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Kissinger apoiou ditaduras e trabalhou para transformar Brasil em aliado dos EUA na Guerra Fria

Kissinger apoiou ditaduras e trabalhou para transformar Brasil em aliado dos EUA na Guerra Fria

 Em documento da década de 1970 enviado a Kissinger, governo norte-americano revelou que Geisel autorizou a execução de opositores enquanto era presidente do Brasil. Henry Kissinger em foto feita em janeiro de 2012, na China
REUTERS/David Gray
O ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, morto aos 100 anos nesta quarta-feira (29), apoiou ditaduras em países da América do Sul e trabalhou para transformar o Brasil em um aliado na Guerra Fria, durante a década de 1970.
O livro “Kissinger e o Brasil”, do professor Matias Spektor, expõe que o secretário norte-americano criou canais secretos de comunicação com o governo brasileiro.
Os canais foram responsáveis por formalizar uma política de consultas oficiais entre o governo do Brasil e dos Estados Unidos, para evitar conflitos, segundo o pesquisador.
Um memorando de 1974 elaborado pelo então diretor da CIA e enviado a Kissinger, por exemplo, revelou que o general Ernesto Geisel autorizou a execução de opositores enquanto era presidente.
O documento foi tornado público pelo governo norte-americano em 2018. O memorando cita ainda que os militares afirmaram que o Brasil não poderia ignorar a “ameaça terrorista e subversiva”, e que os métodos “extralegais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos”.
As execuções, de acordo com o documento, deveriam ser aprovadas pelo general João Baptista Figueiredo, que acabou sucedendo Geisel na presidência.
Já em fevereiro de 1976, em um encontro entre Kissinger, Geisel e outras autoridades brasileiras, no Palácio no Planalto, o presidente brasileiro disse que processo de redemocratização não poderia ser feito de forma rápida.
Kissinger, então, respondeu: “Vocês não sofrerão pressão dos Estados Unidos”.
Influência
O norte-americano era um praticante da “realpolitik”, um tipo de diplomacia que foca em alcançar objetivos práticos em vez de promover ideais. A abordagem é criticada por ser considerada muitas vezes coercitiva e imoral.
No caso de Kissinger, apoiadores dizem que suas ações pragmáticas serviam aos interesses dos EUA. Já os críticos viam uma abordagem maquiavélica que ia contra os ideais democráticos.
No Chile, por exemplo, Kissinger e o então presidente Richard Nixon atuaram diretamente na ascenção do ditador Augusto Pinochet.
Comentários registrados em fitas magnéticas, revelados em 2013, mostram que Nixon queria a queda do então presidente Salvador Allende. Os Estados Unidos, então, auxiliaram militares chilienos para criar instabilidades no país.
Em 1973, após a queda de Allende, Kissinger disse que por mais desagradáveis que fossem os atos de Pinochet, o governo dele era melhor do que o do presidente anterior.
A ditadura de Pinochet, que acabou em 1990, deixou mais de 3 mil mortos e foi responsável pela prisão e tortura de 38 mil pessoas.
Já na Argentina, documentos revelados pelos Estados Unidos em 2002 indicam que Kissinger aprovava repressões a opositores. “Se há coisas que precisam ser feitas, vocês devem fazê-las rapidamente”, disse ele a um ministro do governo argentino, em 1976.
Apoio ao programa nuclear do Brasil
Na década de 1970, Kissinger contrariou figuras relevantes do Congresso, do Departamento de Estado e da Agência de Controle de Armas e Desarmamento dos EUA ao apoiar o programa nuclear do Brasil.
Ele argumentou que o país era um dos pilares da política norte-americana na América Latina e que apoiar o governo brasileiro era importante para manter a aliança entre as nações.
Além disso, Kissinger apontou para os interesses econômicos de empresas dos EUA em explorar a indústria nuclear no Brasil.
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