Empreendedorismo feminino: com renda menor que homens, mulheres abandonaram mais seus negócios
Estudo do Sebrae mostra como a crise econômica dos últimos anos impactou de modo mais forte mulheres que geriam seus próprios negócios. A deterioração da economia, acentuada pelas consequências da pandemia do Covid-19, surtiu um efeito colateral negativo para o empreendedorismo feminino no Brasil: as mulheres abandonaram mais seus negócios e tiveram renda menor que os homens nos últimos quatro anos.
Os dados são de um estudo do Sebrae feito a partir de um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor. Entre 2018 e 2021, o país registrou uma diminuição grande no número geral de empreendedores. Mas, entre as mulheres, a queda foi quase o dobro da registrada entre os homens:
em 2018, 41,7% dos homens tinha negócio próprio. Em 2021, essa taxa caiu para 36,5%;
já a proporção de mulheres empreendedoras era de 34,4% em 2018. Em 2021, passou para 24,6%.
Segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, a dupla jornada (com uma maior carga de responsabilidades em casa e cuidados com filhos e pessoas idosas) contribuiu para que as empreendedoras não conseguissem manter seus negócios em atividade.
Além disso, a situação econômica de quem os manteve piorou no período analisado. A renda obtida a partir do próprio negócio melhorou para todos, mas com maior força para homens, o que aumentou a diferença de remuneração ente os gêneros.
Em 2018, a proporção de quem recebia mais de 3 salários mínimos era 29% para mulheres e 36% para homens.
Em 2021, aumentou para 46% a proporção de mulheres que ganhavam este valor. Entre os homens, a proporção saltou para 65%.
Logo, o que era uma diferença de 7 pontos percentuais se transformou em 19.
Difere também o papel que esse negócio cumpre para cada gênero. Enquanto a maioria dos homens empreendeu porque teve uma boa oportunidade, a maioria das mulheres o fez por necessidade.
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História por trás dos números
Fabiane Barroso precisou fechar sua loja em 2021
Arquivo pessoal
Fabiane Barroso tem 41 anos e é mãe de duas crianças, de 2 e 4 anos. Depois de trabalhar com marketing por quase duas décadas, ela abriu uma confecção de moda infantil autoral, a Dona Travessura, em 2018. Fabiane cuidava sozinha de criação, modelagem e organização das coleções.
“Fiquei com a loja por quatro anos. Os dois primeiros foram muito bons, mas veio a pandemia e a coisa degringolou. Com a inflação, o custo da matéria-prima subiu. E com o problema de importação de algodão, também vivemos escassez.”
Assim, ela viu o caixa apertar cada vez mais. “Eu não tinha incentivo e suporte financeiro do estado. Aí chegou um momento em que ficou mais caro produzir e trabalhar do que ficar em casa sem fazer nada. Não valia mais a pena. Eu não podia colocar, nos meus produtos, os custos de produção e matéria-prima, então se tornou inviável seguir”, ela conta.
Em fevereiro deste ano, Fabiane fechou a empresa, mas ainda não conseguiu recuperar parte do dinheiro investido. “Fiquei com uma parte do estoque que não consegui vender na queima. Encerrei em fevereiro, mas ainda tenho 15% das peças”, diz.
Mas há avanços no mundo empresarial
Apesar da sub-representatividade no empreendedorismo, as mulheres ocupam um espaço um pouco maior entre as lideranças empresariais, segundo o Serasa Experian.
Um levantamento feito por eles com as mais de 20 milhões de empresas ativas no país mostrou que 4 em cada 10 empresas no Brasil têm mulheres como donas ou sócias majoritárias. Elas são maioria, sobretudo, nas empesas mais novas, com até 2 anos de atuação.
O levantamento mostrou ainda que as mulheres começam a empreender mais cedo que homens e têm um bom histórico de pagamento como pessoa física. Mas, quando se trata da pessoa jurídica, o score ainda é muito baixo.
Os setores em que elas mais atuam são comércio de confecções e serviços de higiene, beleza e alimentação.g1 > EconomiaRead More