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Quem é Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina que sofreu uma tentativa de assassinato

Com mais de 30 anos de carreira política, Kirchner já foi deputada, senadora, primeira-dama e duas vezes presidente da Argentina. Atualmente enfrenta um processo por corrupção. Cristina Kirchner durante uma coletiva de imprensa em agosto de 2020
Juan Mabromata/Reuters
A ex-presidente da Argentina e atual vice, Cristina Kirchner, que sofreu uma tentativa de assassinato nesta quinta-feira (1º), divide opiniões na política do país entre aqueles que a admiram e aqueles que a repudiam.
Contra Cristina pesam mais de dez processos por corrupção e o Ministério Público da Argentina pediu uma pena de 12 anos por desvio de dinheiro ligado à contratação de obras públicas. Apesar da denúncia, milhares de apoiadores foram as ruas neste último sábado (27) em defesa da vice-presidente.
O ataque a Cristina Kirchner momento a momento
Trajetória política
Senadora de centro-esquerda desde 2017 e duas vezes presidente entre 2007 e 2015, Kirchner insistiu na reunificação da oposição peronista, que reúne várias correntes que vão da direita à esquerda, para impedir a reeleição de Maurício Macri.
Cristina se casou com Néstor quando ambos ainda eram estudantes de Direito na Universidade de La Plata. Desde então, foram vistos como um casal indissolúvel na vida pública e privada.
“Desde que conheci Néstor, nunca nos separamos. Estávamos sempre juntos”, conta ela em seu livro “Atenciosamente”.
Militantes do peronismo desde os dias de universidade, Néstor e Cristina Kirchner ficaram presos durante 17 dias em janeiro de 1976, pouco antes do golpe com o qual a última ditadura militar foi instituída (1976-1983).
Depois desse episódio, eles se concentraram no escritório de advocacia que montaram na cidade de Río Gallegos. Segundo relato dela, a empreitada teve grande sucesso e deu a ambos a base de sua fortuna, com a compra de mais de 20 propriedades na Patagônia.
Após a ditadura, começou sua carreira política. Néstor foi prefeito de Río Gallegos e depois governador de Santa Cruz. Cristina era deputada e também senadora da mesma província. Finalmente, os dois chegaram à Presidência em um plano bem delineado.
“Pensamos na necessidade de garantir um processo político virtuoso de transformação do país”, diz ela.
Durante comemoração em 2016, Cristina ergue uma foto sua com o marido falecido e ex-presidente, Nestor Kirchner
Reuters
Em 2007 substituiu seu marido na presidência da Argentina. O estilo do casal ficou conhecido como a marca “K”, a denominação por meio da qual os argentinos se referem tanto ao casal quanto a seus apoiadores, sejam ativistas, juízes, ou empresários.
Néstor Kirchner faleceu em 2010 e Cristina continuou na presidência até 2015, sendo que em 2017 foi eleita para o senado argentino.
Como companheira de chapa do atual presidente Alberto Fernández, ajudou-o a chegar ao cargo nas eleições de 2019. Contra todos prognósticos, Cristina Kirchner escolheu concorrer no cargo de vice ficar à sombra de Fernández, ex-chefe de gabinete de seu governo e de seu marido.
Protecionismo, esquerda e feminismo
Seu governo foi caracterizado por políticas protecionistas e programas de assistência social, com vários subsídios que incharam os gastos públicos.
Enfrentou setores poderosos, entre eles grandes proprietários rurais, conglomerados de mídias e instituições financeiras internacionais.
Aproximou-se dos líderes de esquerda que governavam Brasil, Equador, Bolívia e Venezuela. Cristina Kirchner, em particular, refere-se com carinho a Fidel Castro e a Hugo Chávez. Também tem uma estreita relação com o papa Francisco, ex-arcebispo de Buenos Aires.
Rigorosa crítica de Macri, recusou-se a participar da cerimônia de posse quando ele assumiu a presidência em dezembro de 2015.
Durante seu mandato, o casamento homoafetivo e uma lei de identidade de gênero foram aprovadas, tornando a Argentina pioneira neste campo na América Latina. Impediu, no entanto, o debate sobre a legalização do aborto.
Recuou em 2018, quando deu seu voto favorável, no Senado, a um projeto de lei sobre aborto. O texto acabou não sendo aprovado.
“Eu costumava ser uma pessoa que dizia ‘eu não sou feminista, sou feminina’. Que idiota! Que imensa estupidez e lugar-comum”, disse certa vez.
Filha de um motorista de ônibus e de uma dona de casa, Cristina Kirchner é a mais velha de duas irmãs. Alega sua origem na classe média baixa, embora não esconda sua preferência por marcas de luxo, ou seu gosto por viagens.
Processo por corrupção
Ministério Público argentino pede sentença de 12 anos contra vice-presidente Cristina Kirchner
O Ministério Público da Argentina pediu uma pena de 12 anos para Cristina Kirchner por corrupção ligada à contratação de obras públicas.
O julgamento, que começou em maio de 2019, investiga se houve direcionamento e superfaturamento na concessão de obras públicas na província de Santa Cruz, berço político dos Kirchner.
Para os promotores, ela e outros funcionários de seu governo favoreceram empresas de um homem chamado Lazaro Baez — muitas das obras em questão nem mesmo foram concluídas. Especialistas suspeitam que uma parte do dinheiro supostamente desviado teria retornado às mãos da família Kirchner.
Se a Justiça confirmar a punição, também pode retirar os direitos políticos de Cristina. O Código Penal do país estabelece que quem for condenado por esses crimes será inabilitado para o exercício de cargos públicos.
“Esta é provavelmente a maior manobra de corrupção já conhecida no país”, disse o promotor Diego Luciani ao defender a sentença.
Uma carta pública assinada por mais de 500 prefeitos expressou apoio a Kirchner, a quem consideram “vítima de perseguição judicial”. Os deputados da governista Frente de Todos também divulgaram uma declaração de apoio a Kirchner, bem como um pedido publicado na imprensa com a assinatura de grandes figuras políticas e culturais.
A vice-presidente conseguiu superar vários processos, rejeitados, por supostos crimes ocorridos em seus dois mandatos presidenciais (2007-2015), mas ainda enfrenta cinco julgamentos.
A vice-presidente argentina Cristina Kirchner cumprimentou apoiadores reunidos do lado de fora do Congresso Nacional no dia 24 de agosto de 2022
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