discriminação contra minorias, que têm mais dificuldades para conseguir empregos.
Há um histórico de confrontos entre uigures e hen: em 2009, houve conflitos na região que deixaram cerca de 200 mortos (a maioria deles era hen).
Como são as campanhas de repressão?
De acordo com o “New York Times”, a perseguição se intensificou em 2016. Naquele ano, o Partido Comunista Chinês enviou um novo governador para Xinjiang, Chen Quanguo. Esse dirigente começou a encarcerar chineses uigures e cazaques em “campos de reeducação”.
Crianças foram enviadas a internatos, e as autoridades destruíram algumas mesquitas e transformaram outras em centros turísticos.
Chen Quanguo também é acusado de ter implementado uma vigilância que incluiria equipamento digital de reconhecimento facial e controles policiais.
Há denúncias de tentativa de esterilização forçada de uigures.
E os campos de reeducação?
Há denúncias de que 1 milhão de pessoas podem ter passado pelos campos de reeducação em Xinjiang — na prática, seria um programa de detenção em massa.
Uma pessoa pode ser condenada a ir aos campos por motivos banais, como instalar alguns aplicativos de comunicação no celular ou ter alguma religião específica.
Inicialmente, o governo negou a existência dos campos de reeducação em massa. Depois, passou a chamar a detenção em massa de programas de treinamento vocacional para prevenir o terrorismo — a lógica era que ao treinar as pessoas para um emprego e ensinar chinês, as pessoas terão mais chance de conseguir um emprego.
Em 2019, o governo chinês diz que encerrou o programa e libertou a maioria dos detidos. Houve sinais de que alguns campos foram fechados e de que ocorreu a libertação de alguns detidos, mas a China aumentou as instalações de detenção na região, especialmente as prisões de alta segurança.
O número de prisões e condenações aumentou, de acordo com dados oficiais divulgados em 2019. O governo começou a transferir trabalhadores dentro da região e para outras partes da China.g1 > MundoRead More

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