Justiça de Belarus condena jornalistas acusados de criar ‘organização terrorista’
Em um julgamento a portas fechadas, sob acusação de terrorismo, a Justiça de Belarus decretou na quarta-feira (28) a prisão, com longas penas, de seis membros do grupo de defesa ao jornalismo Busly Lyatsyat (“Cegonhas Estão Voando”, em tradução literal). Ativistas de direitos humanos alegam que as sentenças têm “motivação política”. As informações são da rede Radio Free Europe.
De acordo com o centro de direitos humanos Vyasna, sediado na capital Minsk, a juíza Anastasia Papko sentenciou Andrey Buday a 15 anos, Alyaksey Hamez a 14 anos e meio, Alyaksey Ivanisau a 14 anos, Alyaksandr Muravyou e Alyaksandr Sidarenka a 12 anos cada e Mikalay Biblis a oito anos e meio de prisão. Os réus também terão de pagar pesadas multas.
Os profissionais de imprensa foram declarados culpados de fazer parte do Busly Lyatsyat, banido em Belarus em novembro do ano passado e oficialmente declarado uma organização terrorista.
Protesto contra os resultados das eleições presidenciais de Belarus, agosto de 2020 (Foto: WikiCommons)
Os seis jornalistas também foram condenados por uma série de atos: fazer parte de atividades que perturbam a ordem social, executar ato terrorista contra um funcionário do Estado, danos premeditados à propriedade privada, incitação ao ódio e pedidos públicos de sanções internacionais contra Belarus, aliada de Moscou na guerra contra a Ucrânia.
Todos foram presos entre os meses de setembro e outubro de 2021, período de intensa repressão a jornalistas independentes, políticos da oposição e ativistas de direitos após os protestos em massa no país que questionava os resultados das eleições presidenciais realizada em agosto de 2020, que novamente declarou o autoritário Alexander Lukashenko como vencedor. O mandatário está no cargo desde julho de 1994, tendo assumido logo após a dissolução da União Soviética.
Protestos violentos e desconfiança crescente ocorreram após a reeleição de 2020, pleito marcado por fortes indícios de fraude. De lá para cá, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais do pleito.
Os Estados Unidos, a União Europeia (UE) e vários outros países se recusaram a reconhecer Lukashenko como o vencedor da votação e impuseram várias rodadas de sanções a ele e seu regime, citando fraude eleitoral e repressão policial.
Por que isso importa?
Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.
O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.
Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.
O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.
No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da UE, por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.
As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.
O distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliado da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.
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