Núcleo da inteligência russa na Irlanda tem dois espiões presos, um deles no Brasil
Dois possíveis agentes da inteligência russa que fizeram parte da formação profissional na Irlanda foram presos nos últimos dias, um deles no Brasil. Sergey Vladimirovich Cherkasov, que havia sido detido em Haia, na Holanda, em junho de 2022, agora cumpre pena na capital federal. O jornal Folha de S. Paulo revelou na sexta-feira (24) que uma operação sigilosa foi realizada para levá-lo à Penitenciária Federal de Brasília. O outro caso ocorreu na Austrália, protagonizado pela cazaque-irlandesa Marina Sologub.
Cherkasov, de 36 anos, usou um documento falso para se passar por Viktor Muller Ferreira, um suposto cidadão brasileiro. Então, viajou do Brasil à Holanda e lá se candidatou a um estágio no TPI (Tribunal Penal Internacional), onde planejava acessar informações sigilosas sobre casos referentes a crimes de guerra cometidos pelas tropas russas na Ucrânia e na Geórgia.
Congresso Nacional, em Brasília: espião russo cumpre pena na capital federal (Foto: Agência Senado/Flickr)
Após ter sido detido, o espião foi deportado para o Brasil e desde então estava preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em São Paulo. Por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), foi transferido para o presídio de segurança máxima em Brasília em uma data incerta, entre os últimos dias de 2022 e os primeiros de 2023. A suspeita é de que ele seja agente do GRU, o serviço de inteligência militar russo.
Agora, uma investigação vem sendo conduzida no Brasil para determinar se ele atuou em território nacional, tendo alguma autoridade ou instituição brasileira como alvo. Como as missões desempenhadas por Cherkasov são sensíveis aos interesses de Moscou, a questão vem sendo tratado com máximo sigilo. O governo da Rússia chegou a pedir a extradição dele, negada pela Justiça brasileira.
Quando o russo foi detido, Erik Akerboom, chefe da inteligência holandesa, disse que a missão de Cherkasov no TPI era parte de um plano “de longo prazo e de vários anos que custou [à Rússia] muito tempo, energia e dinheiro”, segundo a revista de relações internacionais The National Interest.
“A operação nos mostra claramente o que os russos estão fazendo: tentando obter acesso ilegal a informações dentro do TPI. Classificamos isso como uma ameaça de alto nível”, disse Akerboom.
Russa presa na Austrália
Cherkasov estudou entre 2014 e 2018 no Trinity College de Dublin, a capital irlandesa. Nesse mesmo país europeu vivia, desde a infância, Marina Sologub, nascida na ex-república soviética do Cazaquistão e presa na Austrália na semana passada igualmente acusada de servir à inteligência de Moscou. Ela ocupou funções delicadas tanto na Irlanda quanto na Austrália, e ainda não se sabe o alcance da possível atuação dela como espiã.
De acordo com o site irlandês Extra.ie, Sologub tentou fazer contato com autoridades estaduais e federais australianas, sobretudo no setor aeroespacial, e sempre se vangloriou de manter bons contatos dentro do governo russo. Ela vivia no país da Oceania graças a um visto de talentos distintos, que foi cancelado sob a justificativa de que agora a suposta espiã é uma ameaça “direta e indireta” à segurança nacional.
Consta da acusação que ela mantinha contato frequente com os serviços consulares russos, que nos últimos anos têm sido acusados por diversos países de abrigar espiões.
Em julho do ano passado, Richard Moore, chefe da agência de espionagem britânica SIS (Serviço Secreto de Inteligência, da sigla em inglês), o popular MI6, destacou que “cerca de 400 oficiais de inteligência russos operando sob cobertura diplomática” foram expulsos por países europeus.
No caso de Sologub, não está claro se ela atuou como espiã também na Irlanda, onde ocupou cargos no governo. No currículo profissional, alega ter trabalhado em agência aeroespaciais tanto irlandesas como australianas e diz que atuou também no Parlamento da Irlanda, como estagiária e assistente parlamentar.
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